Depois de estrear sob grande expectativa,  Travessia, da TV Globo, não conseguiu cair no gosto do público e manter os bons índices de audiência conquistados por Pantanal, que o antecedeu na faixa. Ainda que represente o maior ibope nacional, a média dos 20 primeiros capítulos de Travessia, colocam a trama de Gloria Perez no patamar de Um Lugar ao Sol, protagonizada por Cauã Reymond no início do ano, que teve o pior desempenho de um desfecho no horário das 21h já registrado.

No sábado, 22 de outubro, Travessia marcou a pior audiência desde sua estreia no dia 10: 19,9 pontos na grande São Paulo, maior mercado de consumo e de publicidade do país. Para efeito de comparação, a menor audiência de um capítulo de sábado de Pantanal foi de 22,2 pontos, no dia da reprise do capítulo final. Já a pior performance de toda a produção ocorreu em 30 de março, uma quarta, e foi de 21,8 pontos.

Embora a história de Brisa (Lucy Alves), Ari (Chay Suede) e Chiara (Jade Picon) tenha estreado em meio à propaganda eleitoral obrigatória, que costuma afugentar telespectadores, o baixo desempenho também é atribuído por críticos de TV e internautas à trama confusa, repleta de acontecimentos que dificilmente encontrariam paralelo com a vida real, e a falta de atuações marcantes.

Para Sérgio Santos, o Zamenza, colunista do TV História, e fundador do blog De Olho nos Detalhes, os problemas de roteiro começam pela história da protagonista. “A novela estreou sem uma história concreta para contar. Por um momento pareceu que a protagonista é a Chiara e não a Brisa. E a narrativa em cima da Brisa é repleta de situações sem sentido”, opinou, em conversa com o Metrópoles.

A reclamação do crítico de TV reflete a dos telespectadores, que usaram o Twitter nos últimos dias para questionar vários aspectos da trajetória de Brisa. A personagem teve uma foto sua modificada digitalmente e associada a uma sequestradora de crianças, fato inspirado em uma história real e possível. O problema é que a imagem viralizou apenas no Maranhão, e, depois de ser detida por outras intempéries no Rio de Janeiro, a personagem praticamente escolheu ficar presa usando um nome falso.

“Sabemos que foi inspirado em um caso real de uma mulher que morreu espancada por causa disso, mas na ficção vem sendo explorado de forma rasa. Quando Brisa descobrir quem foi o responsável, o que ela vai fazer? Se vingar de um adolescente? E a notícia só viralizou no Maranhão? No RJ ninguém sabe? A mocinha saiu da cadeia e nem procurou um contato com o filho em plena época de redes sociais. São situações difíceis de comprar. E também os ganchos não são bons. A autora parece perdida. É um início bem sem rumo”, critica Sérgio.

Outro problema notado pelo público foi a falta de continuidade da história de Helô e Stênio, que apareceram originalmente em Salve Jorge, há 10 anos. Os personagens de Alexandre Nero e Giovanna Antonelli não decepcionam, mas a filha que o casal fictício tinha na época, Drika, interpretada por Mariana Rios, sequer foi mencionada em Travessia, o que também não passou batido.

“São tantas coisas esquisitas que fica difícil escolher apenas algumas para ilustrar o absurdo que está servindo como atração principal do horário nobre da Globo”, detonou o crítico e colunista do UOL, Lucas Barros, o Chico Barney. “E a filha da Helo com o Stenio? Morreu ou tá na Record?”, ironizaram internautas.

A falta de atuações marcantes também virou um problema em Travessia. Escalada para um papel de destaque sem ter experiência na área, Jade Picon não conseguiu que o público encarasse sua estreia com o mesmo otimismo de Gloria e do diretor Mauro Mendonça Filho, que por vezes saíram em defesa da influenciadora.

Nada impede que Jade se torne atriz, mas com um papel tão importante, a inexperiência em conduzi-lo fica evidente, o que deveria ter sido avaliado pela produção antes da estreia. Uma das poucas únicas atuações de Travessia dignas de elogio ocorreu no primeiro episódio, por uma intérprete que já se despediu do folhetim: a ex-BBB Grazi Massafera.

Apesar das pontas soltas, os fãs de telenovela tem cada vez menos esperanças de que Gloria corrija os erros de Travessia até aqui. Além de já ter minimizado as críticas dos internautas à sua atual novela, mais de uma vez, ela também já deu a entender que o telespectador  tem responsabilidade sobre o conjunto da obra. “Pobre de quem não consegue voar”, escreveu ela em 2013 no Twitter. Ao que tudo indica, a opinião da escritora não mudou muito de lá para cá.