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Filiação de Datena ao seu 11º partido tem aval de Tabata, mas não limita opções do PSDB

Foto: Zeca Ribeiro/Arquivo/Agência Câmara

Tabata Amaral 04 de abril de 2024 | 11:04

A filiação do apresentador José Luiz Datena (PSB) ao PSDB, nesta quinta-feira (4), terá a bênção da deputada federal Tabata Amaral (PSB), pré-candidata à Prefeitura de São Paulo, que segue contando com ele para ser o vice em sua chapa, só que num partido diferente.

O prazo para quem quer concorrer na eleição municipal se filiar a um partido termina no sábado (6), com o fim da janela de migração partidária.

Para os tucanos, no entanto, a filiação de Datena não limita o partido a essa única possibilidade —pelo contrário, adia para julho, época das convenções partidárias, qualquer decisão definitiva sobre lançar candidatura própria ou integrar uma coligação.

O acerto com Datena, contudo, enterrou outras apostas de nomes, como o deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil), que foi convidado pelo PSDB para concorrer à prefeitura pelo partido.

Em nota nesta quinta, ele afirmou que vai permanecer na União Brasil e convidou os tucanos para sua vice. “Agradeço a receptividade dos dirigentes do PSDB e afirmo que as portas estão abertas para coligarmos e o partido indicar meu vice”, diz.

De qualquer forma, a aliança entre Tabata e o PSDB é a opção que vem ganhando contornos mais definidos, como mostrou a Folha de S.Paulo. A concretização da chapa, contudo, depende de Datena, que vai se filiar ao seu 11º partido e já desistiu de concorrer quatro vezes.

No último dia 22, o PSDB municipal, comandado pelo ex-senador José Aníbal, votou contra a coligação com o prefeito Ricardo Nunes (MDB). Aníbal se opõe a aliança entre Nunes e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Na prática, porém, boa parte dos tucanos, além de vereadores e deputados, vão fazer campanha para Nunes, a quem preferem por ter dado continuidade à gestão de Bruno Covas (PSDB) e por estarem abrigados em cargos na máquina municipal.

Apesar da divisão na militância, a expectativa é a de que Datena dê ao PSDB visibilidade e maleabilidade, nas palavras de um tucano que trabalhou para atrair o apresentador. O PSDB quer ter em São Paulo um palanque para o presidenciável Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul.

O acerto PSB-PSDB em São Paulo tem como efeito colateral a insatisfação da governadora Raquel Lyra (PSDB-PE), que ameaça deixar o partido. Ela enfrenta em seu estado justamente a oposição do PSB de João Campos, prefeito do Recife e namorado de Tabata.

Orlando Faria, ex-presidente municipal do PSDB que deixou o posto para integrar a pré-campanha de Tabata, diz que a saída de Datena do PSB foi discutida com a deputada e tem o objetivo de que ele seja candidato a vice-prefeito.

Tabata, inclusive, estará presente no evento tucano de filiação, o que afastaria a ideia de que Datena será candidato a prefeito. Para ela, que só conta com o PSB até agora, atrair mais um partido reforça sua campanha e aumenta seu tempo de propaganda na TV.

Em 2020, Tabata preteriu o PSDB de Covas ao declarar apoio, no segundo turno, a Guilherme Boulos (PSOL), que concorre novamente neste ano. À Folha de S.Paulo a deputada declarou não haver contradição com a aliança de agora, já que no pleito passado sua escolha foi baseada em sua oposição a Nunes, que era vice de Covas.

Procurado pela reportagem, Datena afirmou que sua mudança para o PSDB “não mudou nada” em relação a sua candidatura.

Faria afirma ainda que o PSB está auxiliando o PSDB a completar sua chapa de candidatos a vereador. “Cerca de 10 a 15 pré-candidatos do PSB, com a ida do Datena para o PSDB, também topam concorrer pelo PSDB”, disse o aliado de Tabata.

Diminuído e fragmentado, o PSDB vive uma crise em São Paulo e deve perder todos os seus oito vereadores para outros partidos até sábado, o que agrava a dificuldade de atrair nomes para concorrer à Câmara Municipal pela legenda.

Nos últimos dias da janela partidária, o PSDB buscou uma série de opções em São Paulo, além de Datena.

Considerando a candidatura própria, o partido convidou nomes como Kim, Andrea Matarazzo (PSD) e Mario Covas Neto (Podemos).

Kim é pré-candidato a prefeito e tem o apoio de dirigentes nacionais da União Brasil, mas, em São Paulo, o partido é comandado pelo presidente da Câmara Municipal, Milton Leite, que defende a aliança com Nunes, de quem pretende ser vice.

A janela de migração vale apenas para vereadores e, por isso, ao trocar a União Brasil pelo PSDB, Kim arriscaria perder seu mandato na Câmara dos Deputados.

Em outra frente, como a filiação de Datena não encerra as opções do PSDB, aliados de Nunes ainda falam em tentar um novo diálogo com tucanos para atraí-los formalmente para a coligação do prefeito, hipótese que a direção municipal da sigla descarta, mas que encontra ecos na direção da federação PSDB-Cidadania.

Para os tucanos que apoiam Nunes, que têm o aval de Tomás Covas e divulgaram um manifesto a favor do prefeito, a aliança com Bolsonaro tem sido usada como desculpa pela cúpula do PSDB e a escolha por Tabata, representa, no fim da contas, uma escolha por Boulos, algo que não faria sentido para o PSDB, que busca se reafirmar como oposição a Lula (PT).

Por outro lado, tucanos que veem vantagem em apoiar Tabata apontam que o PSDB teria influência no governo, espaço na propaganda e teria o posto de vice —vaga que, na aliança de Nunes, deve ficar com o PL e ser indicado por Bolsonaro ou pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

RECUOS DE DATENA

A trajetória de Datena na política é marcada desde 2015 por recuos na hora H, idas e vindas e trânsito nas mais diferentes correntes ideológicas. Em dezembro passado, ele se filiou ao PSB para ser vice de Tabata.

Em 2015, depois de se desfiliar do PT, partido ao qual estava desde 1992, Datena se filiou ao PP de Paulo Maluf e cogitou disputar a prefeitura de São Paulo no ano seguinte, 2016. Em 2018, depois de passar pelo PRP (hoje PRD, resultado da fusão de PTB e Patriota), ameaçou se lançar ao Senado pelo DEM (hoje União Brasil), mas também desistiu na última hora.

Dois anos depois, em 2020, se filiou ao MDB e cogitou novamente disputar a prefeitura da capital paulista ou ser vice de Covas. Também não deu certo.

Depois disso, se filiou ao PSL (hoje União Brasil) em 2021, ocasião em que foi cotado para disputar a Presidência da República no ano seguinte, mas em 2022 migrou para o PSD de Gilberto Kassab e, pouco tempo depois, para o PSC.

Na ocasião, ele almejava disputar o Senado na chapa de Tarcísio, em acordo fechado com o então presidente Bolsonaro. Mas também teve seu nome cotado para a vice na chapa presidencial de Ciro Gomes (PDT), além de ter flertado com a pré-candidatura presidencial de João Doria (PSDB), que também acabou desistindo. Assim como nas demais vezes, Datena anunciou o recuo na última hora.

Já em 2023, o apresentador mudou novamente de partido e se filiou ao PDT, que na época deu como certa a candidatura dele à prefeitura. Ainda no ano passado, ele chegou a sugerir a formação de uma chapa com Boulos.

Carolina Linhares/Folhapress

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