Cinco meses após uma guinada diplomática em favor da Rússia, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, surpreendeu nesta segunda-feira (14) ao impor um ultimato ao presidente russo, Vladimir Putin. Em pronunciamento na Casa Branca, ao lado do secretário-geral da Otan, Mark Rutte, Trump declarou que, se Moscou não firmar um cessar-fogo com Kiev em até 50 dias, a Rússia será alvo de duras sanções econômicas, com tarifas “secundárias” que poderão chegar a 100%.
“Tarifas secundárias são muito poderosas. Espero que dê certo”, disse Trump, referindo-se a sanções que atingem empresas e bancos de países que comercializam com a Rússia, o que pode afetar parceiros como China, Índia e Brasil, membros do Brics que importam grandes volumes de petróleo e diesel russos.
A retomada do envio de sistemas de defesa aérea Patriot à Ucrânia também foi anunciada. Trump garantiu que a conta será paga pela Otan, um gesto visto como sinal de reaproximação com a aliança militar ocidental, da qual já foi um crítico ferrenho. Rutte, presente ao lado do republicano, reafirmou o compromisso da aliança e anunciou o aumento da meta de gastos com defesa para 5% do PIB em até dez anos.
O anúncio marca uma mudança significativa no posicionamento de Trump, que até recentemente mantinha um discurso favorável a Moscou. Ele havia suspendido duas vezes o envio de armamentos a Kiev e demonstrado desconfiança em relação ao presidente ucraniano Volodimir Zelenski, com quem protagonizou embates públicos, incluindo um tenso bate-boca na Casa Branca em fevereiro.
No entanto, segundo o próprio Trump, a falta de cooperação de Putin tem minado o canal de diálogo. “Ele fala bem e depois bombardeia todo mundo à noite”, disse, demonstrando frustração com o líder russo. Apesar disso, o presidente americano evitou chamá-lo de “assassino”, limitando-se a classificá-lo como “durão” e “enganador”.
Embora Trump não tenha divulgado valores específicos, a Alemanha já se comprometeu a financiar pelo menos três novos sistemas Patriot, que se somarão aos seis atualmente disponíveis na Ucrânia. Cada sistema conta com seis lançadores de mísseis antiaéreos.
Vale lembrar que Trump ainda não autorizou novos gastos em defesa para a Ucrânia, os equipamentos vêm de pacotes previamente aprovados pelo ex-presidente democrata Joe Biden. Segundo o Instituto de Economia Mundial de Kiel, os EUA já destinaram cerca de R$ 416 bilhões em armas a Kiev até abril deste ano.
A Rússia tem expressado receio de que os EUA possam autorizar o envio de armamentos ofensivos, como mísseis de longo alcance, capazes de atingir bases estratégicas no território russo. Até o momento, esse cenário não se confirmou.
Em Moscou, a primeira reação oficial foi de cautela. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que o fornecimento de armas pelos EUA nunca cessou e que a Rússia ainda aguarda uma resposta de Kiev para retomar as negociações diretas. “O fato é que o suprimento de armas, munição e equipamento militar dos Estados Unidos continuou e continua para a Ucrânia”, declarou.
Segundo fontes próximas ao governo russo, a nova postura de Trump é vista com desconfiança. Há quem avalie que o republicano apenas busca um “troféu político” ao se colocar como pacificador, enquanto fortalece laços com a Otan. A presença de Rutte na Casa Branca foi interpretada como evidência dessa estratégia.
Desde que assumiu a chefia da aliança, o holandês Mark Rutte tem se empenhado em alinhar o discurso com os interesses de Trump. Durante a cúpula da Otan, há duas semanas, ele chegou a declarar que a nova meta de 5% do PIB em gastos com defesa era uma “vitória do presidente americano”, a quem se referiu de forma reverente como “papai”.
A nova política da Otan prevê 3,5% do PIB para armamentos e 1,5% para infraestrutura militar, mudança que atende às exigências históricas do republicano por maior comprometimento financeiro dos países-membros.
O recuo parcial de Trump em relação à Rússia ocorre em um momento de crescente tensão com o Brasil. Na semana passada, o presidente americano anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, medida que teria sido influenciada por pressões do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que tem feito lobby nos EUA contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).