InícioEditorialPF diz que pescador confessou envolvimento na morte de dupla na Amazônia

PF diz que pescador confessou envolvimento na morte de dupla na Amazônia

Brasília – O superintendente da Polícia Federal (PF) no Amazonas, Alexandre Fontes, confirmou, em entrevista coletiva ontem à noite, em Manaus, que o pescador Amarildo da Costa Oliveira, de 41 anos, conhecido como “Pelado”, confessou envolvimento no assassinato do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips. Amarildo está preso e levou agentes federais ao local onde os corpos foram enterrados, no Vale do Javari. Os restos mortais foram encontrados a 3,1 quilôme- tros de distância, em local de mata fechada e de difícil acesso, onde os pertences do indigenista e do jornalista foram encontrados no início desta semana. O material foi enviado para perícia em Brasília para confirmação da identidade. O delegado Guilherme Torres, que também participou da coletiva, afirmou: “Foi um crime brutal e hediondo”.
O chefe da PF informou que foi feita reconstituição no local do crime e também onde a embarcação de Bruno e Dom foi afundada pelos criminosos e que outras pessoas estão sendo investigadas, inclusive o irmão de Amarildo, Oseney, que também está preso. “Trazemos essa triste notícia aos familiares, amigos, à sociedade e à imprensa mundial”, disse Fontes. “A perícia vai dizer a causa das mortes e qual a munição empregada”, afirmou também. Alexandre Fontes informou também que Amarildo fez a confissão no fim da noite de terça-feira, quando contou detalhes do crime. “Foi disparo de arma de fogo, mas temos que aguardar a perícia para indicar a causa da morte e as circunstâncias”, afirmou o delegado.
Além de Amarildo, também está preso o irmão dele, Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Santos”. Mas, segundo a Polícia Federal, ele não confessou envolvimento no crime. Sobre a motivação do crime, o superintendente da PF afirmou que as investigações seguem em sigilo e que a não é possível ainda apontar o motivo. No depoimento, Amarildo afirmou que Bruno e Dom foram mortos a tiros, esquartejados, queimados e enterrados em local de difícil acesso, em floresta fechada.
Ele admitiu ter participado do esconderijo dos corpos, mas alegou que os recebeu já queimados e negou ter matado a dupla. Segundo ele, o crime teria sido cometido por outra pessoa, cujo nome não foi revelado pela polícia. Segundo a PF, Amarildo disse ainda que uma segunda pessoa o ajudou a esquartejar e a enterrar os corpos.
A polícia encontrou manchas de sangue na lancha de Amarildo e enviou o material para perícia em Manaus para determinar se é humano ou de animal. A PF afirmou que o resultado do exame sairia até o fim da semana. As famílias de Bruno e Dom cederam material genético dos dois para ajudar na perícia. O pescador foi preso em flagrante no dia 7. Natural de Atalaia do Norte, Amarildo é pescador conhecido na região. É casado, mas a polícia ainda não informou se ele tem filhos. Ele mora em São Gabriel, comunidade que pertence à área rural de Atalaia do Norte. A polícia chegou ao nome dele logo no começo das investigações. Testemunhas informaram à polícia que viram Amarildo ameaçando Bruno e, no dia do desaparecimento, ele estava perseguindo os dois em outra lancha. Em buscas na casa de Amarildo, a Polícia Militar do Amazonas encontrou munição de uso restrito das Forças Armadas e drogas, o que motivou a prisão.
Durante a coletiva, o superintendente da PF se desculpou por não ter mencionado o trabalho dos indígenas e ribeirinhos locais que estiveram presentes nas buscas. Ele acrescentou que, quando havia segurança para eles, sempre estavam presentes na operação. Em nenhum momento a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) foi citada e não havia nenhum indígena na coletiva.  O coordenador da Univaja, Beto Morubo, informou que os indígenas se dedicaram com afinco às buscas pelos dois desaparecidos.

Exoneração da Funai e ameaçado

O indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira foi exonerado da Fundação Nacional do Índio (Funai) depois de coordenar uma operação que expulsou centenas de garimpeiros da terra indígena ianomâmi, em Roraima. Segundo a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), na qual Bruno trabalhou depois da exoneração, ele foi demitido do cargo sem qualquer tipo de justificativa interna. Bruno era o responsável pela Coordenação Geral de Indígenas Isolados e de Recente Contato (CGIIRC) da Funai até outubro de 2019.
A exoneração ocorreu depois da eleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). Em seguida, o delegado da Polícia Federal Marcelo Xavier Silva assumiu a presidência da fundação, apoiado pela bancada ruralista. A exoneração foi assinada pelo então secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública Luiz Pontel. No lugar de Pereira, o missionário evangélico Ricardo Lopes Dias foi nomeado e ficou apenas nove meses na posição. Depois de ser afastado do cargo, Bruno assumiu uma função na União dos Povos Indígenas do Parque do Javari (Univaja), onde ele seguiu fiscalizando a região, que é constantemente invadida por garimpeiros, madeireiros e pescadores, ao lado dos indígenas.
Bruno trabalhava agora em um projeto das ONGs WWF-Brasil e da Univaja para ensinar indígenas a monitorar suas terras com o uso de tecnologias como drones na terra demarcada no Vale do Javari. Era tido como um dos maiores especialistas sobre a região e um dos principais indigenistas do país.
Dom Phillips era jornalista e colaborador de diversos jornais no exterior, entre eles o britânico The Guardian. Morava em Salvador havia 15 anos e era casado com a brasileira Alessandra Sampaio. Fez diversas viagens para a Amazônia para realizar reportagens sobre desmatamento e crime. 
Ele viajou para o extremo oeste da Amazônia acompanhado por Bruno para coletar dados para um livro que escrevia sobre a floresta. Os dois eram amigos e já haviam viajado juntos à Amazônia em outras ocasiões profissionais.
No dia do desaparecimento, 5 de junho, Bruno e Dom estavam a poucos quilômetros do Vale do Javari, que é a segunda maior reserva indígena do Brasil. Eles estavam num barco a mais de 70 quilômetros entre o Lago do Jaburu e o município de Atalaia do Norte. Na última vez em que foram vistos, pararam na comunidade de São Rafael, às 6h de domingo, onde tinham marcado reunião com o líder pescador Manoel Vitor Sabino da Costa, conhecido como Churrasco.
Do local, eles seguiram pelo Rio Javari e deveriam ter chegado a Atalaia do Norte duas horas mais tarde, mas desapareceram nesse trajeto. Quem denunciou o sumiço foram os indígenas da Univaja. 
Segundo a associação, Bruno e Dom viajavam em uma lancha em bom estado e com combustível suficiente para a viagem. A Univaja informou ainda que enviou equipe “formada por indígenas extremamente conhecedores da região”, mas sem êxito para encontrá-los. Segundo a entidade, Bruno Pereira era alvo frequente de ameaças feitas por pescadores ilegais, garimpeiros e madeireiros.

Bolsonaro: “Esse inglês era malvisto”

Brasília – O presidente Jair Bolsonaro comentou ontem novamente o caso do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips. “A gente lamenta os desaparecimentos. Um inglês e um brasileiro que sabiam dos perigos da região. Esse inglês era malvisto na região, ele fazia muita matéria contra garimpeiro, a questão ambiental. Então, aquela região que é bastante isolada, muita gente não gostava dele. Ele tinha que ter mais do que redobrado a atenção para consigo próprio”, afirmou Bolsonaro em entrevista ao canal da jornalista Leda Nagle.
Segundo ele, os dois “resolveram entrar numa área completamente inóspita, sem segurança e aconteceu o problema”. “A gente não sabe se alguém viu e foi atrás dele, lá tem pirata no rio, tem tudo o que se possa imaginar lá, e é muito temerário andar naquela região sem estar devidamente preparado fisicamente e também com armamento devidamente autorizado pela Funai. Pelo que parece eles não estavam”, destacou.
O chefe do Executivo afirmou que está sendo culpado pelo caso, mas que, em 2005, quando a irmã Dorothy Stang foi assassinada, o governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não foi responsabilizado. “Desde o primeiro dia, domingo retrasado, a nossa Marinha estava em campo. Estão me culpando agora por isso. Quando mataram a Dorothy Stang ninguém culpou o governo. Era de esquerda. Mas tudo bem, a gente vai fazer a nossa parte”, reclamou.
Bolsonaro também reforçou que está trabalhando no caso desde quando começaram as notícias sobre o desaparecimento. “Desde o primeiro dia, domingo retrasado, estamos buscando essas pessoas na área, e não estamos tendo sucesso. Apareceram vestígios, pedaços de vísceras de corpo humano. Estão sendo feitos (exames de) DNA aqui em Brasília, estranho terem pego esses caras e levado à margem do rio.”

CONGRESSO 

No Senado, a Comissão de Direitos Humanos (CDH) aprovou requerimento para que o seu presidente, Humberto Costa (PT-PE), faça diligência no Amazonas. Ainda sem data definida, a previsão é de que a viagem ocorra entre as próximas terça e quarta-feira. A intenção é que a comissão acompanhe as investigações sobre a morte do indigenista e do jornalista inglês. Na Câmara dos Deputados, foi aprovada a criação de uma comissão externa para acompanhar e definir providências sobre o caso. Os nomes ainda serão definidos. Os pedidos eram feitos há alguns dias por Nilto Tatto (PT-SP) e pela única deputada federal indígena na Casa, Joênia Wapichana (Rede-RR). “O pedido tem. Falta somente o presidente [Arthur Lira] decidir. É bom pressionar”, declarou Joênia ontem.
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