A Polícia Federal (PF) entregou ao Supremo Tribunal Federal (STF), na última quarta-feira (12), o relatório final da investigação sobre a chamada “Abin paralela”, apontando o uso indevido da Agência Brasileira de Inteligência durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). O documento resultou no indiciamento de 36 pessoas, incluindo o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da agência, e o atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa.
Embora o nome de Jair Bolsonaro conste no relatório com indícios de envolvimento em condutas criminosas, a PF não o indiciou por já ter sido formalmente apontado como integrante de organização criminosa em outro inquérito. A corporação, no entanto, avalia apresentar relatórios complementares que podem incluir novos indiciamentos.
A investigação foi aberta em março de 2023, já sob o governo Lula (PT), e apura o uso do software espião FirstMile para monitorar ilegalmente opositores, jornalistas, ministros do STF e até aliados do então governo. O esquema teria como finalidade proteger judicialmente os filhos do ex-presidente, atacar a credibilidade do sistema eleitoral e disseminar desinformação.
A PF afirma que Carlos Bolsonaro fazia parte do núcleo político da “Abin paralela” e se beneficiava diretamente de informações sigilosas. Um dos indícios é a marcação do vereador em publicações falsas contra o senador Alessandro Vieira (MDB-SE), detectadas na quarta fase da operação, deflagrada em julho de 2024.
Carlos Bolsonaro usou as redes sociais para reagir. “Alguém tinha alguma dúvida que a PF do Lula faria isso comigo? Justificativa? Creio que os senhores já sabem: eleições em 2026? Acho que não! É só coincidência!”, escreveu no X (antigo Twitter).
O relatório aponta também que a estrutura da Abin teria sido deliberadamente manipulada. Entre os atos questionados estão a formatação de computadores utilizados durante a gestão anterior, autorizada pela atual direção da agência. A PF considera a ação um indício de tentativa de obstrução da investigação.
A suposta rede de espionagem teria atingido figuras centrais do Judiciário, como os ministros do STF Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Dias Toffoli. No Legislativo, foram identificados como alvos o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o ex-presidente Rodrigo Maia.
Entre os jornalistas monitorados, estão Mônica Bergamo (Folha), Vera Magalhães (O Globo), Luiza Bandeira (DFRLab) e Pedro Cesar Batista (ligado ao Comitê Anti-imperialista General Abreu e Lima).
O Ministério Público ainda vai analisar o material reunido para decidir se apresenta denúncia ao STF, solicita diligências adicionais ou arquiva o caso. A Abin nega as acusações, afirma ter colaborado com o inquérito e considera que a PF agiu com viés político ao incluir a atual direção no rol de indiciados. Internamente, a agência avalia que o movimento visa forçar mudanças no comando da instituição.