InícioEditorialVestibular 60+, Covid e orçamento: Márcia faz balanço à frente da UnB

Vestibular 60+, Covid e orçamento: Márcia faz balanço à frente da UnB

Primeira mulher a comandar a Universidade de Brasília (UnB), a reitora Márcia Abrahão deixou o cargo nessa quinta-feira (21/11). De 2016 a 2024, Márcia esteve à frente da reitoria da instituição durante a pandemia de Covid-19 e lidou com corte de gastos na gestão Temer e Bolsonaro. Após os oito anos, ela destaca o vestibular para maiores de 60 anos e a construção de uma creche pública como os principais projetos.

“O vestibular 60mais é o grande xodó dentro da política de envelhecimento da universidade”. O projeto é visto como uma iniciativa para promover a inclusão de pessoas mais velhas na UnB.

Ao Metrópoles Entrevista, Márcia ainda apontou a implementação de políticas de inclusão e de sustentabilidade, além de projetos para a próxima gestão assumir, como a construção do Aula Magna – um auditório com capacidade para 1,5 mil pessoas.


“Eu acho que os grandes destaques são: a universidade ter conseguido se manter e crescer nesse período difícil. Tivemos um governo difícil e a pandemia. Crescemos em termos de obras e tivemos a melhoria substancial dos indicadores acadêmicos e uma política muito forte de direitos humanos”, disse. Na pandemia, a agora ex-reitora ressaltou que foi um desafio sem precedentes para a UnB e que a instituição teve de se adaptar ao ensino remoto, treinar professores e estudantes para o novo formato e garantir condições para que todos pudessem acompanhar às aulas on-line.

“Os indígenas, por exemplo, voltaram para suas tribos. Havia pessoas que não tinham acesso a um computador.  A gente tinha que colocar todo mundo no mesmo nível para poder recomeçar. Até mesmo professores. Tivemos muitas perdas de vidas. O Hospital Universitário, ele virou um hospital de referência aqui no DF e acolheu, inclusive, pessoas de Manaus, naquela crise”, destacou.

Para a ex-reitora, a UnB sai da pandemia organizada, modernizada e com contas em dia. Em relação ao orçamento, inclusive, Márcia reforça que lidou com uma redução significativa de recursos.

“Pegamos a universidade com 50% a menos de orçamento, tendo que manter a universidade funcionando, conseguimos aumentar o valor de bolsas de assistência estudantil só no ano passado quando as contas começaram a melhorar”.

Uma forma que a ex-reitora usou para driblar a falta de recursos foi com emendas parlamentares, doações e parcerias com entidades públicas e privadas.

“Se não for a parceria externa, você não consegue avançar. Então, por exemplo, nós estamos reformando a biblioteca com uma doação de R$ 2 milhões da embaixada dos Emirados Árabes Unidos. Acabamos de inaugurar uma terceira etapa de uma obra do Centro de Desenvolvimento Sustentável com dinheiro do Ministério da Saúde. Então você tem que ter parceria de todos os tipos com o governo, com empresa, com embaixadas”, disse.

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Márcia Abrahão

Entrevista com Marcia Abrahão, reitora da UNB
Entrevista com Marcia Abrahão, reitora da UNB
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Márcia Abrahão, reitora da UnB

Metrópoles

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Márcia Abrahão

Reprodução/Metrópoles

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Material cedido ao Metrópoles

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Entrevista com Marcia Abrahão, reitora da UNB

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Entrevista com Marcia Abrahão, reitora da UNB

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Márcia Abrahão, reitora da UnB: maior desafio será volta presencial após pandemia

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Atualmente, Márcia coordena a retomada das aulas na UnB

Divulgação/chapa Somar

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Daniel Ferreira/Metrópoles

Outra parceria de destaque na gestão foi com o projeto da creche na UnB. O plano é de 30% das vagas da creche sejam para os membros da universidade, incluindo técnicos, docentes, estudantes e terceirizados.

A gestão será da Secretaria de Educação, e a expectativa da ex-reitora, com base nas informações da SEDF, é que a creche comece a funcionar no início de 2025, com capacidade para atender 90 a 95 crianças.

“Além disso, nós, na nossa gestão, fizemos toda uma política para a maternidade e parentalidade, criamos auxílio creche. Hoje a gente já tem uma rede de apoio interna, fraldário, salas de amamentação etc”, completou.

A próxima reitora será Rozana Naves. Ela deve assumir assim que sair a nomeação que é feita pelo Ministério da Educação. O Metrópoles já entrevistou Rozana sobre o que espera à frente da UnB Veja neste link.

Leia entrevista completa:

Repórter: Olá! Este é mais um Metrópoles Entrevista e eu sou Jade Abreu, e estamos hoje com a reitora Márcia Abrão, que encerra nesta quinta-feira (21/11), oito anos de gestão à frente da Universidade de Brasília. Sob seu comando, a UnB lançou um vestibular para o público 60+, fez parcerias para obras dentro da universidade, inclusive com a construção de uma creche pública e a Aula Magna, que é um grande acontecimento prometido desde a construção de Brasília. Então temos grandes destaques dentro da sua gestão, reitora.

Reitora: Muito obrigada! Mais uma vez, por estar aqui no Metrópoles. Realmente, são oito anos, e a gente, quando olha para trás e vê quanta coisa pôde fazer… o vestibular 60+, que é um grande xodó nosso dentro da política de envelhecimento, também a creche pública, que aliás, hoje, junto com a secretária de Educação e a deputada Paula Belmonte, que deu a emenda, nós fizemos uma cerimônia para marcar o nosso acordo, a nossa parceria, com 30% das vagas para a nossa comunidade. E a Aula Magna, que é um grande auditório esperado desde a construção da UnB, e que agora nós já temos quase metade dos recursos do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento.

Repórter: A senhora poderia dizer que esses são os grandes destaques da sua gestão? Tem outros que gostaria de acrescentar?

Reitora: Eu acho que os grandes destaques são: primeiro, a universidade ter conseguido se manter e crescer nesse período difícil. Tivemos um governo difícil, a pandemia… Crescemos em termos de obras, como você falou, muitas obras, e tivemos a melhoria substancial dos indicadores acadêmicos e uma política muito forte de direitos humanos. Eu indicaria esses três itens.

Repórter: Em relação à pandemia, que a senhora comentou, agora no meio dessa gestão a senhora passou por esse momento. Não foi a única, no mundo inteiro passou, mas foi um desafio novo para todos. E nessa época a UnB investiu e entregou computadores para os alunos de baixa renda, conseguiu fazer políticas públicas diante do isolamento social, que foi necessário, mas também teve uma série de mudanças na rotina de calendários dos estudantes, professores, servidores… uma queixa enorme de pessoas cansadas, não devido à UnB, mas pela situação mesmo, que foi cansativa. De uma forma geral, quais foram os desafios naquela época e o que, hoje, ainda tem consequência, pelo que aconteceu na academia?

Reitora: Realmente, a gente jamais poderia imaginar. Já vínhamos de uma situação de redução de orçamento e nos deparamos com a pandemia, com sistemas que estavam obsoletos internamente. Estávamos num processo de mudança de sistema de gestão, e a pandemia nos forçou a acelerar esse processo, porque tivemos que mudar todo mundo para o remoto e treinar professores, treinar estudantes, dar condições, por exemplo, para indígenas voltarem para as suas tribos, pessoas que não tinham acesso a computador… Às vezes as pessoas perguntam: “Ela demorou a voltar?”. Não! A gente tinha que colocar todo mundo no mesmo nível para poder recomeçar. Até mesmo professores… Tivemos muitas perdas de vidas. O Hospital Universitário virou um hospital de referência aqui no DF, também acolheu, inclusive, pessoas de Manaus, naquela crise de Manaus. Tivemos toda uma situação de ajustes de espaços e, depois, para retornar ao presencial… é uma situação realmente dramática em termos de saúde física e mental. Já tínhamos criado uma diretoria de atenção à saúde da comunidade, mas tivemos que dar todo um cuidado para a saúde mental. Então, realmente, foi um desafio enorme, e ainda bem que a gente conseguiu superar… o calendário, como você falou, ele foi atropelado. Colocamos em dia o calendário. Esse ano teve a greve, e o calendário se ajustou novamente, mas já em fevereiro ele vai estar completo, e março recomeça o primeiro semestre de 2025.

Repórter: Reitora, quais são os legados que a senhora deixa para a próxima gestão?

Reitora: Eu acho que, primeiro, nós deixamos a universidade organizada, modernizada, com sistemas acadêmicos e administrativos, todos integrados. Antes a gente podia usar o sistema de matrícula de dentro da universidade, mas isso na pandemia não funcionava. Então deixamos uma série de sistemas, a universidade modernizada, com as contas em dia. Apesar de toda a crise, ainda deixamos dinheiro para começar o ano que vem, porque a gente sabe que às vezes o orçamento demora para ser aprovado. Uma política de direitos humanos belíssima, prêmio de direitos humanos, política de combate ao assédio, muitas obras concluídas em todos os campi. Uma universidade sustentável e ambientalmente uma das principais do Brasil. O campus do Gama, hoje, é autossuficiente em energia, com energia fotovoltaica. Indicadores acadêmicos muito melhores, e, além de tudo, uma relação muito mais próxima com a sociedade.

Entrevistadora: E há interesse em levar a energia solar para os outros campi?

Reitora: Todos os campi, hoje, têm energia solar, mas o Gama é o único que é autossuficiente, mas todos têm. Essa semana mesmo inaugurei mais duas plantas, uma na Secretaria de Tecnologia da Informação e outra na Faculdade de Tecnologia. Então, todos os campi têm. Estamos avançando nisso… hoje, o nosso… a poda de árvores, são todas reaproveitadas. Então, de fato, a UnB hoje é um exemplo em termos de sustentabilidade ambiental.,

Repórter: Falando em parcerias, também tem uma parceria com o BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], que já anunciou, fez reunião com o TCU [Tribunal de Contas da União] e está prestes a publicar um edital. Gostaria de ter informações sobre essa parceria. O que vai ser? Vocês falam muitas vezes em permuta, envolve a troca de um terreno, de construção? Pode dar detalhes desse projeto e se existe uma previsão de publicação do edital?

Reitora: Essa é uma excelente oportunidade para eu explicar para as pessoas. Todos sabem que a última quadra não construída de Brasília, que é a 207 Norte, no Plano Piloto, é da UnB, e aí nós fizemos uma parceria com o BNDES também para um terreno enorme no Setor Hoteleiro Norte, perto da Torre. E os dois… então, o BNDES disse: “Todo órgão público quer fazer um acordo com o BNDES porque ele tem credibilidade, o interesse dele é público.” E aí nós fizemos um acordo, não gastamos nada. O BNDES contratou um grande consórcio internacional, estudou o mercado de Brasília e nos entregou tudo pronto: o projeto e a proposta para fazer a licitação. Então já está tudo pronto. A UnB entrega os terrenos, e em troca a universidade recebe apartamentos residenciais, inclusive no setor hoteleiro, em troca do terreno, que é enorme. Em vez de a UnB receber quartos de hotel, o que é difícil de alugar – a gente não tem essa capacidade –, a gente vai receber, pelo menos, oito prédios inteiros na Asa Norte, em terrenos da universidade.

Então nós vamos deixar para a próxima gestão, mas pelo menos 11 prédios residenciais para poder alugar ou fazer a utilização, conforme decidido na universidade. Não sei se você sabe, mas a UnB é uma grande “imobiliária” aqui no DF. Quase mais de 40% do que nós gastamos mensalmente vem de arrecadação da universidade. Isso foi pensado na nossa lei de criação. Então, o que o BNDES fez foi isso: ele estruturou o projeto e entregou pronto para a gente, e nós agora só vamos licitar. Provavelmente, semana que vem a próxima gestão já pode licitar, porque foi para a Procuradoria Jurídica hoje, e agora o próprio BNDES está buscando parceiros no Brasil inteiro. No DF, quem se interessa? As grandes construtoras… São as grandes construtoras! Vão poder mais uma vez, como já foi feito outras vezes, vão poder pegar um terreno da UnB, construir um prédio residencial e devolver uma parte dos apartamentos para a universidade.

Repórter: Então, o BNDES, ele faz essa mediação.

Reitora: Exatamente! O BNDES faz essa mediação. A lei permite. Nós já fomos ao TCU, o TCU já viu o projeto… o BNDES já fez isso no Rio de Janeiro com a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ele faz com governos estaduais… no Brasil inteiro ele faz essa mediação. Ele faz o planejamento, ele estrutura o projeto e coloca no mercado para ajudar o órgão público, que não tem experiência para fazer isso. Então, o órgão público, por meio do BNDES, faz a licitação pública, e as empresas privadas do mercado que têm capacidade vão, então, fazer a construção.

Repórter: Como a senhora falou, são apartamentos residenciais, não necessariamente funcionais, e para aluguel, para gerar renda para a UnB…

Reitora: Isso! Exatamente! A lei de criação da UnB diz isso. A UnB recebeu patrimônio para poder financiar suas atividades acadêmicas. Se não fosse isso, durante a crise que passamos no governo passado, com redução de orçamento, a gente não teria condições de fazer a quantidade de obras que nós fizemos, mais de 70 obras, terminamos muitas obras inacabadas… tudo em função da nossa arrecadação. E agora nós estamos deixando… imagina você receber mais 11 prédios residenciais prontos, só para colocar no mercado, arrecadar e utilizar na sua universidade, que é o caso da UnB.

Reitora: Então a UnB, nesse projeto, ela… ela não está perdendo esses terrenos. Ela… nesses terrenos também vão ser construídos apartamentos que vão voltar para a universidade, e…

Reitora: Isso! É uma certeza. Então, hoje, esses terrenos estão parados, não rendem nada para a universidade. Ainda tem… toda vez… às vezes, dependendo do governo ou o próprio Congresso, eles querem tirar porque nós estamos com terrenos parados, sem render recursos para o governo, para a universidade, e deixando-os lá, parados, abandonados. Então eles, agora, vão ser construídos. A universidade pega apartamentos, e a construtora também tem a oportunidade de fazer o seu financiamento e vender. Isso aconteceu na 212 Norte, que era da UnB, na 214 Norte… é exatamente isso.

Repórter: Nessa semana, também foi anunciada a parceria da UnB com a Secretaria de Saúde para UBSs [Unidades Básicas de Saúde] na universidade. A UnB, hoje, tem o Hospital Universitário, que tem uma característica de hospital diferente de uma UBS, que é mais a primeira porta de entrada dentro do SUS [Sistema Único de Saúde]. Eu gostaria de saber se já tem uma estimativa de quantas UBSs… é uma só? Se já foi divulgado… os locais, por exemplo, vai ter uma aqui no Plano, vai ter uma no Paranoá, perto do campus de Planaltina, do Gama… como é que vai ser?

Reitora: Esse também é um projeto belíssimo, assim como o da creche. Nós já estamos, também, há algum tempo negociando com o GDF, pela Secretaria de Saúde, para construir essa UBS… uma UBS no campus Darcy Ribeiro, perto da Fiocruz, e que vai servir de modelo para o DF. A UnB já recebeu recurso de emenda parlamentar para fazer o projeto da UBS, e o DF vai administrar. Do mesmo modo, tem a previsão… isso aí já está mais adiantado, até… é o Centro Integrado de Saúde no campus de Ceilândia, porque lá em Ceilândia nós temos os cursos de Fonoaudiologia, Terapia Ocupacional… são outros cursos, e aí é uma forma, também, de os estudantes treinarem no centro de saúde e a população ser atendida. É semelhante ao que acontece no Hospital Universitário. A UBS… mas são propostas diferentes.

Repórter: Então vai ser construída ainda, e aí a gestão vai ser da Secretaria de Saúde.

Reitora: A gestão é da Secretaria de Saúde, assim como a creche, que a gestão é da Secretaria de Educação. A creche está linda, pronta! E hoje nós fizemos a entrega para a secretaria e o prefeito.

Repórter: E essa entrega já permite que os pais coloquem os filhos na creche? Até cinco anos? Ela será voltada para estudantes ou funcionários da UnB, servidores? Ou não é possível fazer essa divisão?

Reitora: Essa negociação demorou muito por causa disso, porque a gente não abria mão de ter uma parte das vagas para nossa comunidade. E a secretaria também entendia que isso era importante. Mas tivemos que fazer todo um acordo com o Ministério Público do DF. Então nós teremos 30% das vagas para a nossa comunidade. E aí pode ser técnico, docente, estudante ou terceirizado, mas de acordo com a renda, igual tem no DF. E, além disso, eles vão poder concorrer às outras vagas. E agora o GDF recebeu a creche, ele vai colocar porteiro, vai organizar quem é que vai trabalhar lá… Segundo a secretária, já no início do ano ela já consegue colocar turmas lá. São 90, 95 vagas.

Repórter: Muita gente deixa de estudar ou de trabalhar porque não tem onde deixar os filhos…

Reitora: Essa… essa é a ideia. Além disso, nós, na nossa gestão, fizemos toda uma política para as mães, a política para a maternidade e a parentalidade. Criamos auxílio-creche. Então, hoje, a gente já tem uma rede de apoio interna, fraldário, etc., salas de amamentação. Mas, se a gente… se elas tiverem acesso à creche, com certeza fica muito mais tranquilo.

Repórter: A creche fica no Campus Darcy Ribeiro?

Reitora: Fica no Campus Darcy Ribeiro, bem na parte norte, perto do posto policial, da Colina. É um local bem apropriado para uma creche.

Repórter: Mais perto… mas, assim, as vagas também estão disponíveis para os estudantes de outros campi?

Reitora: Sim. Na verdade, são os critérios que o DF usa para as creches, que são critérios de proximidade de onde estuda ou trabalha e também de renda, entende?

Repórter: Reitora, também gostaria de saber o que a senhora gostaria de ter feito diferente na gestão. O que poderia ter mudado?

Reitora: A gente sempre tem muita coisa que queria ter feito mais ou diferente. Eu acho que, se tivéssemos tido mais recursos, por exemplo, a gente teria tido mais estudantes na assistência estudantil, por exemplo. Hoje nós temos 9 mil estudantes que tomam café da manhã, almoço e janta por conta da universidade, de graça, todos os dias da semana. Só que isso não dá conta de atender todos os que têm necessidade, porque, cada vez mais, a gente tem mais estudantes com vulnerabilidade socioeconômica. Então, eu gostaria de ter tido mais recursos para ter tido mais estudantes incluídos, mais políticas de inclusão, mesmo nós tendo uma política muito grande de inclusão na nossa instituição. Tem sempre a questão da demanda. Tem mais… mais vagas em Medicina que as pessoas pedem, mais cursos noturnos, mas, para tudo isso, você precisa de mais professores. Então, tem… tem toda uma complexidade na gestão pública, que a gente nunca está satisfeito. Ninguém está. Ainda bem. Mas, hoje, avaliando tudo o que fizemos, nós fizemos muito mais, até, do que nos comprometemos. E ainda mais considerando a pandemia, o corte de recursos… a situação que vivemos.

Repórter: E, nesse ponto, quais são os principais desafios quando se tem à frente de uma universidade? Quais são os principais desafios de uma universidade desse porte, com essa estrutura, e o que a senhora enfrentou nisso? E o que vai ficar para a gestão? Falar assim: “Olha, isso parece que é fácil, mas, gente, é difícil! É construir e ter aula.” E o que é?

Reitora: Tudo! Na verdade, é uma complexidade enorme você fazer a gestão pública no Brasil, com toda a legislação, com todas as amarrações, você mostrar para a comunidade que as decisões têm que ser democraticamente, têm que ser em órgão colegiado. Então, isso, às vezes, é um grande desafio. E às vezes você pensa: “A reitora vai decidir isso”. Não, a reitora, ela tem que levar para os órgãos colegiados, que é como se fosse a Câmara ou o Senado, e convencer as pessoas de que aquilo ali é o melhor para a instituição. Então, esse é um grande desafio, chegar ao máximo de consenso. Que nós conseguimos na nossa gestão, chegar ao máximo de consenso nas decisões. Lógico, nem sempre é do jeito que você imaginou no início, mas você tem que construir. E os desafios também são esses. Você vê pessoas precisando de… de vaga na universidade, às vezes não tem vaga para todo mundo. No caso dos técnicos, manter os técnicos na universidade, dentro de um contexto do DF, com salários muito mais altos fora do que dentro, em termos públicos, também é um desafio enorme. Foi difícil a questão da URP [Unidade de Referência de Preços], que é uma parcela do salário – 26% – que os nossos técnicos e docentes recebem há mais de 20 anos, e teve toda uma discussão na Justiça, até a gente receber agora no Supremo, definitivamente. Eu acho que esse foi um grande desafio, mas eu vou deixar agora isso já resolvido para a próxima gestão. Eu acho que o plano de saúde, que não tinha, nós vamos deixar também resolvido. Toda a parte de contratos é muito desafiadora, e a gente teve a persistência para poder fazer. Por exemplo, os nossos prédios residenciais estavam com elevadores… e a própria manutenção deles, durante décadas, precisando… Conseguimos fazer um contrato, acabamos de assinar um contrato para reformar todos os elevadores dos nossos prédios, que são 108 elevadores. Então, o desafio foi enorme! É maior do que muita cidade, mas a gente, em compensação, deixa uma situação bem mais confortável do que a que nós recebemos.

Repórter: É um desafio, mas também seja arrecadar recursos. A senhora falou muito em emendas parlamentares. É necessário ter esse trâmite, ter essa conversa dentro da Câmara, do Senado, da Casa Legislativa aqui do DF. O que é conselho para a próxima gestão nesse tipo de trâmite? É possível gerir sem essas conversas? Ou é obrigado a ter? Como é que faz?

Reitora: Eu acho que conselho a gente não dá muito, porque cada um tem a sua forma de gerir. A primeira coisa a fazer é trabalhar, e trabalhar! Tem que sentar de manhã e sair às 23h, trabalhar muito. Tem que fazer a interlocução externa. É importantíssimo! Eu consegui o apoio de toda a bancada do DF, por exemplo. A minha nomeação tem que ter parceiros de todos os tipos – públicos e privados –, dentro da legalidade, com muita responsabilidade, mas sem abrir mão do recurso público do governo federal, porque a lei diz que é obrigação do governo federal fazer o financiamento da educação pública no Brasil. Agora, se não houver a parceria externa, você não consegue avançar. Então, por exemplo, você falou de emenda parlamentar… nós estamos reformando a biblioteca com uma doação de R$ 2 milhões da embaixada dos Emirados Árabes Unidos. Acabamos de inaugurar a terceira etapa de uma obra do Centro de Desenvolvimento Sustentável com dinheiro do Ministério da Saúde. Então você tem que ter parceria de todos os tipos: com o governo, com empresas, com embaixadas. E esse é um papel importante. Mas, acima de tudo, trabalhar duro e ter uma equipe competente que trabalhe, o que eu acho que eu tive nessa equipe, como reitora.

Entrevistadora: Vamos a uma questão que, durante a campanha, todas as… todas as candidatas prometeram: o retorno do ônibus, do intercâmbio, que fazia esse trajeto entre os campi da UnB – passa por Planaltina, o Darcy, que fica na Asa Norte, Gama, Ceilândia –, e a Olgamir, que foi indicada do… a chapa indicada pela senhora, também prometeu. Mas gostaria de entender por que… então, uma promessa que foi feita por uma indicada seria viável? Por que a senhora não conseguiu retomar? O que acontece? E é possível trazer? Já no projeto isso foi debatido?

Reitora: Primeiro, que nós, de novo, pegamos a universidade com 50% a menos de orçamento, tendo que manter a universidade funcionando. Conseguimos aumentar o valor da bolsa e da assistência estudantil só a partir do ano passado, quando as contas melhoraram. Então, hoje, as contas estão em uma situação bem melhor. Por isso que a Olgamir pode prometer, porque as contas estão em uma situação bem melhor. Mas não tem condição de prometer, como prometeram, praticamente zerar tudo no… É só… Quero ver como é que vão fazer agora. No caso do intercâmbio, o que acontece? Eu conheço bem a história. Ele foi criado quando nós criamos os campi, que eu coordenei: Ceilândia e Planaltina, porque nós não tínhamos como ter todas as disciplinas aqui no Darcy Ribeiro, e aí precisava fazer esse intercâmbio. Acho que, hoje, o intercâmbio, assim, é importante para fazer também atividades de extensão, fazer a integração. Só que ele estava virando uma situação de quase transporte pirata, entendeu? O GDF nos acionou porque o intercâmbio é para ir daqui para o outro campus, não é para parar no meio do caminho e descer em outro local. E nós estávamos com a situação orçamentária dramática. Então, aí, nós fomos ver onde poderíamos reduzir, e nós retiramos na época da pandemia. E depois ele acabou não voltando. Então, durante muito tempo, na nossa gestão, teve intercâmbio, que é o ônibus que circula de um campus para o outro. O custo dele não é altíssimo, mas, quando você tem uma situação dramática de financiamento, você está entre pagar a conta de luz e ter um transporte alternativo… Nós preferimos pagar a conta de luz. Então, a gente… até auxílio-creche e ter esse transporte… nós preferimos a educação, fazer gestão é fazer opções.

Repórter: Então a sua gestão, nesses oito anos, também foi muito baseada em equilibrar as contas, e acredito que agora estaria disponível para uma próxima gestão, que prometeu… E todas essas três candidatas prometeram esse retorno. Implementado.

Reitora: Acho que tem condições. São aquelas opções que você tem que fazer. Você tem que sempre tirar de um lugar para colocar no outro. Nós demos muito auxílio para os estudantes, ampliamos muito o auxílio-transporte. Hoje nós… não… usamos o vale-transporte para os estudantes mais vulneráveis porque, também, nós optamos por dar mais condições para quem mais precisa, que é quem tem uma renda de até 1,5 salário mínimo per capita familiar. Essa também é uma opção… para quem você vai dar o benefício. Eu prefiro dar para quem mais precisa. Então, o que a gente fez? O estudante que entra por cotas, ele, automaticamente, tem direito ao restaurante universitário de graça, sem fazer estudo socioeconômico. Antes, isso não acontecia. Então, são todas essas… essas despesas que você vai fazendo as opções. Acho, assim, que eles têm condições de colocar o intercâmbio, como nós tivemos o intercâmbio na maior parte da nossa gestão. Criaram uma polêmica onde, na minha opinião, não precisaria ter. Mas como precisa criar polêmica no período eleitoral… às vezes a opção da candidatura… até… você precisa. Porque a gente estava, talvez, tão bem… então tem que ter problema em algum lugar… arrumaram o intercâmbio.

Repórter: E a Aula Magna? Como é que vai funcionar, reitora? Como é que… já vai ter aula hoje? Vai ter… o auditório, mas já vai poder receber a partir dessa semana? Semana que vem já está em funcionamento? Como é que está a situação?

Reitora: A Aula Magna é um projeto belíssimo, da origem da universidade, que é um grande auditório, para 1.500 lugares, que nunca saiu do papel. Em 2010 teve… que fica ali abaixo do ICC, perto da biblioteca… em 2010 teve um concurso, não é?… Ideia… Ganhou uma equipe de professores, estudantes… A UnB também não saiu do papel. E nós, na nossa gestão, todas as nossas obras, nós levamos para discutir também no Grande Conselho e aprovamos a Aula Magna. Então, na verdade, ainda está numa fase de licitação. Conseguimos recursos do PAC, uma grande parte da Aula Magna. A universidade… do tamanho da UnB, não tem um auditório do porte do que muitas universidades têm. Uma universidade que tem 50 mil alunos… Você fala assim: “É um auditório para 1.500 lugares?”. Mas nós temos 50 mil alunos! Então ainda não é suficiente. As colações de grau da UnB são naquele local… um ginásio aberto, que chove e entra água. E agora nós conseguimos dinheiro do governo federal, porque o Ministério da Educação também tem interesse. Tem… o governo também tem interesse, porque ele vai ter acesso ao grande auditório sem precisar pagar aqui em Brasília. Então, é uma parceria nossa com o Ministério da Educação, com a Casa Civil. Já está terminando a licitação. Muitas empresas se candidataram… nós não conseguimos concluir porque a licitação pública é muito complicada, mas está na fase final. Esses dias vai concluir, vai poder contratar. É uma obra para três anos. Então, daqui a três anos, a próxima gestão só tem o trabalho de conseguir um pouco mais de recursos e inaugurar.

Repórter: E como essa obra fica para a próxima gestão, é possível que não saia do papel? Está anunciando no apagar das luzes, e se avança…

Reitora: Boa pergunta! Como eu te falei, nós levamos para aprovar todas as obras pelos conselhos, por essa… Câmara… Federal… Ela é formada por representantes de todos os institutos e faculdades. Essa obra, particularmente, eu levei para aprovar três vezes, e aprovou de novo. Como teve uma polêmica agora, na campanha – mais uma polêmica que foi criada –, eu levei para aprovar novamente no Conselho de Administração, que é quem decide sobre a obra, e eles reafirmaram que era para dar continuidade à obra. Para eles interromperem a obra, eles vão ter que pedir autorização para o Conselho de Administração, para o Ministério da Educação e para a Casa Civil. Então você pergunta: “Podem interromper tudo?”. Podem. Desde que tenham as autorizações. Eu… eu deixei tudo aprovado, tudo encaminhado, e agora é… e é uma opção da universidade. Ter a Aula Magna é uma necessidade da universidade. Se eles interromperem, eles podem… eles vão ter que fazer esse caminho que eu fiz, ao contrário. O reitor…

Repórter: A senhora entregou, então, amarrado, basicamente.

Reitora: A licitação só não terminou porque eles estão verificando a documentação da empresa vencedora. Era para ter terminado há duas semanas. Então está tudo amarrado, tudo aprovado, a licitação praticamente concluída. Já temos 50% do recurso. Imagina você começar uma obra pública com 50% do recurso e condições, por exemplo, com os novos prédios que a universidade vai receber? Porque é uma obra para três anos, com a arrecadação própria que a UnB tem anualmente, com o recurso do MEC, que aumentou. Então a UnB tem total… o recurso… condições de dar continuidade a esse projeto, que é desejo da comunidade.

Repórter: Reitora, obrigada pela sua entrevista aqui, por conversar com a gente. Gostaria de acrescentar alguma coisa?

Reitora: Não. Eu agradeço muito e fico feliz, mais uma vez, de estar aqui. Agradeço a oportunidade de ter gerido a universidade onde estudei, onde me formei, e representar as mulheres. Que eu espero ter representado bem.

Repórter: Parabéns pela sua gestão! E obrigada a você que ficou nos acompanhando nessa entrevista. Desejamos um bom futuro para a próxima gestão e agradecemos muito pelo seu legado. Obrigada, viu, reitora?

Reitora: Eu que agradeço. Um abraço.

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