São Paulo — Investigação do Ministério Público de São Paulo (MPSP) sobre a existência de um “ecossistema de crimes” comandado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) no centro da capital paulista mostra como a facção lucrava sobre a exploração sexual na região. Os promotores identificaram pelo menos dois edifícios, apelidados de “prédio do sexo”, que funcionavam como complexos de prostituição. Um deles tem mais de 10 andares.
Nos locais, mulheres dependentes de drogas eram submetidas a situações degradantes e obrigadas a manter relações sexuais mesmo com doenças venéreas. Algumas delas, segundo investigação conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), tinham relações sexuais com os “clientes” em troca de entorpecentes.
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Prédio do sexo
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Os andares são subdivididos em pequenos cubículos por divisórias. Os “quartos” não possuem banheiros e as roupas de cama apresentam “extrema” falta de higiene. Os promotores afirmam que os edifícios chegaram ao domínio do PCC por meio de seus antigos porteiros, que se filiaram à facção paulista e estabeleceram a “disciplina” do crime nos locais.
Menores de idade Em um dos prédios, o Edifício Itatiaia, localizado na Avenida Barão de Limeira, em Campos Elíseos, os promotores constataram a presença de mulheres que “aparentam ser muito novas e menores de idade”, que também faziam sexo em troca de drogas.
Segundo os promotores do Gaeco, no local um homem transitava entre os andares com uma pequena caixa oferecendo preservativos, óleos lubrificantes íntimos, estimulantes e remédios para disfunção erétil. Cada andar tem um pequeno bar, que comercializa bebidas alcoólicas.
No outro prédio, o Edifício Renda, localizado na Rua dos Andradas, os promotores levantaram que a maioria das garotas de programa tinha entre 18 e 30 anos, mas também apontaram para a possível presença de menores de idade.
Núcleos do PCC A atuação do PCC no ramo da prostituição e da exploração do sexual foi apenas um dos núcleos do “ecossistema do crime” no centro de São Paulo citados pelos promotores do Gaeco na Operação Salus et Dignitas, deflagrada nessa terça-feira (6/8), na região da Cracolândia.
No pedido de medidas cautelares que deu origem à operação, eles citaram a atuação da facção no ramo de ferro-velho, com trabalho análogo à escravidão e dependentes químicos trocando materiais recicláveis por drogas, e hospedarias, usadas pela organização criminosa para lavar dinheiro e armazenar entorpecentes.
Ao todo, 44 imóveis foram interditados nessa terça-feira, entre bares, hotéis, hospedarias e ferros velhos.
O MPSP também detalhou a atuação do PCC no comércio de armas e na receptação de celulares no centro de São Paulo.
A operação do MPSP ainda mirou o que os promotores classificaram como uma “milícia” formada por guardas civis metropolitanos (GCMs) e policiais militares (PMs) para extorquir comerciantes do centro da capital em troca de proteção a seus comércios.
Os milicianos, de acordo com o Gaeco, também negociavam armas e equipamentos, como a chamada “vassourinha”, um detector de sinais de radiofrequência, usado pelo PCC para monitorar a comunicação entre forças de segurança.
A investigação do MPSP aponta Valdecy Messias de Souza e Paulo Márcio Teixeira como os principais negociadores de rádios transmissores, ilegalmente codificados, principalmente na frequência restrita da Polícia Militar (PM). Outros órgãos da Segurança Pública estão incluídos na lista.
Favela do Moinho A investigação aponta, ainda, que a Favela do Moinho, no centro da cidade, se tornou uma espécie de “fortaleza do PCC”. A comunidade é usada como central de monitoramento das atividades da polícia e, também, para a “manutenção da ordem” na região da Cracolândia, por meio de “tribunais do crime”.
O sistema de “antenas” do PCC posiciona vigias, também chamados de olheiros, em pontos estratégicos da Favela do Moinho, que fica nas proximidades dos trilhos que cortam a região central da cidade, entre os bairros Barra Funda, Luz e Brás, estrategicamente nas cercanias da Cracolândia.
A investigação do Gaeco identificou que olheiros da favela se posicionavam em ao menos três pontos, usando como codinome o local do qual monitoram a movimentação. A entrada da comunidade, onde há uma bananeira em frente ao acesso, é o principal ponto no qual os criminosos usam o rádio, buscando informações das polícias.