18 julho, 2025
sexta-feira, 18 julho, 2025

“Morreu por ser preto”, diz irmã de policial civil baleado pela Rota

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Para a família, o racismo influenciou na morte do investigador Rafael Moura, da 3ª Seccional da Polícia Civil de São Paulo. Ele foi baleado, na última sexta-feira (11/7), pelo sargento das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) Marcus Augusto Costa Mendes, que continua na ativa.

“O meu irmão morreu porque era preto. Estava de moletom e boné, mas não estava descaracterizado. Ele estava com a identificação dele no peito”, detalha Renata Moura.

O investigador, que atuava na Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco), foi atingido em uma viela no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo.

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O policial civil Rafael Moura

Imagem cedida ao Metrópoles

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Rafael Moura

Reprodução

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Rafael Moura

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Pedido por justiça

Segundo a irmã, Rafael Moura tinha o sonho de ser policial desde pequeno. “Ele conseguiu realizar e também tinha um sonho de ser delegado”, conta. Agora, resta o sentimento de indignação e o pedido por justiça.

“O policial da Rota atirou pra matar meu irmão. Ele deixou três filhos pequenos e esposa. Meu pai, que já é um senhor de idade, está arrasado. Estamos todos arrasados”, lamenta. “A gente jamais imaginou que ele seria morto por um outro colega da mesma profissão.”

A família solicita acesso aos registros da câmera corporal de Marcus Mendes, da Rota. As imagens já foram disponibilizadas pela Polícia Militar (PM) para inquérito aberto pela Polícia Civil.

“A conduta [de Marcus] foi errada como policial. Todo mundo quer ver essas imagens, já que ele fala que foi legitima defesa. Todo mundo quer ver, porque ele está na rua”, aponta a irmã de Rafael.


Dinâmica da ação que matou o policial

  • Agentes da Polícia Civil estavam em diligências no Capão Redondo, com viatura da corporação e distintivo.
  • Mesmo com a identificação, em uma viela, policiais da Rota viram os agentes e, acreditando se tratar de traficantes, atiraram.
  • Os agentes, alvos dos disparos, tentaram alertar que eram policiais. Apesar dos avisos, foram baleados.
  • Um dos policiais civis, identificado como Rafael Moura, de 38 anos, foi atingido com três tiros: um no braço, e dois no abdômen.
  • Em estado grave, ele foi encaminhado ao Hospital das Clínicas, onde passou por cirurgia e morreu nesta quarta-feira (16/7).
  • O outro policial civil foi atingido de raspão, atendido no Hospital Campo Limpo e liberado.
  • Policiais civis ouvidos pelo Metrópoles disseram que estão revoltados com o caso.

“Entrou para matar”

Um policial, que prefere não se identificar, disse ao Metrópoles que conhece bem a região onde Mendes atirou contra os policiais civis, por já ter trabalhado no território. De acordo com ele, a conduta era desnecessária, já que não costuma haver criminosos armados no local.

Para o agente, Mendes estaria tentando provar que merece o posto na Rota. Afinal, chegou há pouco tempo na corporação. “Quer fazer nome e mostrar por que foi para a Rota”, avaliou.

Um mês antes da ocorrência que matou Moura, o sargento da PM se envolveu em outra ocorrência a 500 metros do local. Essa, no entanto, resultou em homicídio. A vítima foi um homem ainda não identificado, que, segundo a versão dos PMs, estaria segurando uma arma de fogo.

Inquérito

A Polícia Civil diz ter instaurado um inquérito para apurar se o sargento agiu de forma desproporcional, mas não mencionou a possibilidade de afastamento do agente.

De acordo com o delegado Antonio Givanni Neto, em um primeiro momento, o caso é tratado como legítima defesa putativa, ou seja, quando alguém, de forma equivocada, acredita estar sob injusta agressão e age como se estivesse em legítima defesa. Segundo a autoridade policial, não é possível determinar se houve excesso.

“Sendo assim, decide esta Autoridade Policial pela apuração investigativa em profundidade, eis que a dinâmica dos fatos, num juízo cognitivo sumário carece dessa apuração. O inquérito policial será instaurado”, diz o delegado no boletim de ocorrência.

“[…] O inquérito policial instaurado poderá, com a profundidade que trará os elementos de informação e as provas cautelares, não receptíveis e antecipadas, revelar a ausência ou a presença dos elementos de culpa e se o erro era evitável ou não”, acrescenta Antonio Giovanni Neto.

Segundo o delegado, as imagens de bodycam mostram o PM correndo pela rua e entrando em uma viela, quando dá de cara com um homem armado. Ele então reage de imediato dando quatro disparos e recua. A gravação não foi divulgada pelas autoridades policiais.

Conforme a Secretaria da Segurança Pública (SSP), o caso é investigado pelo 37º Distrito Policial (DP), do Campo Limpo. A pasta foi questionada sobre a permanência de Mendes nas ruas, e informou apenas que “as imagens registradas pelas câmeras operacionais portáteis (COPs) foram analisadas pelos responsáveis por ambos os inquéritos e são compatíveis com a versão dos fatos apresentada pelos envolvidos, incluindo o policial militar citado”.

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