O Conselho Executivo da Unesco nomeou, na segunda-feira (6/10), o egípcio Khaled El-Enany como novo diretor-geral da organização, em um momento delicado, marcado pela anunciada saída dos Estados Unidos. Ex-ministro do Turismo e das Antiguidades e egiptólogo de renome, El-Enany será o primeiro árabe e o segundo africano a liderar a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Ele concedeu uma entrevista exclusiva à RFI na terça-feira (7/10).
El-Enany obteve 55 votos, contra apenas dois do economista congolês Firmin Edouard Matoko. Durante sua campanha, iniciada em 2023, o egípcio destacou sua trajetória prática, como pesquisador, diretor do Museu Egípcio do Cairo e ministro.
Para El-Enany, sua eleição representa “o coroamento de uma carreira totalmente dedicada à educação, ao ensino universitário, à pesquisa científica e à preservação do patrimônio cultural”.
Aos 54 anos, ele assume a liderança da Unesco em meio a desafios econômicos e políticos. Após a saída de Israel em 2017, a Nicarágua anunciou sua retirada este ano, em protesto contra a concessão de um prêmio a um jornal opositor.
Os Estados Unidos também decidiram deixar a organização, alegando viés anti-israelense e apoio a “causas sociais e culturais” que dividem. A saída americana, prevista para o fim de 2026, representa uma perda de cerca de 8% do orçamento da Unesco.
El-Enany afirmou à RFI que trabalhará para incentivar o retorno dos Estados Unidos, como fez sua antecessora Audrey Azoulay em 2023. No entanto, sinalizou que não dependerá apenas da ajuda americana para cumprir sua missão. “Tenho experiência nessa área porque não venho de um país muito rico”, declarou.
“Trabalhei muito com o setor privado, com grandes empresas para mobilizar fundos, para firmar parcerias. Então, com os Estados-membros, continuarei esses esforços para tranquilizar antigos doadores, para que continuem contribuindo ainda mais, e atrair novos governos, doadores e o setor privado”, explicou. E ponderou:
“O setor privado é uma prioridade, mas sempre preservando os valores da Unesco”
Questionado sobre críticas à politização da organização, El-Enany foi enfático: “Meu papel é ser imparcial e não servir a um grupo em detrimento de outro, nem a uma cultura em detrimento de outra”, disse, lembrando ser o primeiro egípcio e o primeiro árabe a dirigir a Unesco. No entanto, segundo ele, isso não guiará sua gestão.
El-Enany também reafirmou à RFI sua visão para a entidade: “Intitulei meu slogan de campanha ‘a Unesco para os povos’. Quero uma Unesco que tenha impacto na vida das pessoas, uma Unesco que seja conhecida e reconhecida pelas pessoas além do patrimônio cultural”.
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