Começou com o avô, que passou para o pai, que passou para o filho, que tenta passar para o neto. Vários são os motivos para que o povo do Recôncavo, principalmente a comunidade ribeirinha, lute para manter a cultura dos saveiros viva. Os veleiros artesanais, de arquitetura própria e característica, foram uma das principais fonte de renda de municípios como Cachoeira, São Félix e Cabaceiras do Paraguaçu, durante o século passado.
Autor do projeto Içar e pesquisador da área, Marcelo Bastos estima que já existiram mais de 1,5 mil saveiros. Eles eram importantes para escoar produções de açúcar, farinha e diversos outros produtos que saíam do Recôncavo em direção a Salvador. Esse número em 2022 não chega a 20.
A chamada cultura de saveiros é parte importante do patrimônio cultural e do imaginário de populações ribeirinhas na região e é pensando em valorizar tudo isso que nasceu o Festival de Saveiros (@festivaldesaveirosoficial), que agita as águas do Rio Paraguaçu este final de semana, começando nesta sexta (27), até o próximo domingo (29), com programação diversa que vai além das águas da Baía de Todos-os-Santos.
Produtora-geral do evento, Carine Araújo conta que ficou assustada quando sua filha viu um saveiro navegando pelo Rio Paraguaçu e associou aos barquinhos de Moana, animação infantil . Antes disso, recebeu a ideia do projeto das mãos de Wandick Silveira, um dos remanescentes a ainda navegar em saveiros.
“Isso mexe muito com a memória afetiva de uma população, que é mais velha e mexe com a tradição de um povo do recôncavo e Baía de Todos -Os- Santos. A gente hoje tem uma realidade de pessoas que não conhecem o que é o Saveiro, são apenas algumas dezenas porque perderam espaços para ferrovias e caminhões”, conta.
Durante os três dias de festa, o evento terá programação cultural, educativa e de cunho social, com shows de samba e reggae, homenagem a Dona Cadu, a mais famosa ceramista da Bahia, Feira de Economia Criativa e Agricultura Familiar, concurso de desenhos e redação nas escolas de São Félix e ação de limpeza das margens do Rio Paraguaçu.
A chegada dos saveiros a São Félix acontece na tarde da sexta-feira (27) e junto com eles estarão os oleiros de Maragojipinho, que participarão da Feira de Artesanato, já considerada a maior do Recôncavo, reunindo mais de 50 expositores de toda a Bahia.
No sábado (28) haverá o encontro de jetskis, e as águas serão tomadas por canoas, caiaques e hobie cats, dentre outras embarcações. Passeios de saveiro serão oferecidos pelos mestres saveiristas a preços populares – é a oportunidade de conhecer melhor as belezas da região.
No dia domingo (29), a partir das 13h, em São Félix, será dada a largada para o Bordejo pelas Águas do Paraguaçu, que vai circundar a Pedra da Baleia e retornar para o píer de São Félix. Este é o ponto alto do Festival de Saveiros. Participarão saveiros com navegação a popa (vela de içar). A competição se transformou num desfile que homenageia os saveiros participantes
“Fomos além e nossa programação já circula há cerca de um mês. Estivemos nas escolas mostrando documentários sobre saveiros, pinturas e produções culturais para que as crianças entendam aquilo como parte de suas próprias histórias”, explicou Carine.
Enquanto isso toda a cidade também estará mobilizada participando da Feira de Economia Criativa e Agricultura Familiar, das exposições de carros antigos e miniaturas de saveiros do artesão Ubiracy Portugal, enquanto as crianças disputam o concurso de desenhos e redação promovido em parceria com as escolas de São Félix.
“Eu acredito que o festival é interessante por celebrar essa cultura e os conhecimentos relacionado às embarcações. A gente está celebrando uma parte significativa da cultura náutica brasileira”, afirma Marcelo Bastos.
Para o pesquisador, também é importante que esse evento celebra a memória, trabalho e criatividade de mestres navais que não são reconhecidos formalmente: “Esses mestres navais fazem parte do patrimônio náutico brasileiro e esses eventos são rituais de celebração desse conhecimento, dessa cultura. É importante para mostrar às pessoas, celebrar conhecimentos. É muito significativo tanto para manter vivo quanto atrair pessoas para conhecer e entender um pouco mais desse projeto. O foco do meu trabalho é trazer não apenas a importância cultural mas também a importância técnica. As técnicas de projeto e construção utilizadas nos saveiros são muito mais antigas do que a legislação que regulamenta o projeto construção de embarcações atualmente”, detalhou.
Programação cultural
Shows de Samba de Roda e Reggae, marcas musicais do Recôncavo da Bahia, fazem da programação do Festival de Saveiros – I Festa Náutica do Vale do Paraguaçu, uma verdadeira festa.
Na sexta-feira, às 20h, está marcado o Encontro dos Sambas de Roda do Recôncavo, com os grupos Samba de Roda Filhos de Nagô, de São Félix, Gêge Nagô, de Cachoeira e Samba Filhos de Dona Cadu, de Maragojipe.
No sábado à noite o show é do reggaeman Sine Calmon. No domingo, ao cair da tarde, quem sobe ao palco é Jau, para realizar o seu sarau. E tem mais música com os talentos da terra Nathan Gomess, Nelma Marks, Juninho Cachoeira, Orquestra Reggae de Cachoeira e Orquestra Jovem do Recôncavo. Os shows acontecem na Avenida Salvador Pinto, no Porto de São Felix.
Homenagem a Dona Cadu
Ceramista mais famosa da Bahia e doutora Honoris Causa da Ufba e UFRB, Dona Cadu recebe uma homenagem na sexta, às 10h, na Câmara de Vereadores de São Félix com uma Sessão Solene pelo seu centenário e contribuição para a cultura do Recôncavo. Clique aqui e conheça mais sobre a história da ceramista e sambadeira.
Confira a programação completa:
Dia 27 de maio – sexta-feira
- 07h – Limpeza das margens do Rio Paraguaçu
- 10h – Sessão Solene pelo Centenário de Dona Cadu
- Local: Câmara de Vereadores de São Félix
- 14h – Mesa: “A importância dos saveiros para o Recôncavo Baiano” – com o historiador Walter Fraga, o fotógrafo Nilton Souza, o deputado Bira Coroa e a arquiteta Marília Barreto, uma das proprietárias do Saveiro É da Vida. | Mediação: historiador Fábio Batista | Local: Câmara de Vereadores de São Félix
- 20h – Encontro dos Sambas de Roda do Recôncavo
- Samba de Roda Filhos de Nagô – São Félix, Gêge Nagô – Cachoeira,
- Samba Filhos de Dona Cadu – Maragojipe
Dia 28 de maio – sábado
Avenida Salvador Pinto (Porto) – Dia inteiro:
- Feira de Economia Criativa e Agricultura Familiar
- Exposição de carros antigos
- Exposição de miniaturas de saveiro do artesão Ubiracy Portugal
- Exposição dos Trabalhos Escolares
- Às 13h Encontro de Jet Skis
- 16h Orquestra Reggae de Cachoeira
- 18h Nathan Gomess
- 20h Nelma Marks
- 22h Sine Calmon
29 de maio – domingo
Avenida Salvador Pinto (Porto) – Dia inteiro:
- Feira de Economia Criativa e Agricultura Familiar
- Exposição de carros antigos
- Exposição de miniaturas de saveiro do artesão Ubiracy Portugal
- Exposição dos Trabalhos Escolares
- 13:30h Bordejo de Saveiros
- 14:00h Show Corpos Negros
- 15:30h Show Orquestra Jovem do Recôncavo
- 16:00h Premiação
- 16:30h Saída do Presente para Oxum
- 17:30h Sarau de Jau
- 19:30h Juninho Cachoeira