Brasília e São Paulo – Os resultados das eleições deste ano decretaram o fim de hegemonias partidárias em Pernambuco e São Paulo.
O PSB deixará de governar o estado pernambucano a partir de 1° de janeiro de 2023. Já o PSDB não ocupará mais o Palácio dos Bandeirantes, de São Paulo, após 28 anos.
PSB perde Pernambuco Após 16 anos, o PSB sofreu uma derrota histórica em Pernambuco. O resultado deste domingo consolidou a vitória da tucana Raquel Lyra. Agora, o PSDB estará no comando do estado.
A aposta da legenda para disputar o governo do estado era Danilo Cabral (PSB), deputado federal com três mandatos. Ele se afastou do cargo para pleitear o governo pernambucano. Cabral foi secretário durante as gestões de Eduardo Campos e Paulo Câmara.
Nem mesmo o apoio do ex-presidente Lula, que recebeu 65% de votos no estado conseguiu garantir a vaga do então candidato pessebista. Cabral ficou em quarto lugar, com 18,06% dos votos, atrás de Marília Arraes (Solidariedade), que teve 23,97%; Raquel Lyra (PSDB), com 20,58% e Anderson Ferreira (PL) com 18,15%.
A derrota configura a encerramento de uma hegemonia que perdurava desde 2007 no governo do Estado.
O PSB teve dificuldades para conseguir consolidar Cabral em um possível segundo turno no estado pernambucano se deu após o favoritismo do governo ficar concentrado na então candidata do Solidariedade, Marília Arraes, neta que leva o sobrenome do ex-governador e líder histórico do PSB, Miguel Arraes.
Arraes era filiada ao PSB e deixou a legenda em 2016, por conta de divergências com demais membros do diretório pernambucano, para entrar no PT, enquanto também era aliada do ex-presidente. A aliança foi rompida após o partido preferir o nome de Cabral na disputa ao governo. Apesar do impasse, a candidata não retirou apoio a Lula.
A escolha da ex-vereadora pelo Solidariedade se deu pela possibilidade de permanecer próxima do PT sem precisar ceder ao PSB. Marília Arraes chegou, inclusive, a adotar referências a Lula em sua campanha com seus cabos eleitorais vestindo roupas com referências ao PT, mas foi vetada pelo partido.
Uma das dificuldades da legenda em emplacar a candidatura de Cabral na disputa ao governo é o alto índice de rejeição do atual governador pessebista, Paulo Câmara, do qual é aliada. De acordo com o Ipec, pelo menos 52% dos pernambucanos consideram a gestão de Paulo Câmara como ruim ou péssima. Apenas 15% aprovam.
São Paulo, última joia da coroa do PSDB
Rodrigo Garcia (PSDB) ficou em terceiro lugar no primeiro turno e não conseguiu se reeleger para o governo de São Paulo. Deste modo, já é fato que o PSDB perdeu a hegemonia no Estado e depois de 28 anos deixará de ocupar o Palácio dos Bandeirantes.
Com o pleito do segundo turno, a vitória de Tarcísio de Freitas (Republicanos) apadrinhado por Jair Bolsonaro (PL), foi consolidada.
De acordo com Pedro Costa Júnior, doutorando no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), o estado paulista era a “última joia da coroa” do partido tucano. “Perder São Paulo é perder o tucanistão. São Paulo é o berço de tudo”, avaliou.
“Perder São Paulo é perder o cofre. O Estado de São Paulo sozinho é mais rico que muitos países do mundo. É um PIB, então o PSDB vai perder uma máquina poderosíssima. Simbolicamente vai ser um desastre e em termos nacionais também. É toda uma desarticulação do PSDB”, complementou o cientista político.
Pedro analisou que vários fatores contribuíram para a extrema direita ganhar força e assim “esmagar” aqueles que estavam mais ao centro, como o PSDB. Mirando no PT e em seus expoentes, o lavajatismo e movimentos contra a política acabaram atingindo também os tucanos.
“A extrema-direita, que hoje nós chamamos de bolsonarismo, sempre existiu, só que ela votava no PSDB, porque não tinha quem a representasse de uma maneira, digamos, mais legítima”, afirmou Pedro Costa Júnior.
A ascensão do bolsonarismo e consequente declínio do PSDB também aconteceram na esteira da polarização mundial. O cientista político menciona que as saídas à direita ou à esquerda foram vistas na América Latina, com o “trumpismo”, no Brexit, na Itália, na Hungria e na França.