No início de 2024, Laura Maria de Oliveira, uma diarista de 59 anos, tinha grandes expectativas após conseguir um emprego formal como empregada doméstica. Em um dia comum, ao sair de Cascadura rumo à Tijuca no Rio de Janeiro, optou por um serviço de moto para economizar tempo. A escolha, no entanto, representou um destino trágico: um carro trocou de faixa e colidiu com a moto, levando Laura a um estado crítico, que resultou em uma longa internação e dores contínuas que ainda a impedem de voltar ao trabalho.
Laura relata: “Eu perdi a consciência ao ver o carro se aproximando. A sorte foi o trânsito estar parado, mas o motoqueiro estava correndo.” Essa experiência não apenas transformou sua vida, mas também evidenciou um problema maior: a crescente movimentação de motocicletas nas cidades, marcada por riscos significativos.
Segundo Victor Pavarino, especialista em segurança viária da Opas, “a popularização das motos é um reflexo de um sistema de mobilidade falho, que prioriza o automóvel e marginaliza alternativas para pessoas de menor renda.”
O uso de motos cresce em decorrência da escassez de opções de transporte público confiáveis, especialmente em áreas carentes. Famílias de baixa renda veem nas motocicletas uma alternativa acessível, mesmo que arriscada diante das ameaças à segurança no trânsito. Com uma frota de motos que cresceu 42% entre 2015 e 2024, a situação se torna alarmante: a cada três mortes no trânsito, uma envolve uma motocicleta.
As estatísticas são alarmantes: as mortes em acidentes com motos passaram de 11.182 em 2019 para 13.477 em 2023. Nos estados em que as motos superam os carros, as fatalidades são ainda mais graves. Por exemplo, no Piauí, quase 70% das mortes no trânsito são atribuídas a colidir com motos.
“É um ciclo social complexo. O crescimento do uso de motos está ligado a questões econômicas, de transporte e de saúde pública,” enfatiza Pavarino.
Diante dessa realidade, é urgente que soluções estruturais sejam implementadas, como a melhoria do transporte público e medidas de segurança imediatas, como fiscalização rigorosa, uso de capacetes adequados e treinamentos para motociclistas. O especialista destaca que sem intervenções, estamos apenas prolongando uma epidemia de acidentes que está custando vidas e recursos valiosos do Sistema Único de Saúde.
A mensagem é clara: precisamos urgentemente de um debate mais profundo sobre a mobilidade urbana e segurança no trânsito. Como você vê a situação das motocicletas em sua cidade? Compartilhe suas experiências e ideias nos comentários!