“Eu não quero lacrar, mas é minha única saída”, desabafou o empresário Pablo Marçal, candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo, em conversa com um grupo de amigos. Ninguém é obrigado a lacrar, mas ele acha que não tem outro jeito para se eleger.
Poderia ter propostas para governar a capital mais importante do país e, com elas, atrair eleitores – mas não as tem. Marçal carece de ideias. Poderia atrair eleitores por ter se destacado como um empresário bem-sucedido, mas não é esse o seu caso.
Destacou-se como um charlatão capaz de operar o milagre de fazer andar uma cadeirante; um vendedor de cursos online, que mistura valores religiosos com outros inventados por ele, para quem imagina ser possível ficar rico num curto espaço de tempo.
A cadeirante não andou. Está para contado o número dos seus alunos que enriqueceu num piscar de olhos. Rico quem ficou foi ele, que viu na política mais uma oportunidade de fazer fortuna e – quem sabe? – ganhar imunidade para salvar-se de processos.
Dado o tamanho minúsculo do seu partido, Marçal não tem direito à propaganda eleitoral no rádio e na televisão. O que lhe resta? Participar de debates – não lhe faltam convites para tal. E criar factoides para recortá-los e postar nas plataformas digitais.
É o que tem feito – e, admita-se, dando-se bem. Ele os chama de “ondas de energia”. A primeira quebrou na praia no debate promovido em 8 de agosto pela Rede Bandeirante de Televisão. Marçal insultou seus adversários e batizou-se com apelidos.
Uma semana depois, esfregou uma Carteira de Trabalho na cara de Guilherme Boulos (PSOL), insinuando que ele nunca trabalhou. Insistiu em referir-se a ele como “cheirador de pó”. Em 10 de setembro, quase apanhou de tanto xingar Luiz Datena (PSDB).
O factoide seguinte gorou. No 7 de setembro da Avenida Paulista, em um ato comandado por Bolsonaro para pedir o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, Marçal tentou ser a estrela do espetáculo. Foi proibido de subir no palanque e escorraçado de lá.
Ao ver Datena fragilizado por seu mau desempenho nos debates, sentiu gosto de sangue e novamente o provocou no debate do dia 15. Foi o dia da cadeirada, quando Marçal posou de vítima e encenou uma saída às pressas do palco dentro de uma ambulância.
A sua e a rejeição a Datena cresceram. Marçal prometeu apresentar-se doravante com sua versão mais branda, ao gosto do público que lhe cobrava moderação. Acabou expulso, e um dos seus assessores deu um soco na cara do marqueteiro do MDB.
É como a história da rã que pegou carona com um escorpião para atravessar um rio. Ela acreditou que não seria picada porque, se fosse, os dois morreriam afogados. O escorpião a picou assim mesmo. É da natureza do escorpião, e de Marçal, picar.
Se você gosta de ver um escorpião em plena atividade, terá pelo menos mais três chances, anote:
* TV Record: 28 de setembro, às 21h
* UOL/Folha de S.Paulo: 30 de setembro, às 10h
* TV Globo: 3 de outubro, às 22h
Mantenha-se distante dele para não ser envenenado.