Entre as muitas questões que envolvem o uso inadequado ou prejudicial das redes sociais, está o sharenting. A prática que abrange o compartilhamento de publicações de crianças levanta preocupações, tendo em vista a vulnerabilidade e riscos que a exibição infantil traz aos pequenos.
O fato é que hoje em dia é muito comum os pais serem os principais responsáveis por essa exposição. Afinal, antes mesmo de a criança nascer, já compartilham fotos do exame de ultrassonografia e, depois do nascimento, enchem o feed com todos os passos e rotina da criança. Mas, o que é exatamente sharenting e quais medidas tomar para evitar tal prática? Confira!
Leia mais
- Inteligência artificial ameaça privacidade de crianças; saiba como se proteger
- PimEyes: 5 alternativas ao programa de reconhecimento facial
- Veja por que você deveria seguir exemplo de Mark Zuckerberg e proteger seus filhos
O que é sharenting?
Com milhares de seguidores nas redes sociais, muitos famosos costumam dividir com o público sua rotina e alguns não hesitam em exibir seus filhos desde muito cedo. Esse é o caso da influenciadora e apresentadora Virginia Fonseca, que possui mais de 50 milhões de seguidores apenas em seu perfil no Instagram.
A influenciadora, que é casada com o também famoso e cantor Zé Felipe, é mãe de três filhos, que já são mais conhecidos no Brasil do que muita celebridade. Para se ter uma ideia, vídeos em que aparecem uma das filhas do casal chegam a ter mais de 22 milhões de visualizações no perfil das crianças no Instagram.
No entanto, essa dimensão pode ser muito maior, pois muitas páginas de fãs repercutem várias outras postagens da influenciadora, que também somam mais e mais visualizações.
No entanto, essa prática conhecida como sharenting é uma realidade comum a todos, independentemente de serem famosos ou não. A origem do seu nome é em função da junção das palavras em inglês “share” (compartilhar) e “parenting” (paternidade).
Dessa forma, sharenting significa a criação e compartilhamento de conteúdo nas mídias digitais pelos pais ou parentes próximos da criança, em que é comum a exibição do comportamento ou imagens de seus filhos.
Quais riscos envolvem a prática do sharenting?
A dimensão do sharenting nas redes
Atualmente, o sharenting é tão natural que muitos pais nem chegam a se questionar sobre os riscos que correm. Para se ter uma ideia, uma pesquisa realizada pela AVG (empresa de segurança online) já mostrava que mais de 80% das crianças com menos de dois anos tinham presença online lá em 2010.
Um levantamento da Security ORG informa que quase 80% dos pais dizem que têm conexões nas redes sociais com pessoas que nunca viram na vida. Além disso, 29% dos pais admitiram que compartilham conteúdo sobre seus filhos sem consentimento da criança.
Em 2023, a prática foi tema de uma reunião entre representantes do Poder Judiciário e do Ministério Público. Na época, o conselheiro do Conselho Nacional de Justiça, (CNJ) Giovanni Olsson, enfatizou sua preocupação com as seguintes palavras: “O sharenting é um fenômeno social cujos riscos psicológicos ainda não estão dimensionados. Há uma certa normalização perigosa”.
Perigos do sharenting
Além das questões psicológicas, existe a questão da educação de comportamento. Afinal, crianças que crescem vendo seus pais compartilhando os momentos da vida nas redes sociais, já crescem com a mesma necessidade de afirmação social.
Não é à toa, que uma pesquisa publicada em 2022 pela TIC Kids Online Brasil, do Comitê Gestor da Internet no Brasil, revelou que 93% das crianças e dos adolescentes de 9 a 17 anos de idade estão conectados no país. Em outras palavras, isso significa que a internet tem 22,3 milhões de pequenos usuários brasileiros.
Outros problemas, podem ser ainda mais graves, como o roubo de identidade, pois uma vez que os pais compartilham fotos, nomes, datas de nascimento e localização de seus filhos as portas para criminosos cibernéticos se abrem.
Mas, muito além disso, os próprios pais sem querer podem estar aproximando seus filhos de predadores da internet, como pedófilos, por exemplo. E, mesmo que alguns pais contem com as configurações de privacidade em seus perfis, a verdade é que depois de compartilharem fotos de seus filhos, há poucos recursos para gerenciar o que as pessoas fazem com as imagens.
Sharenting: como os pais podem se proteger de possíveis perigos
Quando o assunto é compartilhar fotos das crianças, às vezes, o melhor é se resguardar e realmente adotar maiores medidas de proteção. Um bom exemplo disso entre as celebridades, é a atitude da cantora Sandy, que ao contrário da Virginia, nunca em hipótese alguma exibe fotos do seu filho nas redes. A criança costuma aparecer raramente em fotos em que seu rosto não fica visível, geralmente em imagens de costas.
Talvez, esse cuidado possa parecer exagero, mas é exatamente o mais apropriado se tratando de menores de idade. Além disso, podemos observar no caso da cantora, que seu desejo foi respeitado pelos familiares e até mesmo pela impressa. No entanto, existem mais medidas que os pais podem tomar para evitar essa exposição dos filhos. Tais como:
- Conscientize sua família e amigos sobre o desejo da privacidade de seus filhos;
- Delimite as publicações e compartilhe apenas com a família e amigos próximos;
- Remova o recompartilhamento das fotos;
- Mantenha os metadados e a geolocalização desativados;
- Evite passar informações da criança (nome, idade, locais da rotina);
- Opte por plataformas de compartilhamento de imagens com criptografia de ponta a ponta.
O post Sharenting: como a exposição nas redes sociais ameaça a privacidade de crianças apareceu primeiro em Olhar Digital.