25 outubro, 2025
sábado, 25 outubro, 2025

Vacinação despenca na Maré em dias de operação policial, aponta Unicef

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Em meio a operações policiais no Conjunto de Favelas da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro, o que poderia ser um dia normal de vacinação se transforma em um desafio. Uma pesquisa realizada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela organização Redes da Maré revela que, mesmo com as unidades de saúde abertas, a vacinação de crianças até 6 anos despenca drasticamente durante essas operações. A complexidade da situação não só impacta as crianças, mas reflete uma realidade de medo e insegurança que afeta toda a comunidade.

Em 2024, as forças de segurança conduziram operações em 43 dias dentro da comunidade. Esses confrontos forçaram o fechamento de pelo menos uma unidade de saúde em 22 deles. O resultado? Apenas nove crianças foram vacinadas em dias de operação, uma queda alarmante de 90% em relação à média de 89 crianças imunizadas em dias normais. Essa redução se estende também ao total de doses aplicadas: a média diária despencou de 187 para apenas 20.

Os dados do primeiro semestre deste ano corroboram essa triste realidade. Em 2025, a média de vacinas administradas em dias normais era de 176,7, envolvendo 76 crianças. Já nos dias de operações policiais, essa média caiu para 21,1 doses, com meras 11 crianças imunizadas. Mesmo quando as unidades de saúde conseguiram operar, a vacinação ainda assim reduziu em 82%, evidenciando um efeito indireto das operações, que gera uma “atmosfera de medo” que limita o acesso da população à saúde.

A Maré é um dos maiores conjuntos de favelas do Brasil, com 15 favelas e cerca de 125 mil habitantes. Com mais da metade da população abaixo dos 30 anos e 12,4% constituída por crianças de 0 a 6 anos, a comunidade conta com seis unidades de saúde que oferecem vacinas do Sistema Único de Saúde. A chefe do escritório do Unicef no Rio de Janeiro, Flávia Antunes, levanta uma questão crucial: a política de segurança atual negligencia a infância, tornando-se um determinante social que restringe o direito à saúde.

Flávia alerta para o risco que essa situação traz à comunidade: “A imunidade de rebanho é essencial para proteger não apenas as crianças vacinadas, mas também os recém-nascidos e aqueles que não podem ser vacinados.” Quando a imunidade coletiva é comprometida, o resultado é uma maior circulação de agentes infecciosos, aumentando o risco de surtos.

Carolina Dias, coordenadora do eixo Direito à Saúde da Redes da Maré, destaca que essa situação acentua a desigualdade que aflige as comunidades periféricas. “Quando a segurança se sobrepõe à saúde, negamos direitos fundamentais aos moradores”, afirma. A falta de acesso à vacinação é uma questão crítica, que pode ter repercussões devastadoras.

A diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabela Ballalai, enfatiza a importância de não perder oportunidades de vacinação. “Uma oportunidade perdida pode significar que uma criança nunca mais será vacinada.” O impacto das doenças evitáveis é real e perigoso. Quando a vacinação diminui, regiões inteiras podem se tornar vulneráveis a surtos, como o sarampo.

O Unicef e a Redes da Maré propõem soluções para mitigar os danos. Pedem a proteção das unidades de saúde e a consideração do impacto da segurança no planejamento das operações. As recomendações incluem a vacinação em locais alternativos, como escolas e centros de assistência, e um esforço ativo para alcançar as crianças que estão com a vacinação atrasada.

Por fim, é essencial que a presença do Estado nessas áreas seja aprimorada e esteja ligada a um planejamento eficaz. Flávia Antunes conclui: “É necessário acabar com o falso dilema de que a polícia deve atuar de forma violenta ou não atuar.” O acesso à saúde deve ser tratado como prioridade, refletindo um compromisso genuíno com a vida e o bem-estar das comunidades.

Como você vê a situação da vacinação em áreas vulneráveis? Deixe sua opinião nos comentários e compartilhe suas experiências. A sua voz pode fazer a diferença!

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