O médico de 38 anos que foi preso em flagrante por estupro de vulnerável de uma adolescente de 13 anos, na Avenida Lucaia, no Horto Florestal, mantinha um relacionamento há cerca de um ano com a amiga da vítima, uma jovem de 18 anos. Segundo a polícia, ele conheceu a moça no Vale das Pedrinhas, onde a mãe dele mora, e eles marcaram um encontro, na quarta-feira (18). O médico negou aos policias ter tido relações com a adolescente. A polícia não divulgou os nomes dos envolvidos.
A prisão em flagrante aconteceu por acaso. O coordenador da Operação Visão, delegado Thiago Almeida, contou que uma equipe da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos (DRFRV) estava passando pela região do Lucaia quando ouviu o alarme de uma loja disparar. Ao se aproximar do local os policiais avistaram um carro Civic, com vidros escuros, motor ligado e faróis acesos.
“A Operação Visão da Polícia Civil tem por objetivo coibir os crimes contra o patrimônio, notadamente os roubos de veículos. Pela análise da mancha criminal a região do Horto Florestal e Federação apresentavam um elevando índice desse tipo de crime, por isso as equipes estavam nessa região. Teve uma loja que acionou o alarme e ao passar pelo local percebemos o carro preto e vultos dentro do veículo”, contou o delegado.
Delegado conta que médico tentou fugir (Foto: Marina Silva/ CORREIO) |
Ele disse que o médico percebeu a viatura e tentou fugir. “Quando a equipe se aproximou o carro tentou engatar a ré e sair, mas os policias abordaram e deram ordem de descida. Desceu o motorista do veículo, que era o médico. Aí, do banco do passageiro, desceu a mulher de 18 anos. Instantes depois, desceu a menor de 13 anos”, afirmou.
Segundo o delegado, eles desceram do carro se vestindo. O médico procurou saber o motivo da abordagem e disse que estava sendo constrangido. O clínico geral contou para os investigadores que tinha um encontro marcado com a jovem de 18 anos e que ao chegar ao local foi apresentado a adolescente. Ele disse também que matinha um relacionamento com a mulher de 18 anos há cerca de um ano e que a conheceu quando foi visitar a mãe dele. As duas moram no mesmo bairro.
O médico alegou que não sabia que a jovem tinha 13 anos e negou em depoimento que tenha ocorrido alguma relação sexual entre eles. A mulher de 18 anos confirmou que tinha um encontro com o médico, que os dois se relacionam há cerca de um ano e que recebia dinheiro para sair com ele. O pagamento combinado desta vez era de R$ 650. Ela disse na delegacia que era irmã da jovem, o que é mentira. Ela também negou que a adolescente estivesse sendo aliciada. A jovem ainda não foi ouvida pela polícia.
Homem está custodiado na DRFRV (Foto: Marina Silva/ CORREIO) |
Os investigadores apreenderam o celular do médico, solicitaram coleta de material genético no carro e vão ouvir mais pessoas antes de concluir o inquérito. O delegado explicou que o médico está respondendo por estupro de vulnerável e exploração sexual, e a mulher de 18 anos por exploração sexual e corrupção de menor.
“Levar uma pessoa menor para presenciar um ato sexual ou libidinoso diverso expõe a isso [esses crimes]. Diante da informação de que a menor participaria ou havia a possibilidade de estar ali participando é que ela [mulher de 18 anos] foi flagranteada também”, afirmou.
A defesa do médico informou que ele está à disposição das autoridades competentes para prestar todos os esclarecimentos necessários. “Desde já informamos que a versão inicialmente veiculada não corresponde com a realidade dos fatos. Entretanto, em razão do sigilo inerente ao caso, ele não dará, por ora, qualquer declaração ou entrevista à imprensa e irá se restringir a provar sua inocência durante o curso da investigação”, afirmou o advogado por meio de nota.
O CORREIO não conseguiu contato com a defesa da mulher, que também está presa.
Cajazeiras
Ainda nesta quinta-feira (19), a polícia apresentou o resultado de outra ação para coibir o abuso sexual de crianças e adolescentes. Um treinador de futebol, que não teve o nome divulgado, foi preso em Cajazeiras acusado de abusar de jovens que eram atendidos no projeto social que ele comandava. A investigação começou há dois meses e o homem atuava há dez anos como treinador, sem licença. A polícia identificou 11 vítimas, mas acredita que existem mais.
A titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Crianças e o Adolescente (Dercca), Simone Moutinho, contou que foram cumpridos mandados de busca e apreensão na sede da instituição e na casa do treinador. Os investigadores encontraram vídeos com teor pornográfico de crianças e adolescentes em computadores, alguns deles eram jovens atendidos pelo projeto, e apreenderam computadores, celulares e documentos. No alojamento dos jogadores foram localizados mais documentos, preservativos e lubrificantes sexuais.
“Conseguimos tomar o depoimento de 11 vítimas, mas esse é um projeto que já dura dez anos e tem muitas crianças envolvidas. A partir das oitivas e de tudo que apreendemos temos a dimensão de que existem mais vítimas. Ele ameaçava as vítimas e os pais e responsáveis não tinham conhecimento, estavam investindo no sonho dos filhos”, afirmou.
Delegada acredita que existem mais vítimas do treinador (Foto: Marina Silva/ CORREIO) |
As vítimas mais jovens tinham 12 anos. A polícia identificou crimes como estupro e corrupção de menores. O treinador também vai responder por armazenar e transmitir cenas de nudez e de natureza pornográfica envolvendo crianças e adolescentes. “Além das imagens dos alunos, ele contou que recebia também pacotes com imagens de teor pornográfico envolvendo crianças e adolescentes, o que também é crime”, contou.
Inicialmente, ele tinha um mandado de prisão temporária, mas como foi preso em flagrante com as imagens a polícia solicitou a prisão preventiva. Caso seja acatada, o homem ficará preso por tempo indeterminado. Segundo a delegada, ele negou o crime no primeiro momento, mas confessou em depoimento que fazia as imagens. Ele disse que não transmitia o conteúdo. Os jovens foram encaminhados para atendimento psicológico.
A Operação Flor Lótus, como foi batizada, surgiu de uma denúncia crime do Ministério Público da Bahia, foi deflagrada pela Dercca e a prisão e as apreensões foram realizadas pela Coordenação de Operações Policiais (COP), do Departamento de Polícia Metropolitana (DEPOM).
Cenário
Os crimes contra crianças e adolescentes têm crescido na Bahia. Na quarta-feira (18), Dia de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, o CORREIO mostrou que o estado ocupa a 4º posição entre os estados com maior número de casos de abusos sexuais praticados contra esse público no Brasil.
Entre 1º de janeiro e 13 de maio de 2022, o estado registrou 2.925 denúncias, ou seja, 407 casos a mais do que os 2.518 relatados entre janeiro a junho do ano passado. Os dados são do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos e apontam crescimento de 16% no número de ocorrências.
Todo 18 de maio é celebrado o Dia de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. A data é para lembrar os direitos humanos e fortalecer a rede de proteção desse público. Em 18 de maio de 1973, em Vitória (ES), uma menina de 8 anos foi raptada, estuprada e morta por jovens de classe média alta. O Caso Araceli chocou o país e passou a ser o símbolo da luta contra esse tipo de crime. A temática é debatida durante todo o mês pela campanha Maio Laranja.
*Colaborou Laiz Menezes