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Medalha de ouro para o perfeito idiota

A festa de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris ainda estava pelo meio quando dois brasileiros se apresentaram para disputar a medalha de ouro na modalidade O Perfeito Idiota: o general Hamilton Mourão, o vice-presidente da República desprezado por Bolsonaro enquanto governou, e o delegado Alexandre Ramagem, incensado por Bolsonaro até quê…

O delegado é mais forte candidato ao ouro do que o general, um simplório amante de cavalos. Mourão limitou-se a abrir a boca para dizer mais uma de suas besteiras, sequer merecer ganhar a medalha de bronze. Ramagem, não: esqueceu o que aprendeu nas aulas de espionagem e guardou para a posteridade provas dos seus crimes.

Para a posteridade, não: para que a Polícia Federal as encontrasse nos seus arquivos. Ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), Ramagem pregou contra a lisura do processo eleitoral brasileiro e a favor de rupturas com a democracia. Fez um dossiê sobre procuradores da República que investigavam Bolsonaro e seus filhos.

O material colhido em buscas e apreensão reforçam a suspeita da Polícia Federal de que a ABIN foi usada para a propagação de notícias falsas e o questionamento por Bolsonaro do resultado das eleições de 2022. Em depoimento prestado no último dia 17, Ramagem disse não se lembrar se os textos de sua autoria foram enviados a Bolsonaro.  Compreensível.

A projeção de Ramagem deve-se a Bolsonaro e aos seus filhos que confiaram nele. Bolsonaro quis nomeá-lo Diretor-Geral da Polícia Federal, mas o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, não deixou. Com o apoio da primeira família presidencial brasileira, Ramagem elegeu-se deputado federal e é candidato a prefeito do Rio.

A família indignou-se ao saber que Ramagem não apagou os arquivos dos seus computadores. Só não rompeu publicamente com ele porque isso equivaleria a admitir que a história contada pela Polícia Federal é verdadeira. O criminoso sempre volta ao local do crime. Ramagem não precisou voltar. Carregou o local do crime a tiracolo.

À falta do que fazer, o general Mourão escreveu no X, ex-Twitter, que a “ida de Janja à França é algo lamentável para o Brasil, que pretere seu vice-presidente e seus ministros em uma missão protocolar de representação. O Itamaraty deveria explicar como manobrou para obter as credenciais de chefe de Estado para a primeira-dama”.

Assim o Itamaraty manobrou: acionou a embaixada da França em Brasília, e a do Brasil em Paris, para que obtivessem a credencial. Lula fora convidado para a abertura dos jogos. Designou Janja para representá-lo. O presidente Joe Biden, dos Estados Unidos, que não pode ou não quis ir, também designou sua mulher. Nada demais, viu, Mourão? Vai te catar.

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