Desde 2003, Fernando Henrique dos Santos, um homem de 42 anos, enfrenta uma batalha dolorosa contra as fortes dores nas costas que o desafiam diariamente. Em 2018, um diagnóstico de artrite reumatoide alterou seu mundo, mas, em 2023, a realidade mudou novamente: agora, ele é portador de espondilite anquilosante, uma condição que compromete sua coluna vertebral.
Para lidar com essa condição debilitante, Santos precisa de um medicamento chamado infliximabe, que é aplicado a cada oito semanas por meio de infusões. Embora consiga o tratamento gratuitamente em sua cidade, a situação é mais complexa do que parece. Residente de Guarulhos, na Grande São Paulo, ele é obrigado a viajar até Mogi das Cruzes para a aplicação do remédio, uma logística complicada que piorou após o rompimento do contrato entre o laboratório fabricante e o governo estadual.
“A infusão precisa ser administrada por uma equipe especializada,” explica Santos, que agora utiliza seu convênio médico em uma clínica na atmosfera agitada da zona leste de São Paulo. Embora tenha flexibilidade para se deslocar enquanto está afastado do trabalho, a verdadeira dificuldade reside na incapacidade de realizar seu tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
A Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) enfatiza que a ausência de centros de infusão no SUS e a falta de protocolos adequados para a administração de medicamentos podem comprometer o tratamento de doenças crônicas autoimunes. Durante o Congresso Brasileiro de Reumatologia, o Dr. Vander Fernandes, coordenador da Comissão de Centros de Terapia Assistida da SBR, destacou um “vazio sistemático” entre o fornecimento de medicamentos e a assistência necessária para sua aplicação seguras.
Medicamentos de alto custo, como os biotecnológicos, são oferecidos gratuitamente pelo SUS, mas sua aplicação requer não apenas a medicação, mas um ambiente controlado, com atenção rigorosa na manipulação e no armazenamento. “O SUS incorporou essa tecnologia há mais de 25 anos, mas caiu em um erro: considerou apenas a entrega do medicamento e desconsiderou as condições de aplicação,” ressaltou Fernandes.
Essa falha crítica significa que muitos pacientes se vêem desamparados, com medicamentos em mãos, mas sem locais adequados para a infusão. A eficácia e segurança desses tratamentos não são garantidas sem estas condições adequadas. “Alguns remédios precisam ser armazenados em temperaturas específicas; caso contrário, podem perder sua qualidade,” alerta o especialista.
Para investigar a situação, a Sociedade Brasileira de Reumatologia revelou que há apenas 61 centros de terapia assistida no Brasil, a maioria no setor privado e concentrada na Região Sudeste. Apesar de atenderem tanto o setor privado quanto o público, apenas 11 desses centros têm contrato com o SUS, o que significa que cerca de 20 mil pacientes dependem de assistência especializada para tratamentos imunobiológicos.
Uma pesquisa recente realizada pela Biored Brasil com 761 pacientes revelou que 10% deles não têm acesso à aplicação do medicamento e 46% não têm um centro de terapia assistida nas proximidades. Além disso, 55% enfrentam custos entre R$ 150 e R$ 200 por aplicação, impactando severamente suas rendas familiares.
Procurado pela Agência Brasil, o Ministério da Saúde informou que está estudando a criação de novos centros de terapia intensiva. Essa iniciativa, embora vital, ainda está na fase técnica de avaliação.
Este cenário exige ação imediata e conscientização. O que você acha sobre a situação dos pacientes que precisam de tratamentos complexos? Compartilhe suas opiniões e ajude a fomentar a discussão.