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Guitarra pra quem te quero: festival internacional celebra o instrumento no MAM

Para e Bahia: Manoel Cordeiro e Robertinho Barreto fazem show no festival

Aos 14 anos, Jéssica Kaline escutou na igreja que frequentava em Jequié, onde nasceu, um som que mudou a sua vida. Aquele barulho rasgado que saiu da caixa de som após um dos músicos palhetar as cordas da guitarra foi inesquecível. A partir dali, decidiu  aprender a tocar guitarra. Aprendeu, se formou em música popular pela Ufba e hoje leva vários sons para o mundo. Inclusive aquela distorção que iniciou tudo.

A guitarrista é uma das atrações do Festival Internacional da Guitarra Elétrica, ou simplesmente GuitarraSSA, que vai ocupar o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), sexta (9)  e sábado (10), com shows de oito guitarristas da Bahia, de outros estados e países. A programação também conta com palestras e aulas show sobre a história da guitarra baiana, ministradas por Aroldo Macêdo.

Jéssica se apresenta sábado, mesmo dia da paulista Lari Basílio, do espanhol Pedro Andrea e do paraense Manuel Cordeiro. Este último contará com participação de Robertinho Barreto, do BaianaSystem. Professora de música, Jéssica já tocou em projetos como a Jam no MAM e na Timbaladies, banda feminina idealizada por Carlinhos Brown. Atualmente, é guitarrista da cantora Margareth Menezes. 

“O Festival tem uma potência muito grande e é a realização de um sonho estar aqui com duas grandes guitarristas como Eleonora Strino e Lari Basílio. Será uma realização participar do festival com três instrumentistas excelentes, de diferentes estilos”, comemora a baiana.

“É um marco na história de Salvador, que tem nomes muito importantes da guitarra como Armandinho, nomes incríveis aqui de Salvador. A Guitarra estava merecendo uma atenção maior e esse festival vem para dar essa atenção necessária para esse cenário que temos aqui em Salvador, no Brasil e exterior”, completa.

Guitarrista na banda de Margareth Menezes, Jéssica Kaline é uma das atrações e assina curadoria do GuitarraSSA (Foto: Divulgação)

Um dos curadores do Festival, o guitarrista Mou Brasil diz que dois dos critérios para a seleção dos convidados foram a diversidade nos estilos e o quanto de visibilidade o GuitarraSSA poderia dar a esses nomes. “Cada um escolheu 10 nomes e daí fomos tirando pelo estilo, menos pelo status, sabendo que são grandes músicos, pessoas novas que precisam de projeção. Não há ninguém estrelão assim e falamos muito sobre isso”, detalha Mou. 

“Todo mundo se preocupou com a qualidade e a possibilidade de projeção dessas pessoas. É muito mais fácil fazer um festival com medalhões, pessoas que temos como referência e temos o maior respeito, mas o comum acordo foi o de projetar mais pessoas que estão no cenário, batalhando”, complementa. Além de Mou, a própria Jéssica Kaline e Celso de Carvalho assinam a curadoria do evento.

A partir das 18h de hoje, o MAM recebe Mou Brasil, o carioca Bernardo Ramos, o brasiliense Pedro Martins e a italiana Eleonora Strino. Os artistas internacionais também comandaram masterclasses, pequenos cursos para guitarristas ou aspirantes, independentemente do nível de habilidade no instrumento – que acontecem desde quarta. 

“É um ponto extremamente positivo para Salvador, coloca a cidade num foco nacional e internacional. Temos gente de São Paulo, Rio de Janeiro. É muito difícil ser justo como curador porque é muita gente legal e precisamos fechar a tampa, decidir democraticamente e finalizar a história com tanta gente do lado de fora. Espero que tenha continuidade para que a gente consiga, mais justamente, dar conta de tudo”, comenta Mou Brasil.

A presença de mulheres é destacado por Jéssica. Ela afirma que o meio da guitarra, principalmente profissional, é majoritariamente masculino e que foi um desafio gigantesco se estabelecer no ramo. Ao mesmo tempo, valoriza a parceria com vários amigos que fez ao longo de sua trajetória.

“É muito desafiador ser mulher negra e tocar guitarra, trabalhar com música. É um cenário majoritariamente dominado por homens. Sou muito de ir pra luta e não ficar me vitimizando. Faço meu dever de casa, chegar com as músicas, fazer o que tem o que fazer”, afirma, antes de ressaltar que a presença de mulheres em festivais do tipo pode incentivar outras meninas a seguir pelo mesmo caminho.

Com todas essas perspectivas, a esperança de Mou Brasil é que o sucesso que o festival vem tendo se confirme durante os shows. O desejo é surpreender e emocionar, para que o GuitarraSSA se expanda e ganhe o mundo.  

Conheça os guitarristas

Mou Brasil (BA)

Guitarrista e compositor, Mou Brasil desenvolve trabalho instrumental voltado para as raízes brasileiras e o jazz. Tem dois discos autorais lançados: Esperança (1992) e Farol (2013). Além desses, compôs e gravou o disco do grupo Bahia Black (2000). 

Tocando profissionalmente desde 1976, sua busca musical o guiou pelos EUA, Suíça, França, Portugal, Espanha, Argentina, México, Uruguai, Israel, Japão e Hong Kong. É reconhecido como um pioneiro da música instrumental baseada nos ritmos afro contemporâneos. Fundou e participou de grupos  que marcaram sua geração: Jazz Carmo Quinteto, Cozinha Baiana, Raposa Velha, Grupo Garagem, e o próprio Bahia Black. Tocou com Nelson Veras, Jacques Morelenbaum, Bibi Ferreira, Leo Gandelman, Quarteto Villa Lobos, Orquestra Sinfônica da Bahia – OSBA, entre outros Acompanhou artistas como Caetano Veloso, Gal Costa, Virgínia Rodrigues, Tuzé Abreu, e Paulo Moura. Gravou com João Donato e Steve Coleman. 

Ministra oficinas e aulas de harmonia e improvisação desde 1990 (Funceb, UFBA, Universidade Católica, CUCA, Núcleo Moderno de Música, Casa da Música, Conservatório Mozart e Universidade Livre de Música – ULM de SP). Lançou os projetos Shiva no Hot Club e Braço de Prata,  ambos em Lisboa, Portugal. Trabalha ativamente com seu Grupo em Salvador.  

Pedro Martins (DF)

Pedro Martins é conhecido pelas suas colaborações com Kurt Rosenwinkel (CAIPI), Yaron Herman, David Binney, Jacob Collier, e Genevieve Artadi (Expensive Magnets, Spider’s Egg), assim como os grandes talentos brasileiros Hamilton de Holanda, Gabriel Grossi, Daniel Santiago e Léo Gandelman. Natural de Brasília, começou a tocar violão aos três anos graças ao pai, o músico mestre Oscar Azevedo. 

Aos 18 anos  já era um verdadeiro multi-instrumentista, tocando guitarras (acústicas e elétricas), piano, baixo e bateria. Seu trabalho de estreia “Dreaming High”, recebeu muitos elogios da comunidade internacional de jazz. Pedro Martins ganhou atenção internacional quando venceu o concurso Socar Guitar em 2015, o que gerou uma grande parceria com o lendário guitarrista de jazz Kurt Rosenwinkel. Juntos, eles formaram a banda CAIPI com os brasileiros Antonio Loureiro e Frederico Heliodoro e lançaram o primeiro disco em 2017.

Seja com a CAIPI ou com sua banda, Pedro tem participado de renomados festivais e workshops no Brasil e na Europa. Desde 2021, tem sido professor-convidado do Conservatório de Hague, na Holanda. Em julho de 2022, Pedro fez dois shows solo no Festival de Jazz Umbria, na Itália, abrindo para Herbie Hancock em um dia e para Diana Krall no dia seguinte. Em setembro de 2022, Pedro se apresentou com a hr-Big Band na Alemanha, marcando a primeira vez que suas músicas foram rearranjadas para big band. Atualmente, Pedro Martins está finalizando seu próximo disco solo e o disco Simbiose 2 com Daniel Santiago, ambos pela Heartcore Records.

(Foto: Erick Dau)

Bernardo Ramos (RJ)

Bernardo Ramos é guitarrista, compositor, arranjador e produtor musical natural do Rio de Janeiro. Sua formação é marcada pela orientação direta dos mestres Itiberê Zwarg e Hermeto Pascoal. Sendo membro da Itiberê Orquestra Família durante 10 anos, gravou três álbuns e se apresentou nas mais importantes salas de concerto do Brasil e da América Latina, além dos mais representativos festivais de jazz do país, viajando em turnês com Hermeto. 

Enquanto instrumentista, atuou junto a importantes artistas da música brasileira, Arismar do Espírito Santo, Nenê, Leny Andrade e Dory Caymmi. Bernardo integra o grupo Bamboo, trabalho de grande destaque na cena de jazz contemporâneo brasileira, com o qual gravou dois álbuns autorais: Bamboo (2010) e Abertura (2012). Em 2016, gravou, para o selo japonês Spiral Music, o álbum “Gesto”, em trio com Joana Queiroz e Rafael Martini.

Além disso atua com o grupo Base and Brass – liderado Idriss Boudrioua –, no sexteto de Joana Queiroz além de trabalhar como guitarrista, produtor e arranjador em diversos projetos .Na edição de 2013 do Festival Villa-Lobos Bernardo atuou como guitarrista, arranjador e diretor musical do concerto em homenagem aos 70 anos de Dori Caymmi, no Espaço Tom Jobim, com a participação do próprio Dori, Nana e Danilo Caymmi, além de Joyce Moreno. Na edição do ano seguinte, foi convidado pela curadoria do festival para uma homenagem a Hermeto Pascoal. “Cangaço”, seu primeiro álbum solo, foi lançado em 2019 pela gravadora Rocinante, em formato digital e vinil.

(Foto: Riccardo Piccirillo)

Eleonora Strino (Itália)

Guitarrista italiana, cresceu em um lar criativo.  Seu pai e sua irmã foram importantes pintores da arte figurativa, mas a música foi o que atraiu Eleonora. Ela começou a tocar guitarra na adolescência.  Estudou no conservatório de Nápoles, depois no Conservatorium Van Amsterdam com Martin Van Itterson, Jesse Van Ruller e Maarten Van de Gritten. 

Iniciou sua carreira profissional como primeira guitarra na orquestra do compositor italiano Roberto De Simone. Ela conheceu Greg Cohen durante uma audição em Berlim.  Ele foi o baixista de longa data de Tom Waits e colocou Eleanora sob sua asa e eles iniciaram uma sólida colaboração que os levou a tocar por toda a Europa e em muitos festivais importantes. 
Eles gravaram um álbum em 2017, Si, Cy, uma homenagem ao compositor americano Cy Coleman.

Eleonora também é compositora e arranjadora. Em 2021, lançou um livro com lições de guitarra para a editora inglesa Fundamental-Changes chamado “Be-Bop Scales”, distribuído nos Estados Unidos e também o seu primeiro álbum como compositora, com guitarra e voz.  Realizou turnê nos EUA no início de 2022 com a International Guitar Night.  Em setembro de 2022, passou a acompanhar a consagrada cantora italiana Ornella Vanoni. 

(Foto: José de Holanda)

Manuel Cordeiro (PA)

Um dos produtores musicais mais influentes e celebrados da música popular da Amazônia, o multi-instrumentista Manoel Cordeiro, comemora 55 anos de carreira.
 
Já contribuiu, seja como músico participante, arranjador ou produtor, em cerca de 800 discos, em sua maioria trabalhos que mergulham no universo popular da região amazônica e nordeste brasileiro. Foi músico fundamental na consolidação das sonoridades de música popular nestas regiões, pioneiro em ritmos como a lambada e o brega. 
 
Como compositor, tem parcerias com Fernando Mendes, Arnaldo Antunes e Zeca Baleiro. Montou em 2013 a Banda Os Desumanos, que está finalizando seu primeiro CD. O projeto instrumental Sonora Amazônia foi o primeiro disco solo de Manoel Cordeiro gravado em 2015, cujo a faixa Asfalto Amarelo entrou na trilha do filme “Pequeno Segredo”, indicado ao Oscar 2017.
 
A faixa também ganhou letra de Felipe Cordeiro e Zeca Baleiro e foi gravada por Fafá de Belém no álbum “Do Tamanho Certo para o Meu Sorriso”, álbum premiado no Prêmio da Música Brasileira 2016. Em 2017 lançou  seu segundo álbum solo, intitulado Manoel Cordeiro – Guitar Hero Brasil. Em 2022  lançou o disco Manoel Cordeiro –  Levadas de Festa e o vinil, por um selo da Espanha,  da banda Os Desumanos,  que formou com os parceiros Liminha, Kassin, Stenphan San e Felipe Cordeiro.

(Foto: Eduardo Orelhax)

Lari Basilio (SP)

Lari Basilio nasceu em uma família musical em São Paulo. Aos oito anos seu pai ensinou a ela os primeiros acordes no violão, foi então que a menina se apaixonou pela guitarra. Em 2011 Lari lançou seu primeiro trabalho instrumental, o EP “Lari Basilio”, que teve a participação de Felipe Andreoli, baixista da Banda Angra. 

Seu segundo trabalho autoral, o CD e DVD “The Sound of My Room“, foi lançado em agosto de 2015 em São Paulo. Lari foi a vencedora da categoria instrumental do Samsung E-Festival in 2014 onde fez um show para um público de 15 mil pessoas ao lado de Keb’ Mo’ e Quinn Sullivan, no Samsung Best of Blues Festival, no Parque do Ibirapuera. Sempre focada no seu trabalho autoral, lançou seu terceiro álbum instrumental, “Far More”, gravado na Capitol Studios, em Los Angeles, Califórnia. Em Janeiro de 2021, Lari Basilio lançou, em parceria com a Ibanez Guitar, sua primeira guitarra signature, a Ibanez LB1. 

O mais recente álbum de Lari Basilio “Your Love” foi lançado em 5 de agosto de 2022 e estreou nas primeiras posições das Charts de Rock do iTunes em diversos países. 


Pedro Andrea (Espanha)

Um dos mais importantes guitarristas do cenário musical da Espanha, Pedro Andrea é autor de quatro álbuns instrumentais (‘Transparente’, ‘Tierra’, ‘Heart-Art’, ‘Lo Mejor de Pedro Andrea’) e um cantado, no qual canta e colaboram: Miguel Bosé, David Summers, Antonio Vega e Teo Cardalda. Já tocou e gravou com Carlos Santana, Scott Henderson, Manolo García, Miguel Bosé, Paco León, Ana Torroja, Macarena Gómez, entre outros.

É também compositor (música e letra) de canções que artistas como Luz Casal, Miguel Bosé, Malú e David Summers, Pastora Soler. Existem produtos no mercado, como a guitarra ‘Pedro Andrea’ e o amplificador ‘Pedro Andrea Signature’, construídos de acordo com as suas especificações.

Programação

10/12 sábado, às 15h com Pedro Andrea, guitarrista espanhol, no Cine MAM – Inscrições: https://bit.ly/MasterclasesGuitarraSSA.

Shows:
09/12 – sexta, a partir das 18h, no MAM Bahia:

Mou Brasil (BA)
Bernardo Ramos (RJ)
Pedro Martins ( DF)
Eleonora Strino (Itália)
 
10/12 – sábado, a partir das 18h, no MAM Bahia:
Jessica Kaline (BA)
Lari Basilio (SP)
Pedro Andrea (Espanha)
Manoel Cordeiro (PA), com participação de Roberto Barreto do Baiana System (BA)
 

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