Bebês e crianças enfrentam sérias dificuldade para conseguir atendimento no Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib). Na segunda-feira (23/5), diversas famílias passaram horas na unidade sem conseguir acesso ao tratamento dos pequenos. Em alguns casos, a espera foi de 14 horas. Revoltados, pais e mães registraram boletim de ocorrência na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).
Mesmo com o boletim de ocorrência, muitas crianças permaneciam com dor e sem diagnóstico até a tarde dessa terça-feira (24/5). É o drama do pequeno Davi Lourenço, de 18 dias. Aos prantos, o recém-nascido estava com dores e apresentava bolhas avermelhadas pelo corpo.
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“É triste. É um hospital grande. O que mais envergonha é que são crianças doentes. Elas deveriam ser prioridade. Mas estavam lá, vomitando, com dores e ninguém fazia nada. É muita falta de respeito. Desumano”, disparou o pai de Davi, Ailton Santos.
Segundo Ailton, o recém-nascido chegou no hospital às 10h de segunda-feira. Passou pela triagem às 16h. De acordo com o pai, a criança começou a ser atendimento à 0h. No entanto, deixou o hospital sem diagnóstico ou tratamento.
Junto à esposa, Valesca Vicente da Silva, Ailton registrou boletim de ocorrência denunciando a falta de atendimento. “Ainda não sei o que meu filho tem. E estamos dois dias sem comida aqui em casa, porque estamos desempregados”, desabafou.
Revolta
José Júnior e a esposa Iris Regina levaram o filho João José, de 7 anos, para o Hmib, na segunda-feira. O menino sofria com vômitos, diarreia constante e febre de 41 graus. Por volta das 2h da madrugada de terça-feira (24/5), o garoto seguia sem atendimento. Indignado com a situação, o pai da criança quebrou uma cadeira do hospital.
“Meu marido pegou uma cadeira de três lugares e jogou no chão. Ficou revoltado com o descaso. Ele só queria que o filho dele fosse atendido. É muito triste, muito mesmo”, lamentou Iris.
Até o começo da tarde de terça-feira, José continuava preso. A fiança foi arbitrada em R$ 3 mil. Sem condições de arcar com a despesa, a família aguardava a audiência de custódia. “Saí arrasada do hospital. Meu filho continua doente e não foi atendido”, pontuou Iris. Em função da diarreia, o menino está perdendo peso. “Tudo o que ele come vomita”, resumiu.
Larissa Maria Limeira de Morais, de 6 anos, é outra pequena na fila por atendimento. “Ela está vomitando. Está desidratando e ficando muito fraca”, contou a mãe da pequena, Gabriele Medeiros de Oliveira Morais. A família tentou socorro no Hospital Regional de Ceilândia (HRC) antes de buscar o Hmib, mas também foi em vão.
“No HRC, a enfermeira disse que estavam só estava atendendo crianças que estejam morrendo. Como a suspeita é de apendicite, fui no Hmib. Lá a enfermeira riu da minha cara e disse que só estavam atendendo pacientes classificados como emergências vermelhas e laranja. A suspeita é de apendicite. É absurdo. Tenho que trazer a minha filha dentro do caixão? Morta?”, bradou.
Pacientes registram um aviso dentro do hospital com a seguinte redação: “Por conta na superlotação no P.S. Pediatria e nas enfermarias do Hmib, o atendimento no plantão do dia 23/05/2022 será apenas para pacientes classificados em laranja e vermelho”. Diante da superlotação, em 13 de maio, o Hmib decretou bandeira vermelha.
Outro lado
Segundo a Secretaria de Saúde, o Hmib registrou, na tarde de segunda-feira (23/5), aumento na demanda devido ao período de sazonalidade de doenças respiratórias. “Atualmente, o Pronto-Socorro da unidade está em bandeira laranja”, explicou, em nota enviada ao Metrópoles.
De acordo com a pasta, os pacientes são atendidos inicialmente na classificação de risco e recebem pulseiras de acordo com o caso clínico, conforme normas do Ministério da Saúde. Devido ao aumento da demanda, a pasta está organizando o fluxo de atendimento. Pacientes considerados com baixo risco devem buscar atendimento em Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) e Unidades Básicas de Saúde (UBSs).
“O pai de um dos pacientes ficou contrariado por ter recebido a classificação amarela e ameaçou a equipe de saúde do local, usando palavras de baixo calão. Nesse momento, os servidores solicitaram apoio da polícia. Diante disso, não seria viável passá-lo na frente de outros pacientes com classificação vermelha, por exemplo, e o tempo de espera foi realmente maior devido à alta demanda”, explicou a pasta.
“A Pasta ressalta, ainda, que não tem medido esforços para reforçar o atendimento nas unidades de saúde do DF”, concluiu a nota da secretaria.
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