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[Jucuruçu] Famílias Sem Terra são despejadas e denunciam poder judiciário

Nas primeiras horas desta quarta-feira (11), 110 famílias Sem Terra que estão acampadas na fazenda Pedra Redonda (1.460 ha), em Jucuruçu, no extremo sul da Bahia, começaram a recolher seus pertences e abandonar seus barracos.

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Esta ação cumpre as exigências de uma liminar de despejo emitida pelo poder judiciário local, representado pelo juiz Rafael Siqueira Montoro.

As famílias ocuparam a fazenda após cumprir um primeiro mandato de despejo realizado de maneira desrespeitosa e truculenta no dia 22/10. 

Na ocasião, os trabalhadores foram surpreendidos com a ordem judicial solicitada pelo proprietário, Ivan José de Santana, que ameaçou destruir a produção e os pertences pessoais dos acampados com um trator.

Em resposta a esta agressão, as famílias impediram que seus pertences fossem destruídos, gerando uma repercussão negativa em toda região e sendo caracterizados como “organização criminosa e uso de táticas de guerrilhas” neste segundo mandato de reintegração de posse pelo juiz Rafael.

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Para direção estadual do MST, os trabalhadores são tratados como bandidos e baderneiros pelo poder público que deveria cumprir a função de proteger os cidadãos e garantir o que está escrito na Constituição Federal, inclusive a lei que assegura a desapropriação de terra improdutiva para fins de Reforma Agrária. 

“Este modelo burguês de sociedade possui um lado e este não está em defesa dos interesses da classe trabalhadora, pois utiliza as instituições do estado para validar o seu poder. Não vamos parar de fazer luta e vamos avançar no diálogo com a sociedade”, destacou.

Pistolagem

De acordo com as famílias, “além da criminalização da luta por parte do poder judiciário, estamos sendo ameaçados cotidianamente por seis pistoleiros que estão sob as ordens do latifundiário”. 

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Nos arredores do acampamento, foi visto homens circulando frequentemente em uma caminhonete Hilux preta, com óculos escuro, gorros na cabeça, e em alguns momentos, realizando diversos disparos de armas de fogo durante as noites.

“Este tipo de ação é para humilhar e coagir as famílias”, enfatiza a direção.

 

Violação dos Direitos Humanos

O latifundiário possui outra grande fazenda na região e os poucos trabalhadores de ambas propriedades vem denunciando o método desumano utilizado. 

“Trabalhei de segunda a segunda em uma das propriedades do fazendeiro e nenhuma oportunidade era dada para a gente. Não tínhamos horário de descanso e quando eu saí da fazenda não tive direito a nada, mesmo depois de dois anos de serviços prestados”, destacou Manoel Firmino, acampado.  

Segundo os Sem Terra, este método “desrespeita os Direitos Humanos e se configura como trabalho semiescravo”.

Produção de alimentos

A ocupação é fruto da Jornada Nacional de Lutas em defesa da Reforma Agrária, realizado no mês de abril deste ano, para denunciar a concentração de terra e os altos índices de violência no campo. 

Na ocasião, os Sem Terra relatam que encontraram a fazenda em total abandono.

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“Aqui não tinha nada. A fazenda estava abandonada e os pastos estavam cheios de mato. Não tinha nenhum gado. Quando nós entramos e começamos a plantar, o fazendeiro alugou os pastos e colocou vacas e bois para maquiar uma falsa produção de gado leiteiro”, denunciou os trabalhadores.

As famílias, em apenas seis meses, construíram barracos, ruas no acampamento, estradas, garantiram água potável, energia e uma diversidade de produtos, como: milho, feijão, mandioca, verduras e temperos.

A produção estava sendo fornecida nas feiras, semanalmente, em Jucuruçu e povoados vizinhos.

“Eu sempre tive muita vontade de morar no campo de novo, mas nunca tive condições para comprar meu pedaço de terra. Junto com os outros companheiros, a única coisa que eu quero é plantar, colher e ter fartura na minha casa”, disse Marilene Brito, acampada.

Já Ueliton Meneses, também acampado, sonha em garantir o futuro melhor para seu único filho. “Quero que minha família possa ter vida digna e que meu filho possa cursar uma faculdade. Isso eu vou conseguir produzindo na terra”. 

Após a saída dos trabalhadores da fazenda um trator derrubou os barracos, fogo foi ateado em alguns pertences e a produção destruída. 

Neste momento, as famílias encontram-se acampadas a três quilômetros da fazenda, obedecendo a ordem judicial.

Por | Coletivo de Comunicação do MST

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