A primeira fase do acordo de paz entre os terroristas do Hamas e o estado democrático de Israel, mediado por Estados Unidos, Egito, Catar e Turquia, prevê o cessar-fogo e a troca de prisioneiros palestinos pelos reféns judeus.
Prisioneiros por reféns, não “prisioneiros por prisioneiros”, como escreveu o Hamas no seu comunicado de ontem. Como a linguagem é também arma, e poderosa, não se pode simplesmente ecoar o que dizem os terroristas.
Os integrantes do Hamas não deixarão de ser facínoras, nem tampouco os cúmplices da Jihad islâmica, do Hezbollah libanês e da facção criminosa dos Houthis iemenistas.
Facinoroso continuará a ser também o regime dos aiatolás iranianos, que financiava toda essa escumalha anti-israelense e antissemita.
Toda essa gente saiu derrotada militarmente da guerra com Israel, que mostrou mais uma vez o seu impressionante poder bélico, secundado pela ajuda americana, além da sua extraordinária capacidade estratégica e de infiltração nas fileiras inimigas — o episódio dos pagers do Hezbollah, que explodiram nos bolsos e nas mãos dos terroristas, é mais um feito cinematográfico dos israelenses.
A derrota de Israel ocorreu no campo da propaganda e da diplomacia. O Hamas conseguiu vender aos incautos do Ocidente a mentira de que luta pela existência de um estado palestino que conviva com o estado judaico, bem como a ideia de que se estava praticando um “genocídio” em Gaza.
A aceitação da mentira e do engano foi facilitada pela ressurgência desavergonhada, em escala impensável, do antissemitismo, travestido de antissionismo no discurso trapaceiro da esquerda mundial.
O ódio aos judeus deixou o mundo das sombras, onde estava relegado desde o final da Segunda Guerra, para desfilar abertamente em grandes manifestações de rua, imiscuir-se livremente no cotidiano e multiplicar atentados.
Há, no entanto, culpados que deram pretexto aos antissemitas e aos que, sem o ser, caíram na conversa do Hamas — e pretexto, aqui, não é nunca justificativa. Está se falando do primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e dos ultradireitistas que compõem a sua base política.
Se fosse outro o primeiro-ministro, Israel reagiria igualmente de maneira vigorosa ao pogrom que profanou o seu território e vitimou centenas dos seus cidadãos, em um arco de crimes hediondos.
Netanyahu, no entanto, tem contra si o fato de ter feito vista grossa durante anos ao financiamento do Hamas por Irã e Catar, principalmente, parte do seu plano de dividir (ainda mais) os palestinos, afastar definitivamente a ideia de dois estados e promover a ocupação da Cisjordânia.
Pesa ainda a desfavor do primeiro-ministro o interesse exclusivamente pessoal em prolongar a guerra em Gaza para manter afastados de si os processos que pesam contra ele em Israel.
É desonesto ignorar que a guerra teria acabado antes, houvesse o Hamas devolvido todos os reféns já nos primeiros tempos. Mas a intensidade da destruição promovida pelo exército israelense em Gaza passou a ser injustificável ainda em 2024.
A segunda fase do acordo de paz implica a deposição de armas pelo Hamas e a formação de um governo que exclua os terroristas. A ver se e como será implementado.
Tem-se como única certeza que o Hamas e assemelhados só entendem a linguagem da força, e Donald Trump, a quem os terroristas agradeceram no seu comunicado, deixou claro que não hesitará em empregá-la, caso o acordo não se concretize na sua integralidade por entraves colocados pelos palestinos.
Por último, mas não sem importância, é preciso destacar que a mediação do presidente americano foi decisiva para o fim do conflito em Gaza.
Donald Trump deveria receber o Nobel da Paz, com o qual sonha, e isso seria líquido e certo, se ele não fosse tão desagregador em outras frentes, especialmente na interna. Mas, justiça seja feita, o presidente americano merece um Nobel muito mais do que Barack Obama, que recebeu o prêmio em 2009, sem fazer nada.