Em uma manhã sombria de agosto, a cidade de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, foi abalada por um achado horripilante: três corpos, mutilados e enterrados em sacos plásticos, marcavam o início de um novo capítulo na guerra do narcotráfico. Os homens, Dejan Lazarevski, Miljan Gjekic e Vanja Milosevic, de origem balcânica, não eram meras vítimas de um ajuste de contas, mas peças de um jogo mortal alimentado pelo império criminoso de Sebastian Marset, o traficante mais procurado do mundo.
Esse triplo homicídio não foi um episódio isolado, mas um sinal claro da transformação da Bolívia em um centro nevrálgico do tráfico de cocaína. O país, que há anos era apenas um produtor, agora afigurava-se como uma das principais artérias de uma rede de narcotráfico que conectava a América do Sul à Europa, impulsionada por alianças que emergiam dos corredores das prisões brasileiras.
A trajetória de Marset com o Primeiro Comando da Capital (PCC) teve início não nas plantações de coca, mas nas celas superlotadas da prisão Libertad, no Uruguai. Durante sua detenção, ele não apenas sobreviveu em um dos presídios mais violentos da América do Sul, mas também cultivou conexões valiosas.
A prisão Libertad, caracterizada pela brutalidade, serviu como um caldeirão onde Marset, que à época tinha apenas 25 anos, encontrou oportunidades. Integrantes do PCC buscavam expandir sua influência e recrutavam jovens com potencial para prosperar no crime. Marset foi um desses talentos, mostrando-se astuto e carismático em um ambiente hostil.
A relação entre Marset e o PCC foi construída com o tempo. Ele teve de demonstrar lealdade e competência, realizando pequenos serviços que o tornaram um membro confiável da facção. Gradualmente, teve acesso a métodos sofisticados de operação e à filosofia empresarial do PCC, que voltava o crime para a lógica de um grande negócio.
Do presídio ao império
No final de sua pena, Marset havia se transformado em um operador internacional, conectado diretamente ao PCC, e, ao ser libertado em 2018, estava preparado para explorar as vastas oportunidades da Bolívia. O país havia se tornado um dos maiores produtores de cocaína, e Santa Cruz de la Sierra se destacava como o coração das operações de Marset.
A cidade, com sua logística privilegiada, facilitou a implementação de um novo modelo de tráfico que integrava todos os aspectos, desde a produção até a distribuição, abrangendo até mesmo a lavagem de dinheiro através de empresas legítimas.
Marset estabeleceu uma rede de negócios em diversos setores, que serviam como fachada para suas atividades criminosas. Essa operação complexa permitiu que ele movimentasse quantidades alarmantes de cocaína, escondendo-a em carregamentos aparentemente normais e direcionando-a para portos do Atlântico Sul, onde parceiros o ajudavam a levar a droga à Europa.
De acordo com investigações recentes, essa rede movimentou mais de 16 toneladas de cocaína pura, gerando lucros que somaram centenas de milhões de dólares. A história de Marset e do PCC é um lembrete inquietante de como o narcotráfico evolui e se adapta a novas realidades, perpetuando um ciclo de violência e corrupção.
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