O tempo de espera por um transplante de córnea no Brasil atingiu um novo patamar, com média de 374 dias, mais que o dobro dos 174 dias registrados há uma década. Esta preocupante realidade, que se reflete em números do Sistema Nacional de Transplantes (SNT) entre 2015 e 2024, indica uma escalada que preocupa a comunidade médica.
O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) recentemente destacou que, apenas nos seis primeiros meses de 2024, a média já era de 369 dias. Segundo a entidade, esses dados são resultado de uma ponderação que considera a média nacional de procedimentos realizados, e não apenas a aritmética simples de cada estado.
Durante o 69º Congresso Brasileiro de Oftalmologia em Curitiba, o CBO externou suas preocupações sobre o crescimento contínuo da fila. Entre as causas mencionadas estão a falta de reajustes nos valores financeiros dos procedimentos e o impacto prolongado da pandemia de covid-19, que represou uma quantidade significativa de pacientes entre 2020 e 2023.
“Além de repasses congelados durante anos e a repercussão do coronavírus na regulação do sistema de saúde, os especialistas apontam a necessidade de contornar o problema enfrentado pelos bancos de olhos para sua manutenção frente aos custos dos insumos cotados em dólar”, destacou o CBO.
Outro fator alarmante é o aumento das exigências nas fases de produção e processamento de córneas, como a necessidade de uma gestão de qualidade mais rigorosa. Isso gera um cenário desafiador, pois os bancos de olhos continuam recebendo os mesmos valores de uma década atrás, apesar do aumento de requisitos legais.
O panorama varia significativamente entre os estados. Em 2024, regiões como Acre, Alagoas e Rio Grande do Norte relataram filas superiores a mil dias, com o Rio de Janeiro alcançando impressionantes 1.424 dias de espera. Enquanto isso, estados como Ceará (58 dias) e Santa Catarina (164 dias) mostraram resultados positivos, classificados como “boas práticas” pelo CBO.
“Apesar de preocupantes, os especialistas do CBO ressaltam que o Brasil, em termos gerais, permanece muito bem avaliado em nível internacional, com desempenho compatível ao de países como Canadá, Austrália e diversas nações europeias”, afirmaram os especialistas.
Em um levantamento mais detalhado, até julho de 2025, o Brasil tinha 31.240 pacientes na fila por um transplante de córnea. São Paulo se destacava com 6.617 inscritos, seguido pelo Rio de Janeiro e Minas Gerais. Curiosamente, as mulheres constituem a maioria (55,7%) enquanto quase metade dos pacientes (47%) têm 65 anos ou mais, refletindo o envelhecimento da população e o aumento das doenças degenerativas.
Mesmo os jovens estão na lista: 17% dos pacientes à espera de um transplante têm entre 18 e 34 anos, principalmente devido ao ceratocone, uma condição que afeta a estrutura da córnea. Ademais, há 458 crianças e adolescentes nessa situação.
Apesar dos desafios, o CBO registra um número positivo de transplantes realizados, totalizando 150.376 cirurgias entre janeiro de 2015 e julho de 2025. São Paulo se destacou com 52.913 procedimentos, seguido pelo Ceará e outros estados, enquanto Acre, Tocantins e Alagoas apresentaram números preocupantes.
O cenário é crítico, mas a esperança reside em uma mobilização coletiva que incentive a melhoria do sistema. Estamos todos na torcida por um futuro onde cada paciente receba a atenção e o tratamento que merece. O que você acha sobre essa situação? Compartilhe sua opinião nos comentários!