Uma nova pesquisa sobre violência no ambiente escolar mostra que 8 em cada 10 educadores já sofreram algum tipo de agressão no trabalho. A pesquisa foi feita pela Nova Escola em parceria com o Instituto Ame Sua Mente. Ao todo, foram ouvidos 2.752 educadores, sendo que 50,3% atuam na rede pública municipal, enquanto 38,4% são da rede pública estadual, 14,9% da privada e 3% da pública federal. Do total, 77,6% dos educadores são do sexo feminino, ante 22,2% do masculino e 0,2% trans e não-binários. Dentre os tipos de agressões sofridas pelos docentes, a verbal é a mais recorrente, com 76,1% dos professores relatando casos. Em seguida, vêm a psicológica e moral, com 41,5% dos educadores dizendo terem sido vítimas da violência.
A pesquisa mostra ainda que 6 em cada 10 relatam aumento da violência de alunos contra professores e funcionários das escolas, o que faz com que 60% dos professores temam pela integridade física ao repreender algum aluno. Em relação a 2022, houve crescimento, já que, no ano passado, 5 em cada 10 afirmavam ter esse receio. Questionados sobre a frequência dos casos, 38,5% relataram episódios mais de uma vez por semana, enquanto outros 32,5% consideram algo diário.
De acordo com o levantamento, os próprios alunos são responsáveis pela maioria das agressões, com 58,6% dos casos. Em seguida, vêm os familiares dos estudantes (31,3%). A violência sofrida pelos educadores foi maior na rede de ensino pública, com 66,6% dos docentes relatando episódios, em comparação com a rede privada, na qual 49,9% disseram ter sido vítimas. No caso de violência verbal, 44,1% dos educadores relataram ter sofrido esse tipo de agressão na rede pública, número que cai para 30,9% na rede privada. A violência entre os alunos foi observada por 7 em cada 10 educadores, enquanto a autoviolência, quando os alunos machucam a si mesmos, foi notada por metade dos professores. Os educadores atribuem o aumento dos problemas psicológicos ao isolamento causado pela pandemia, seguido pelos comportamentos estimulados por redes sociais, pela influência dos familiares e pelas condições de vulnerabilidade. Segundo o estudo, 9 em cada 10 educadores acreditam que a violência tem impacto na saúde mental e emocional dos professores e alunos, assim como afeta o aprendizado dos estudantes.
“Quando vemos jovens cometendo violência de grande intensidade, entendemos que é a ponta do iceberg, porque muitas coisas aconteceram antes disso para desencadear uma reação tão grave. A escola é, naturalmente, um espaço de mediação de conflitos, onde se dá a formação socioemocional das crianças e adolescentes, à medida que os educadores precisam lidar com a competição entre os alunos, as frustrações, os confrontos com o professor… A questão é saber trabalhar com essas situações adequadamente. A escola é um lugar de construção do futuro. Está na hora de instalar uma cultura de saúde mental nas escolas, de forma que tenhamos ferramentas estratégicas para conseguir identificar, manejar e encaminhar as situações que ocorrem no ambiente escolar”, diz Rodrigo Bressan, psiquiatra e presidente do Instituto Ame a Sua Mente, um dos autores da pesquisa.
Mais da metade dos educadores (53,7%) responderam não ter recebido formação para enfrentar casos de violência na escola, sendo que, entre os que não receberam, 90% disseram desejar ter recebido. Os educadores da rede pública acreditam que a promoção da saúde mental pode ser uma solução, enquanto os da rede privada apostam no desenvolvimento de competências socioemocionais com o aluno. A maior diferença entre as redes pública e privada se dá nas políticas públicas e de segurança.
Para a pedagoga e CEO da Nova Escola, Ana Lígia Scachetti, a solução passa por diversas esferas. “Os dados mostram que, após os ataques ocorridos neste ano, os educadores estão com medo. É importante mapear esse cenário para, a partir daí, tomar iniciativas que envolvam comunidade escolar, políticas públicas e demais setores da sociedade para apoiar os professores, que são os grandes agentes de transformação social. Não existe uma sociedade que possa evoluir sem o respeito e a dignidade dos educadores”, diz.
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