Foi no período da transição da ditadura militar de 64 para a Nova República que marcou a volta da democracia ao país em 1985, que Marco Maciel, ex-governador de Pernambuco e ex-presidente da Câmara, cunhou uma expressão que se tornaria famosa.
Em momentos de muita tensão, quando indagado sobre o que poderia acontecer, ele respondia:
“Tudo, inclusive nada”.
José Múcio Monteiro, escolhido por Lula para ministro da Defesa, é pernambucano como Maciel, melhor contador de histórias engraçadas do que Maciel, e muito mais direto se algo o preocupa. Maciel costuma esconder o que pensava, Múcio Monteiro, menos.
Em longa entrevista à GloboNews, ontem, a certa altura ele disse:
“Acho que os dias que nos separam da data de posse do presidente Lula serão os mais difíceis. Se a gente tiver um golpe neste país eu não sei como vai ser”.
Oi! O ministro pressente alguma coisa? O que o perturbou na fala de Bolsonaro aos seus devotos no cercadinho do Palácio da Alvorada? Depois de quase 40 dias de silêncio, Bolsonaro voltou a conversar com os mais fanáticos dos seus seguidores:
“As Forças Armadas são essenciais em qualquer país do mundo. Sempre disse que elas são o último obstáculo para o socialismo. As Forças Armadas estão unidas. Assim como eu, elas devem lealdade ao nosso povo, respeito à Constituição”.
“Estamos nos manifestando de acordo com as nossas leis. Vocês são cidadãos de verdade. Está na hora de parar de ser tratado como outra coisa. Acredito em vocês. Vamos [inaudível] nosso país se Deus quiser. Tudo dará certo, no momento oportuno.
Para Múcio Monteiro, Bolsonaro “colocou a digital” nos atos antidemocráticos em curso desde que ele foi derrotado:
“Ele hoje colocou a digital. Por enquanto, a gente não podia dizer ‘está por trás’. Não, são os caminhoneiros, donos das empresas de transporte, é o pessoal do agronegócio. Hoje, o presidente falou. Isso é uma coisa realmente que vai deixar a gente pensar”.
“Criar uma confusão agora, né? Não é do interesse do país. Eu acho até que tem gente querendo que haja um problema. A melhor maneira de enfrentar isso é não entrar no jogo. Estamos a quinze dias de mudar o governo”.
Bolsonaro está com medo de ser preso e de ver os filhos presos, como admite em conversas com amigos. Bolsonaro ainda não digeriu sua derrota. Bolsonaro está claramente incomodado com o início precoce do governo Lula, que é quem dá as cartas.
Sua fala inesperada é um aval aos que se amontoam diante de quartéis em várias cidades a pedir a anulação dos resultados das eleições, mas apenas no segundo turno. Uma parte desses golpistas bloqueou por algumas horas o aeroporto de Brasília.
Há mais golpistas chegando a Brasília e que prometem tumultuar a festa da posse do novo governo. Foi por isso que Lula antecipou a data de sua diplomação pela Justiça e anunciou os nomes de cinco futuros ministros. Quer criar um fato consumado.
Só um fato novo é capaz de revogar um fato consumado. É à espera de um fato novo que os sublevados ainda resistem.
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