A história dos Estados Unidos da América, também é uma história de guerras e alianças com a América Latina. Inicialmente estabelecido como 13 colônias britânicas, o território estado-unidense foi se expandindo rumo ao sul e ao oeste, territórios previamente colonizados pelos franceses e espanhóis e que posteriormente viriam até fazer parte da Segunda República Federal do México. A Guerra Mexicano-Americana entre 1846-1848 teve como resultado a entrega para os americanos do atual estado da Califórnia, Nevada, Utah, a maior parte do Arizona, a metade ocidental do Novo México e um quarto do Colorado. Anexando territórios latinos, muito da cultura e do próprio povo latino-americano seriam gradualmente parte intrínseca da vida e da política dos Estados Unidos. Desde então várias ondas migratórias transformaram os hispânicos ou latinos na maior minoria em solo norte-americano, representando hoje mais de 18% da população, o que totaliza mais de 62 milhões de pessoas de todas as partes das Américas. Esses dados por si só são impressionantes, mas quando olhamos para o número de eleitores registrados desse mesmo corte demográfico chegamos ao também significativo número de mais de 36 milhões de pessoas em um universo de 160 milhões de eleitores. Milhões de latinos e hispânicos e seus descendentes estão espalhados por todos os estados do país, e têm um peso ainda mais evidente na balança eleitoral dentro dos estados pendulares.
Durante essa semana o comediante Tony Hinchcliffe fez comentários racistas e xenofóbicos contra a população latina enquanto falava em um comício republicano em Nova York. Hinchcliffe se referiu ao território não incorporado de Porto Rico, como uma “ilha flutuante de lixo no meio do oceano”. A campanha de Donald Trump argumentou que não conhecia o texto do comediante antes de sua apresentação, mas condenou veementemente a declaração xenofóbica em seu comício. Ao mesmo tempo milhões de porto riquenhos que vivem nos Estados Unidos e estão aptos a votar, lideram uma corrente de pensamento contrária aos republicanos na Pensilvânia e outros estados chave, fazendo também com que o restante da população latina repense seu voto com apenas 5 dias para a grande decisão. Em 2020, centenas de milhares de imigrantes e descendentes de cubanos, venezuelanos e nicaraguenses ajudaram a assegurar o estado da Flórida para o republicano Donald Trump, exatamente por emigrarem de países autoritários ou ditatoriais de esquerda. Ao mesmo tempo os imigrantes e descendentes mexicanos no estado pendular do Arizona, ajudaram a eleger Joe Biden, tornando o estado azul após décadas de cor vermelha.
Nessas eleições a população latina expressiva nos estados do Arizona, Nevada, e modesta nos estados Pensilvânia e Michigan poderá fazer uma grande diferença. Considerando que em apenas um ciclo eleitoral, desde 2020, quase 4 milhões de novos eleitores latinos ou hispânicos se tornaram aptos a votar, vemos que agradar o eleitorado dessa demografia é essencial para ambos os partidos conseguirem perenidade política seja na esfera estadual ou federal. As questões relacionadas a imigração ilegal também são temas extremamente próximos a população latina, já que pela fronteira sul dos Estados Unidos milhões de latino americanos fazem a travessia ilegal todos os anos, representando um grande desafio na acomodação dessas pessoas para a União e também uma crescente problemática nas questões de segurança pública considerando a entrada de muitos criminosos e pessoas má intencionadas entre as centenas de milhares de pessoas descentes e trabalhadoras em busca de uma vida mais digna.
Seja qual for a preferência do eleitorado latino nesses estados chave e na eleição geral, aquilo que podemos observar desde já, é que os blocos demográficos nos Estados Unidos não são monolíticos, ou seja, não votam de maneira homogênea e não podem ser tratados como um grupo com as mesmas necessidades e desejos. Com dezenas de milhões de habitantes provenientes de dezenas de países, cada vez mais, o eleitorado latino tem se mostrado heterogêneo em suas escolhas, ponderando questões de cunho profissional e econômico como prioritárias em detrimento de políticas identitárias ou posturas e falas racistas de pessoas de baixo intelecto. Provavelmente essas eleições em 2024 deixarão claro que o voto latino é fundamental para se ganhar a corrida à Casa Branca, mas que também é um voto de opiniões tão diversas, quanto a própria diversidade da América Latina.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.