Uma competição torna-se tanto mais interessante quando medem forças times de capacidade equilibrada, como parece ser o bom exemplo desta noite, no clássico Bahia x Sport. Não atrase o dinheiro da pensão da criança, mas se precisar, tome algum emprestado (menos a banco). Se o condomínio já levou o último centavo, se vire. E este mês tem São João, Jah há de prover!
Nestas condições de distribuição de energeia (atividade) e dinamys (ser forte), torna-se mais presente a sensação do princípio agonístico, comportamento social relacionado à luta, a base de toda e qualquer disputa, cujo objetivo é vencer o adversário.
O agon, de onde vem a expressão “agonístico”, entre várias outras palavras da língua portuguesa, nasce na dramaturgia grega clássica, primeiro como combate verbal dos personagens em cena, no teatro pioneiro.
Professor Guto quer 33 mil pagantes, enquanto o docente rubro-negro também já se pronunciou, reafirmando a consistência de sua defesa, a articulação do meio-campo em um formato “losango”, além de sua orientação para os homens de frente permanecerem em incessante apetite de gol.
Dentro de campo, o comportamento agonístico correspondente ao do jogador assemelha-se ao dos animais não-humanos, considerando o contato físico aspecto fundamental. Trata-se de um jogo agressivo, cujo excesso de cuidados vem tirando o sabor das divididas: o juiz tem de dirigir assembleias desnecessárias, qualquer encostadinha, o jogador cai-cai.
A mercadoria precisa ser protegida, mas tornou-se péssimo hábito cair em campo, alterando o efeito de lances antes tão corriqueiros.
Embora o mundo possa ser interpretado como “movimentação” e “mudança”, a depender do pressuposto conflituoso, o planejamento não deve ser superdimensionado. Quando a bola rola, é provável toda a proposta ou uma grande parte dela sofrer a erosão inevitável da tal de “realidade”, conceito muito difícil de dizer, mais complexo a cada tentativa de definição.
Também não se pode garantir de o futuro repetir o passado, portanto bom retrospecto e ótima campanha são geradores de pautas para nós, jornalistas, mas não passam de projeções de como as equipes vão se comportar. É muito comum um time negar toda a expectativa dos especialistas.
Esta característica do futebol, ao aproximar-se da vida como ela é, faz deste esporte o mais imprevisível, tem a bola na trave, o impedimento mal marcado, o pênalti invisível a quem manipula a tecnologia do VAR, o gol espírita, quando a bola bate na canela do zagueiro e desvia, enfim, são infinitas as possibilidades de um lance fortuito mudar a história de um jogo.
A racionalidade do VAR, como tentativa de controlar a natureza do jogo, vem tirando um dos temperos mais importantes do futebol, a crença no erro como capaz de modificar o andamento do duelo, sem quebrar o ritmo, além de produzir combustível para resenhas intermináveis.
É como se a tecnologia, em si, substituísse a consciência e a capacidade do árbitro, em uma tendência quase mágica de alcançarmos a perfeição, fazendo o futebol aproximar-se do remo, do basquete e até do hipismo, com o uso do retrato de qual cavalo passou a marca primeiro, em caso de dúvida. Vamos ver um jogão de bola, Bahia x Sport ‘Ricife’!
Paulo Leandro é jornalista e professor doutor em Cultura e Sociedade.