9 agosto, 2025
sábado, 9 agosto, 2025

Privacidade mental em risco: neurotecnologias podem ser uma ameaça

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Estamos vivendo uma era em que a mente humana se torna um território em aberto. A neurotecnologia, com seu vasto leque de inovações, promete melhorar, reparar e até aprimorar as funções cerebrais. Do clássico exame de ressonância magnética às inovações que permitem a comunicação direta entre nosso cérebro e dispositivos externos, essas tecnologias estão moldando nosso futuro.

O potencial transformador da neurotecnologia é inegável: ela pode revolucionar a medicina, auxiliar no desenvolvimento de tratamentos para condições neurológicas e psiquiátricas, e também permitir às empresas captar e entender as emoções humanas. Contudo, por trás desse avanço, surgem preocupações éticas palpáveis, como privacidade mental e o uso responsável dessas tecnologias.

Neurotecnologia pode transformar a medicina, mas também levanta questões éticas cruciais. Crédito: New Africa/Shutterstock

A questão primordial é: como utilizar a neurotecnologia sem comprometer a integridade das pessoas? Embora seus benefícios sejam claros, o acesso a dados tão íntimos como pensamentos e memórias pode abrir porta para abusos éticos. Empresas que detêm essas informações têm o poder de influenciar decisões e comportamentos de maneiras que muitos ainda não compreendem totalmente.

Vivemos em um mundo onde nosso cérebro é o ativo mais importante, sustentando modelos de negócios de mídias sociais e varejistas online. Essas empresas desejam conhecer nossas preferências psicológicas para manipular nossas decisões de compra.

Marcello Ienca, filósofo e especialista em neuroética da Universidade Técnica de Munique.

Hoje, a maior parte da pesquisa em neurotecnologia foca no atendimento médico. No entanto, iniciativas como as da Neuralink despertam preocupações. A empresa de Elon Musk planeja implantar chips cerebrais para melhorar o desempenho humano, mas a motivação não é estritamente médica.

Embora esse uso possa parecer inovador, as implicações éticas são alarmantes. Se um erro ocorrer — seja a morte de um paciente ou um vazamento massivo de dados — a confiança em toda a neurotecnologia poderia ser severamente abalada.

A ideia de que a Neuralink possa convencer um grande número de pessoas a compartilhar seus dados neurais é preocupante. Qualquer deslize pode arruinar a confiança na neurotecnologia e na comunidade científica como um todo.

Marcello Ienca, filósofo e especialista em neuroética da Universidade Técnica de Munique.

A atual ênfase recai sobre as neurotecnologias não invasivas, como mini-eletroencefalogramas integrados a dispositivos como fones de ouvido e pulseiras. Essas ferramentas ajudam na coleta de dados para melhorar tratamentos médicos, mas também levantam questões sobre seu uso nos mercados.

As empresas já estão atentas às possibilidades. Conhecer as emoções, intenções e preferências dos consumidores diretamente de suas mentes apresenta uma oportunidade tentadora, mas potencialmente invasiva. Essa tecnologia pode ser usada para:

  • Analisar emoções e intenções.
  • Personalizar experiências.
  • Influenciar decisões de compra.
  • Desenvolver produtos alinhados às necessidades dos consumidores.
  • Adaptar estratégias de mercado.
A captura de dados mentais poderá transformar as estratégias de mercado. Crédito: Kamil Macniak/Shutterstock

Há um risco real de que nossa privacidade mental esteja ameaçada, com a possibilidade de a tecnologia ser usada para manipular consumidores. A neurotecnologia pode se tornar pessoal, utilizada não pela sua real utilidade, mas pela persuasão externa.

Marcello Ienca, filósofo e especialista em neuroética da Universidade Técnica de Munique.

Com essa apreensão, é encorajador saber que pesquisadores, incluindo Ienca, trabalham na criação de regulamentações que preservem a inovação sem comprometer ética e segurança. Já foram desenvolvidas diretrizes para incluir dados neurais na Convenção 108 do Conselho da Europa, visando à proteção desses dados pessoais.

Além disso, estados como Colorado e Califórnia já implementaram leis que tratam dados neurais como informações sensíveis, equiparando-os a outras informações pessoais críticas. Essas iniciativas são passos essenciais para regulamentar o uso da neurotecnologia, evitando monopólios e promovendo um desenvolvimento ético no setor.

É hora de refletirmos sobre os limites éticos das neurotecnologias. E você, qual sua opinião sobre o uso delas? Comente abaixo!

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