A última semana foi agitada para o mercado farmacêutico. Na segunda-feira, 21, o laboratório Hypera recebeu proposta para unir negócios com a EMS, do grupo NC Farma. A oferta envolvia a aquisição de até 20% das ações da Hypera, ao preço de R$ 30 por papel. No total, a oferta superava R$ 3,8 bilhões. Um movimento estratégico em um dos setores mais pujantes da economia brasileira, mas que subiu no telhado na quinta-feira (24) quando a Hypera, liderada pelo CEO Breno de Oliveira, informou ter rejeitado a proposta. O tom, inclusive, foi duro e argumentava que a busca por incorporação nunca havia sido pedida ou solicitada.
Apesar do desapontamento do mercado, já que corretoras e bancos haviam ratificado o potencial da junção, a mensagem geral é que o quase negócio também foi representativo, mesmo sem ter sido firmado.
Atualmente, segundo a PwC, o Brasil é o sexto maior mercado farmacêutico do mundo, com potencial de grande penetração de novos medicamentos e mercados. O que torna as atividades de fusões e aquisições bastante requisitadas.
A tendência acompanha o andamento do mercado de M&A no Brasil que, segundo dados da KPMG, referentes ao primeiro semestre, cresceram 5,3%, somando mais de 770 transações apenas entre companhias tupiniquins. Entre os setores de destaque, além do farmacêutico, energia e telecomunicações estão entre os mais negociados.
Foram realizadas 256 operações domésticas entre organizações brasileiras, que lideraram as transações, seguidas de operações de empresas de capital majoritário estrangeiro (95) que adquiriram de brasileiros capital de estabelecidas no País. Segundo a KPMG, com o comportamento da moeda brasileira, os negócios envolvendo estrangeiras por aqui pode se fortalecer ainda em 2024. O estudo da KPMG considerou operações acima de R$ 50 milhões.
No mundo, o setor também é um dos favoritos para unificação.
• Ano passado, o maior negócio firmado foi a compra da Seagen pela Pfizer, por US$ 43 bilhões.
• Em 2019, foi a vez da AbbVie comprar a Allergan, por US$ 63 bilhões.
NÃO-NEGÓCIO
Se a fusão tivesse avançado, a nova gigante deteria 17% de participação no mercado brasileiro, o que representa mais que o dobro da fatia de mercado da segunda colocada, a Eurofarma, com uma receita líquida de R$ 16 bilhões.
O acionista de referência da Hypera, o empresário João Alves de Queiroz Filho, o Júnior, que tem pouco mais de 20% da companhia, divulgou comunicado logo após publicação do fato relevante que descartava a compra. “Concordamos em absoluto com a decisão pela recusa da proposta e reiteramos nosso compromisso de apoiar o plano estratégico de longo prazo da companhia, bem como as diretrizes de governança corporativa e cultura construídas ao longo dos últimos anos”, disse, em nota. Ao lado da holding mexicana Maiorem, Júnior exerce o controle com 36%.
Pelo lado da EMS, a potencialidade da compra foi especulada quando Carlos Sanchez, fundador e líder da EMS, comprou ações da Hypera há alguns meses atrás. O assunto, no entanto, não havia sido tratado publicamente até o dia 21.
O passo, então, foi dado depois que a Hypera anunciou ao mercado, em 18 de outubro, ter iniciado um “processo de otimização do capital de giro”, por meio da redução da política de prazo de pagamento concedida aos clientes. A companhia informou na ocasião que o objetivo era incrementar sua geração de caixa operacional em cerca de R$ 2,5 bilhões até 2028 e em R$ 7,5 bilhões nos próximos dez anos.
Para João Daronco, analista da Suno Research, a proposta refletiu o setor de saúde. “Com as operadoras pressionadas por margens menores, toda a cadeia de saúde sente. Embora haja sinais de recuperação, ainda são modestos”, disse. Ele confirmou ainda que a discussão sobre um eventual negócio envolvendo a Hypera já acontece há algum tempo. “Entendo que, cada vez mais, movimentos de consolidação desse tipo são naturais no mercado de saúde.”
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