Mergulhei em um universo novo e fascinante: a Internet. Um mundo que antes parecia distante, mas que sempre esteve em meus pensamentos, especialmente na constante batalha entre o livro e a invasão digital. A primeira vez que enfrentei essa discussão de forma objetiva foi há mais de vinte anos, durante um almoço com Elio Gaspari. Ele levantou uma questão que ecoaria em meu entendimento: apesar da ascensão da Internet, duas coisas permaneceriam inabaláveis: o jornal e o livro. Concordei plenamente com ele.
Com o passar do tempo, essa inquietação me acompanhou e participei de debates significativos sobre o tema. Um dos mais importantes ocorreu em Bilbao, convidado pela ONU, ao lado de grandes pensadores sobre o impacto da era digital nos direitos individuais e na privacidade. Foi um momento revelador, onde percebi que a verdade e a mentira enfrentavam a mesma ameaça. A pluralidade de versões sobre um único fato dificultava discernir o que era realmente verdadeiro. A escolha da verdade passou a ser uma função de algoritmos e aplicativos, que muitas vezes decidiam por nós.
Há oito anos, tive o privilégio de abrir a segunda maior feira mundial do livro em Guadalajara. Na celebração da literatura, defendi a ideia que já havia sido exposta por Gaspari: o livro não iria desaparecer. Ele possui características únicas que o protegem: não quebra, pode ser transportado para qualquer lugar, não depende de fonte de energia e abrange um vasto conhecimento. Lembro com carinho dos presentes, como Vargas Llosa, a saudosa Nélida Piñon e Paulo Coelho, que mesmo a distância, demonstrava seu apoio pelas redes sociais.
Agora, o Instagram se apresenta como um novo espaço de interação e descoberta. Embora eu ainda sinta um misto de sedução e apreensão ao observar o fluxo dos seguidores interessados até nas pequenas partes da minha vida, como o meu corte de cabelo ou meu progresso na fisioterapia, essa plataforma me permite compartilhar minhas obras e reconhecer a importância dos livros que moldaram minha trajetória. Ao longo da minha vida, escrevi 123 títulos, com 168 edições, mas frequentemente me preocupei mais com a aceitação no exterior do que aqui, onde muitos viam o político, não o escritor.
Entretanto, é necessário relatar que as previsões que eu e Gaspari fizemos não se concretizaram plenamente. A realidade é dura: os jornais enfrentam sérias dificuldades, transformando-se em tabloides, e as assinaturas estão em queda, deixando espaço para a digitalização. No caso dos livros, as enciclopédias tradicionais foram devoradas, e a Wikipedia dominou esse espaço.
Hoje, mesmo aos 95 anos, me rendo a esse novo tempo. Troquei os eleitores pelos leitores do meu Instagram, de calça jeans e cavanhaque, celebrando essa nova forma de conexão.
José Sarney, ex-presidente