
A crescente popularidade dos serviços de mototáxi por aplicativos é vista como um perigo iminente nas ruas do Brasil. Erivelton Guedes, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e especialista em engenharia de transporte, manifesta sua preocupação em relação aos riscos envolvidos. Ele enfatiza que, embora regulamentações possam surgir, elas podem criar uma falsa sensação de segurança, em um cenário onde as mortes no trânsito já são alarmantemente altas.
“Qualquer regulamentação vai acabar incentivando e, talvez, dando a falsa impressão de que, seguindo aquele monte de regras, vai dar certo. É uma tragédia anunciada”, observa Guedes, refletindo seu pessimismo sobre a evolução dessa situação.
Desde o lançamento do Uber Moto em 2020, o serviço já atendeu a cerca de 20 milhões de brasileiros, utilizando 800 mil motociclistas. Com a instalação do 99Moto em 2022, mais de 1 bilhão de viagens já foram realizadas. Essa crescente adesão traz à tona questões sobre segurança, especialmente considerando que, em 2023, o número de mortes em acidentes de moto aumentou significativamente. Guedes menciona que motos representavam uma em cada três mortes no trânsito brasileiro.
“Os passageiros estão muito mais expostos ao perigo do que os próprios motociclistas. O motociclista tem uma ideia do que está acontecendo, enquanto o passageiro pode ser pego de surpresa em caso de um acidente”, alerta ele. A falta de proteção adequada para ambos os lados é alarmante, uma vez que muitos passageiros não utilizam vestimentas apropriadas, o que aumenta o risco de lesões severas.
De acordo com Antonio Meira Júnior, presidente da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), a probabilidade de morte em um acidente de moto é 17 vezes maior do que em um carro. Ele destaca a necessidade urgente de estudar as consequências sociais e de saúde coletiva geradas pela popularidade desse modo de transporte. Motociclistas e suas caronas não dispõem de qualquer proteção em caso de impacto, resultando em lesões severas e frequentemente fatais.
“O impacto social é imensurável, pois a maioria das vítimas acaba com sequelas permanentes que transformam suas vidas, resultando em dependência e mudança de estilo de vida para toda a família”, lamenta Meira Júnior.
Um exemplo impactante é o de Erika Rogatti, uma assistente social que sofreu uma queda enquanto utilizava um serviço de mototáxi. O acidente, aparentemente simples, levou a complicações de saúde e afastamento do trabalho por mais de 20 dias. Mesmo com as dores persistentes, Erika continua a usar o aplicativo, refletindo a realidade de muitos que dependem desse meio de transporte.
Glaydston Ribeiro, professor na UFRJ, observa que a infraestrutura urbana precária, que prioriza o transporte motorizado individual em detrimento de um transporte público de qualidade, força muitos a se arriscarem nas motocicletas. Ele argumenta que a proibição dos serviços de mototáxi penalizaria os mais vulneráveis, sendo crucial buscar alternativas de mobilidade.
A Uber, em resposta a essas preocupações, afirma que a segurança é uma de suas prioridades e que implementa diversas medidas, como verificação de identidade dos motociclistas e seguros para passageiros. De igual forma, a 99 se posiciona acerca de seus baixos índices de acidentes, sugerindo que o problema dos acidentes com motos não pode ser atribuído apenas a seus serviços.
É inegável que a discussão sobre o futuro do mototáxi por aplicativos no Brasil é complexa e repleta de nuances. As vozes de especialistas e usuários retratam a fragilidade desse sistema e a urgência de ações mais eficazes. E você, o que pensa sobre essa realidade? Compartilhe suas opiniões nos comentários!