Nesta segunda-feira, 24, o ex-governador de São Paulo, João Doria, foi o entrevistado do Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, onde analisou o começo da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à frente da presidência da República. Para o empresário, o clima ainda é de incertezas, principalmente no campo econômico: “Estamos com praticamente 120 dias de governo e ainda não há clareza sobre o perfil e as propostas do governo Lula para este mandato. Existe um esforço grande do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que tem dialogado bem com setores produtivos, não só em São Paulo, mas em todo o país. A ministra Simone Tebet também. Houve uma evolução positiva na questão ambiental. O Brasil caminhava para trás no tema meio ambiente e hoje já há uma atmosfera melhor. Isso ajuda positivamente em decisões de investimentos. Mas ainda falta um projeto de governo, não está claro qual é esse projeto. Espero que, ao longo dos próximos dias, haja menos embates e mais clareza nas postulações, propostas e um compromisso mais pacificador”.
Recém chegado da conferência do Grupo Lide, em Londres, Doria afirmou que um dos temas mais comentados do evento foi o embate entre Lula e o Banco Central a respeito da taxa Selic e como a sua redução depende da aprovação do arcabouço fiscal: “O principal tema foi taxa de juros. Há um reconhecimento de todos de que a taxa de juros é elevada. 13,75% é uma taxa elevadíssima. Mas houve também um consenso de que o conflito, o emparedamento e disputa política em torno de um tema técnico não é saudável para o Brasil. A defesa feita por Roberto Campos Neto foi fundamentada em aspectos técnicos e não aspectos políticos. Para que tecnicamente a taxa de juros possa ser reduzida com segurança, não por um ato político, mas por um ato técnico e de longa duração, é preciso que tenha o arcabouço fiscal com equilíbrio fiscal claramente colocado e projetado por um longo período (…) Mas é preciso colocar claramente e objetivamente qual o limite dos gastos públicos”.
“Não se pode gastar indefinidamente. O aumento da arrecadação é possível? É. Existem várias plataformas de serviços no Brasil que não arrecadam impostos. Esse é um ponto positivo para o aumento da arrecadação, sem necessariamente aumentar o ônus daqueles que já pagam muitos impostos. É preciso também melhorar a fiscalização para reduzir a sonegação fiscal no Brasil. Ou seja, um ambiente de comprometimento técnico e político. E não um ambiente de confronto entre o técnico e o político”, analisou.
A respeito da tramitação da reforma tributária, o empresário acredita que o clima é favorável politicamente para a sua aprovação, apesar de certas questões que devem ser corrigidas e tratadas: “Há um clima de dúvida em relação à reforma tributária (…) Há um bom relator, o deputado Agnaldo Ribeiro, extremamente equilibrado, um bom dialogador e tem se assessorado bem para preparar a relatoria dessa PEC 45, elaborada pelo Ministério da Fazenda com a equipe liderada pelo Bernard Appy. Eu confio que há um sentimento de necessidade e uma necessidade imediata. Governadores também se manifestaram nesse sentido, ou seja, é importante que a reforma tributária aconteça. Há tempos atrás, provavelmente muitos governadores diriam que não é o momento da reforma tributária. Agora há quase um consenso de que é preciso fazê-la. Evidentemente, com bastante diálogo”. Confira a entrevista completa no vídeo abaixo.