Uma das vítimas do trio que aplicava o chamado “golpe do amor” passou 22 horas como refém dos criminosos e sob a mira de uma arma de fogo, em um cativeiro na zona leste de São Paulo. Ele perdeu cerca de R$ 60 mil em empréstimos, compras indevidas e transferências bancárias, conforme revelou ao Metrópoles.
O homem, que caiu no golpe após se aproximar de um perfil feminino em um aplicativo de namoro, prefere não ser identificado. Nesta reportagem, ele será chamado de João.
O caso ocorreu no início de setembro, dois meses depois do latrocínio do sargento da Polícia Militar (PM) André Paulo Marcone, no bairro Cidade Tiradentes, na zona leste da capital – também vítima do trio, como apontam as investigações.
Segundo o delegado Ricardo Grativol, do 69º Distrito Policial (Teotônio Vilela), responsável pela investigação, os casos são semelhantes tanto na dinâmica quanto na localização dos fatos. Por isso, para a Polícia Civil, as ocorrências estão relacionadas.
Além disso, João disse ter reconhecido os suspeitos presos nessa quinta-feira (9/10) pela morte do sargento.
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Marcou encontro e acabou refém
- João relatou que começou a conversar com uma mulher através do aplicativo Tinder em agosto deste ano.
- Eles trocaram mensagens por WhatsApp e, após alguns dias, marcaram um encontro na casa dela, no bairro Cidade Tiradentes.
- Ao chegar no local, João foi abordado pelos criminosos e colocado em um automóvel. Em seguida, ele foi levado a um cativeiro próximo ao local de encontro.
- No cativeiro, cuja localização ainda não foi identificada pela polícia, a vítima ficou entre 20 e 22 horas sob poder dos suspeitos, na mira de uma arma de fogo.
- Ele recebeu ameaças de morte e foi obrigado a fornecer senhas para a realização de transferências bancárias e de compras on-line.
- Os criminosos também pediram empréstimos em nome da vítima, e enviaram Pix para contas de terceiros, que passaram a ser investigados.
- O prejuízo total foi de pouco mais de R$ 60 mil.
- João conta que ainda não conseguiu reaver o valor, uma vez que as instituições financeiras negam contestações ou retornos, pois as transações foram feitas com o uso de senha.
- “Não tem nem o que falar, porque é óbvio que eu vou entregar a senha com a arma na cabeça”, disse a vítima à reportagem.
- Ele também encara consequências psicológicas por conta do episódio, como sintomas de síndrome do pânico, que o impedem de sair sozinho na rua, disse o delegado Grativol.
- O policial destacou que o grupo é “extremamente violento” e que pratica violência psicológica.
- Desde o ocorrido, João não utilizou mais aplicativos de namoro, e diz que pretende nunca mais usar.
Suspeitos de latrocínio de sargento são presos
Otavio Washington Menezes de Oliveira, de 25 anos, e Vitor Luiz Motta da Silva, de 28, foram presos, na manhã desta quinta, pela Polícia Civil sob suspeita de integrar o trio criminoso.
Eles são acusados de aplicar o “golpe do amor” e são investigados pelo latrocínio do sargento Marcone, ocorrido em julho.
Segundo a apuração do caso, o PM havia marcado um encontro com uma suposta companheira em um aplicativo de relacionamento. Ao chegar ao local marcado para se encontrar com a pretendente, foi emboscado e morto por criminosos.
Em um vídeo obtido pelo Metrópoles, é possível vê-lo tentar reagir ao assalto e ser agredido por assaltantes. O sargento entrou em combate corporal com os criminosos e morreu. Veja:
Segundo a Polícia Civil, Otavio e Vitor estavam foragidos há pouco menos de três meses. O terceiro suspeito ainda não foi localizado, mas já possui um mandado de prisão expedido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).
Conforme o delegado Grativol, os criminosos publicavam fotos em perfis abertos nas redes sociais, ostentando bebidas alcoólicas, motos e armas, e inclusive dando tiros para o alto. Vídeos obtidos pela reportagem mostram os conteúdos postados. Assista:
Grupo deve operar em diversas regiões de SP
Os casos de João e do sargento Marcone levaram a Polícia Civil a investigar o grupo do “golpe do amor”. Para Grativol, a atuação do bando não se restringe à capital paulista, mas pode se estender também para a região metropolitana e interior do estado.
“É uma organização criminosa muito grande, que atua em células. A gente não sabe o vínculo que [o grupo] tem com outros, porque esse tipo de crime está na capital, Grande de São Paulo e até interior”, disse. O delegado acredita que mais vítimas devem aparecer.
Como a investigação está no início, a polícia ainda não sabe precisar o número de vítimas, nem o montante roubado pelo grupo. “Tem outros inquéritos policiais, outras delegacias, delegacias especializadas, mas é só o início, [o esquema] é muito grande”, complementou Grativol.