São Paulo — A disputa pela hegemonia criminosa em Rio Claro, no interior de São Paulo, que opõe o Primeiro Comando da Capital (PCC) contra uma violenta quadrilha local, conhecida como Bando do Magrelo, já deixou um rastro numeroso de mortes na região. Segundo a polícia, o grupo liderado por Anderson Ricardo de Menezes — o Magrelo — é conhecido pela truculência, com ataques à luz do dia e uso de armamento pesado.
Investigações do Ministério Público de São Paulo (MPSP) apontam que o Bando do Magrelo é responsável pelo assassinato de pelo menos 30 integrantes do PCC. A rivalidade é motivada pela disputa da rota do narcotráfico na região de Rio Claro, que movimenta milhões de reais todos os meses — o MPSP identificou que o bando comercializa drogas em, ao menos, oito cidades.
Magrelo já se intitulou como “o novo Marcola”, referindo-se a Marco Willians Herbas Camacho — o principal líder da maior facção do Brasil. Teria partido dele a ordem para a execução sumária dos integrantes do PCC.
Em uma denúncia obtida pelo Metrópoles, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), órgão do MPSP, afirmou que as execuções promovidas pelo Bando do Magrelo, em via pública, com disparos de fuzil em plena luz do dia, “colocam tristes holofotes na cidade”.
“A consequência de quem ousa contrariar as determinações de Anderson Ricardo é uma só: a morte!”, afirma o MPSP na denúncia.
Além da matança generalizada, o grupo de Anderson Menezes informava a polícia, de forma anônima, sobre reuniões e atividades envolvendo o tráfico de drogas do PCC, como forma de “eliminar a concorrência” por meio da chamada “caguetagem”.
A prisão de Magrelo
Magrelo foi preso em 23 de maio do ano passado, usando documento falso, na cidade de Borborema, a cerca de 210 km de distância de Rio Claro — e a quase 380 km da capital paulista.
Seis dias antes da prisão, ele havia fugido da polícia por um buraco no muro da mansão em que morava, em Ipeúna, durante uma operação conjunta entre o Gaeco e aa PM.
A chegada de Magrelo ao sistema carcerário acabou provocando um racha dentro de seu próprio grupo, uma vez que antigos aliados acreditaram que poderiam suceder o “novo Marcola”. Um deles seria Murilo Batista Prado, o Irmão Soneca, de 25 anos, que teria promovido uma matança na região para tentar tomar o lugar do chefão do tráfico.
O racha teria provocado a morte de pelo menos cinco integrantes do bando. A polícia suspeita que o próprio Murilo esteja morto. Seria dele um dos dois corpos encontrados carbonizados dentro de um carro em agosto na cidade de Ipeúna — município onde Magrelo morava, o que foi interpretado pela polícia como um possível “recado a traidores”. A identidade de Irmão Soneca, contudo, ainda não foi confirmada.
Nova onda de mortes
No último fim de semana, uma nova onda de mortes jogou luz sobre a violência em Rio Claro. Quatro homens foram mortos em um intervalo de 12 horas na cidade e, segundo a polícia, o banho de sangue é mais um capítulo da guerra entre o PCC e o Bando do Magrelo.
A primeira vítima foi Daniel de Paula Sobrinho, de 29 anos, executado dentro de seu salão de cabeleireiro no Jardim Palmeiras. Uma câmera de monitoramento (veja abaixo) registrou a chegada de dois pistoleiros, em um Volkswagen Gol branco, às 8h27.
Ligado ao grupo de Magrelo, Daniel foi alvo de ao menos 30 tiros e morreu no local. Toda a ação, incluindo a fuga, durou pouco mais de 20 segundos.
Cerca de 12 horas depois, o Bando do Magrelo vingou a morte de Daniel. Conforme registros policiais, a quadrilha local matou a tiros José Cláudio Martins Nunes, de 50 anos, Gabriel Lima Cardoso, de 26, e Marcelo Henrique Ferreira, de 27, todos apontados como membros do PCC.
Segundo a polícia, os criminosos pretendiam matar quatro membros do PCC. Um deles, porém, sobreviveu ao atentado e foi hospitalizado. Ele poderá ajudar a equipe de investigação a identificar os envolvidos na chacina. Até o momento, ninguém foi preso.