A Justiça Eleitoral deu um duro golpe na velha política baiana. Na última terça-feira (22), o prefeito de Aramari, Antônio Luiz Cardoso Dantas, popularmente conhecido como Tonho Cardoso (PSD), e o vice-prefeito, Mirivaldo Assis dos Santos, tiveram seus mandatos cassados por abuso de poder político e econômico nas eleições de 2024.
A decisão contundente foi fruto de uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) movida pelo Ministério Público Eleitoral e por José Carlos Alves Nascimento, adversário direto e candidato derrotado nas urnas. O processo expôs um verdadeiro desvio de finalidade da máquina pública, com uso indevido da estrutura da prefeitura para comprar votos e manipular o pleito.
Entre as provas escandalosas apresentadas, destacam-se o abastecimento de veículos de campanha com combustível pago com dinheiro público, planilhas de distribuição de cestas básicas, próteses dentárias, óculos e materiais de construção, além da apreensão de 19 envelopes com dinheiro em espécie. Tudo isso direcionado para cooptar eleitores, especialmente na zona rural, onde a vulnerabilidade social é explorada politicamente há décadas.
A investigação ainda apontou que a sala da Chefe de Gabinete da Prefeitura, Bárbara Cristina Dantas, funcionava como um verdadeiro comitê eleitoral informal, com materiais de campanha, tíquetes de combustível carimbados e adesivos eleitorais. A prática também se repetia em veículos oficiais e na residência do então prefeito interino, Fidel Dantas, sobrinho de Tonho Cardoso.
A sentença foi clara ao declarar que houve “grave desvio de finalidade” e “confusão entre o público e o privado”, o que comprometeu a legitimidade do processo democrático e violou os princípios constitucionais da administração pública. Como punição, além da cassação dos mandatos, os envolvidos foram declarados inelegíveis por oito anos, conforme a Lei Complementar 64/1990.
Eleito com 4.723 votos (60,71%), Tonho Cardoso viu seu mandato ruir sob o peso de denúncias e provas concretas. E o impacto desse escândalo não se limita a Aramari. Em Itamaraju, por exemplo, ações semelhantes estão sendo investigadas em sigilo, com intervenção do Ministério Público e da Polícia Federal. Em dezembro de 2024, celulares foram apreendidos e movimentações suspeitas detectadas em postos de combustível no dia da eleição.
O que se revela é um alerta nacional: a manipulação eleitoral não passará impune. A democracia exige respeito às regras e às instituições. O que está em jogo é muito mais do que um cargo, é a dignidade do voto popular.