Lula pode muito desde que se elegeu presidente. E poderá muito mais depois que tomar posse. Deve, por isso, tomar cuidado para não cair na tentação de que ganhou um talão de cheque em branco para fazer tudo que lhe dê na telha, porque não ganhou.
É sobre a carona que diz ter pego no jatinho do empresário José Seripieri Filho para voar ao Egito, onde a Organização das Nações Unidas realiza sua conferência ambiental. Políticos têm o mau costume de ficar devendo favores a empresários.
Nem todos os políticos. Como lembra Malu Gaspar, colunista de O Globo, em sua primeira viagem internacional depois de eleita presidente em 2010, Dilma Rousseff viajou em voo comercial para participar da reunião do G20 em Seul, na Coreia do Sul.
Seripieri é amigo de Lula há 10 anos. Fundador da rede Qualicorp e dono da Qsaúde, doou R$ 660 mil para o PT e outros R$ 500 mil para a campanha de Lula à reeleição. Doações legais, como as que foram feitas por empresários à campanha de Bolsonaro.
Ocorre que Seripieri já foi preso pela Polícia Federal numa investigação sobre financiamento ilegal de campanhas. Admitiu a culpa, fez delação premiada e pagou uma multa de R$ 200 milhões. O que ele contou na delação permanece em segredo.
Lula não tem dinheiro para pagar do próprio bolso o aluguel de um jato como o de Seripieri. O valor de uma viagem de ida e volta ao Egito para um grupo de seis pessoas sairia por até R$ 3 milhões. Mas o PT teria como pagar, embora alegue estar sem dinheiro.
Somente este ano, o PT recebeu R$ 78 milhões via Fundo Partidário. Teve direito ainda a cerca de R$ 500 milhões do Fundo Eleitoral para gastos relacionados à campanha. Por que não fez pela internet uma vaquinha pública para pagar a viagem de Lula?
Teria sido algo simpático. Lula teve mais de 60 milhões de votos no segundo turno, a maior votação obtida por um candidato à Presidência desde a redemocratização do país em 1985. Contou com o apoio de 11 partidos, contra apenas cinco de Bolsonaro.
Numa vaquinha, se apenas 30 mil pessoas doassem, cada uma, R$ 100, a viagem teria sido paga e ainda sobraria dinheiro. E com o auxílio do Pix, paga quase que imediatamente. Isso pouparia Lula do exame de suas decisões futuras à luz de quem deve favores.
Lula conhece a dor das acusações injustas que o tiraram de circulação por 580 dias e quase sepultaram sua carreira política. Não pode dar-se ao luxo de contribuir para que elas se repitam. Em resumo, e como ele mesmo diz: não tem o direito de errar.
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