Quem visitar as dependências do Hospital Salvador, na Federação, hoje, vai encontrar um ambiente deteriorado. As fiações estão expostas, pedaços de gesso balançam em cordões presos ao teto, há infiltração, muita poeira, documentos e móveis revirados por toda a parte e até os botões dos elevadores foram furtados. Todo esse cenário de destruição dará lugar ao novo Hospital da Criança de Salvador, que terá maternidade, 280 leitos e pelos menos 17 serviços e nove especialidades.
O termo de concordância que desapropria a unidade foi assinado nesta quarta-feira (29), no mesmo dia em que Salvador completou 474 anos. A solenidade aconteceu no estacionamento do hospital, que terá uma unidade de atenção infantil, com UTIs e fará atendimento de urgência e emergência pediátrica.
O prefeito Bruno Reis (União Brasil) disse que o investimento será de R$ 21 milhões na desapropriação, que o novo projeto está sendo elaborado e que a meta é concluir tudo em um ano, incluindo a compra dos equipamentos e a contratação de pessoal. Ele ficou emocionado ao lembrar que a mãe dele foi paciente do Hospital Salvador pouco antes de morrer, e destacou o reaproveitamento da estrutura.
“Era inadmissível o hospital ficar nessa situação, nós tínhamos o compromisso de construir uma maternidade em Salvador e nós optamos por fazer o retrofit [restauro], de recuperar e implantar aqui mais do que uma maternidade, um hospital da criança. Será construindo um outro hospital nesse local, mas aproveitando a estrutura já existente o que permitirá uma economia muito maior”, afirmou.
O prefeito Bruno Reis e a vice Ana Paula Matos na solenidade de assinatura da desapropriação (Foto: Divulgação Betto Jr. Secom) |
Com a obra de reconstrução e aquisição de maquinário, a estimativa é que o custo total gire em torno de R$ 130 milhões a R$ 140 milhões. O objetivo do projeto é atender todo o ciclo materno-infantil, e os 280 leitos foram divididos em maternidade (120), unidade de atenção infantil (70), pronto atendimento (20) e unidade de atenção a mulher (70). A cabeleireira Denise Sampaio, 35 anos, mãe de duas crianças, disse que vai contar os meses para a inauguração do novo hospital.
“Só quem é mãe sabe o sufoco que a gente passa quando nossos filhos adoecem. Quando é um caso de emergência, então, é um desespero. Ter mais um hospital público na cidade já é uma boa notícia, e o fato dele ser especializado no atendimento infantil é melhor ainda. Agora, quando será que isso fica pronto?”, questionou.
Segundo a prefeitura, a expectativa é que o Hospital da Criança de Salvador seja inaugurado no próximo aniversário da cidade, em 29 de março de 2024. A capacidade de atendimento da unidade está em análise. A vice-prefeita e secretária municipal de Saúde, Ana Paula Matos, explicou os desafios da reforma.
“Na área física, a gente começou a fazer uma análise técnica mais profunda. A gente já sabe que vai ter que trocar as redes de gás, hidráulica e elétrica, e os elevadores. Vamos começar de imediato, junto com a engenharia, as licitações para equipar a unidade. A mesma equipe que nos ajudou no Hospital Municipal está nos ajudando na maternidade, isso nos dá agilidade e conhecimento”, disse.
Ela informou que a prefeitura vai firmar um contrato de R$ 3 milhões para ampliar a capacidade de atendimento de uma área do Martagão Gesteira, outra unidade especializada no atendimento infantil, e que o Município acredita que haverá aumento na demanda. “Como ficamos três anos sem fazer prevenção, por conta da pandemia, temos um gargalo em todas as áreas”, explicou.
O Hospital Salvador encerrou as atividades em 2018, mas foi usado temporariamente para abrigar pacientes da Maternidade Climério de Oliveira, gerida pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). Em 2020, a prefeitura requisitou o prédio como hospital de campanha para instalação de dez leitos de UTI para tratar pacientes com covid-19.
A Ufba temia que as mães e os bebês fossem contaminados e conseguiu uma decisão favorável do Supremo Tribunal Federal (STF). A prefeitura recorreu, até que sete meses depois os pacientes da maternidade foram transferidos e o prédio passou a abrigar apenas pessoas com coronavírus. No final de 2021, o Município desmobilizou o hospital de campanha, e em 2022 o prédio foi invadido, saqueado e incendiado duas vezes. Moradores, que na época fizeram protestos por conta da insegurança, disseram agora que têm a esperança de que esse será um recomeço.
Confira o perfil das unidades que estarão dentro do hospital:
Maternidade – Serão 120 leitos. Ela terá clínica obstétrica (60 leitos) e clínica ginecológica (10 leitos). O Cuidado Intermediário Neonatal Convencional (UCI) e o Cuidado Intermediário Neonatal Canguru, vão oferecer 20 e 10 acomodações, respectivamente. Haverá também dez vagas de UTI Materna e mais dez de UTI Neonatal. O bloco operatório terá um centro cirúrgico, outro obstétrico e leitos de recuperação pós-anestésica.
Unidade de Atenção Infantil – Vai oferecer atendimento de urgência e emergência pediátricas, incluindo atendimento a crianças em situação de vulnerabilidade e difícil acesso aos serviços de saúde. A internação geral terá 60 leitos (sendo 40 clínicos e 20 cirúrgicos), a UTI Pediátrica terá dez e o Pronto Atendimento outros 20 leitos. Haverá rede de apoio ambulatorial com pediatria geral, cardiologia, cirurgia geral, infectologia, neurologia, nefrologia, pneumologia, otorrinolaringologia e ortopedia.
Unidade de Atenção a Mulher – Terá serviços de promoção, prevenção, assistência e recuperação da saúde. A internação geral vai oferecer 60 leitos e a internação intensiva outros dez leitos. Entre os serviços haverá biopsia guiada por imagem, cirurgias ginecológicas, da mama (mastologia), urológica e gerais. As ações incluem também colonoscopia, ressonância magnética, tomografia e ultrassonografia, entre outros serviços.