
Na Índia, a limpeza urbana revela um desafio profundo e complexo, evidenciado pelo fato de que cerca de 77% dos 38 mil trabalhadores dedicados às redes de esgoto e fossas sépticas pertencem à comunidade dalit. Este grupo, historicamente marginalizado, ocupa a base da hierarquia de castas indiana e, infelizmente, ainda é forçado a realizar tarefas consideradas “impuros” pela sociedade.
A Ação Nacional para o Ecossistema de Saneamento Mecanizado da Índia, conhecida como Namaste, surgiu para promover mudanças significativas, incentivando o uso de máquinas que tornem o trabalho de limpeza mais seguro. A iniciativa foi impulsionada pelo governo indiano, que prometeu acabar com a perigosa prática da limpeza manual de excrementos até agosto de 2021, dentro do programa “Índia Limpa” do primeiro-ministro Narendra Modi.
Entretanto, a realidade é outra. A ilegalidade da remoção manual de lixo continua, muitas vezes imposta aos dalit, que se vêem presos a funções de limpeza devido à falta de oportunidades em outros setores. Bezwada Wilson, do Safai Karmachari Andolan, afirma que as ações do governo não refletem a realidade social da Índia, onde a discriminação de castas permanece enraizada. “A proposta de que os trabalhadores adquiram suas próprias máquinas é uma forma cruel de reabilitação”, critica.
Os dalit não apenas enfrentam a exclusão nos empregos; eles também herdam uma realidade de pobreza estrutural, lutando contra a transmissão intergeracional de um ciclo opressivo. A subcasta valmiki é particularmente afetada, com uma história marcada por violências e exclusão ainda mais severa. O professor Vivek Kumar destaca que a crença de que a casta é um reflexo das ações passadas perpetua essa prisão social. Chamar esses trabalhos de “dever espiritual” disfarça a dura realidade da discriminação.
Para romper essa teia de exclusão, Kumar argumenta que a dignidade do trabalho deve ser ensinada desde a educação básica até níveis superiores. Segundo ele, quebrar a ligação entre casta e emprego como catador de lixo é fundamental para que outras comunidades consigam ocupar essas posições e para que haja respeito e valorização profissional no setor de saneamento.
A luta contra a discriminação de castas e pela dignidade no trabalho continua, exigindo não apenas conscientização, mas também ações concretas que acolham e integrem os dalit à sociedade de maneira justa. Como você vê essa situação? Compartilhe sua opinião nos comentários!