Confere iluminação, checa áudio e posiciona instrumento e microfone. Em clima de preparativos finais, os músicos da Osba realizaram, nessa sexta-feira (6), o último ensaio antes da apresentação da Osbrega – O Concerto do Amor, que acontece neste sábado (7), na Concha Acústica. Por trás da dinâmica comum a preparações finais, no entanto, o espetáculo promete um novo formato de apresentação.
No lugar da música clássica, o ritmo brega aparece trazendo consigo alguns clássicos da música romântica brasileira, como Fogo e Paixão e Moça, do repertório do cantor Wando; Princesa, eternizada por Amado Batista; Torturas de Amor, de Waldick Soriano; Homem Não Chora, conhecida na voz de Pablo; e por aí vai.
Nos bastidores, além do nervosismo pela execução desse projeto inusitado, já que é incomum ver uma orquestra apresentando algo diferente da música clássica, ainda mais o ritmo brega, também havia grande expectativa pela reação do público. Mas Mauro Madruga, 37 anos, trombonista da Osba, não tem dúvida: será surpreendente, pois foi o ritmo que o fez se apaixonar pelo instrumento clássico.
Aos 14 anos, ele entrou na banda de marcha do colégio em que estudava, no Rio Grande do Sul, para ficar junto com os amigos. Interessado pela atividade, mas principalmente pela diversão com os colegas, ele passou certo tempo sem decidir qual instrumento tocaria. Mas tudo mudou quando ele assistiu à banda da Marinha apresentando a canção “Garçom”, de Reginaldo Rossi, na praça da cidade.
“Nessa música, o trombone fazia a melodia principal. Nesse momento foi que despertou em mim o interesse em tocar o trombone, pela identificação instantânea. Talvez se eu não tivesse ouvido essa música, hoje eu não estaria aqui em Salvador, fazendo disso minha profissão. Lembrei desse momento enquanto ensaiava para Osbrega. Trazer uma música que ouvimos no rádio para o instrumento clássico também é orquestra”, afirmou o trombonista.
Essa é uma espécie de resposta à polêmica que antecede o show. Quando soube do espetáculo, o maestro Ricardo Castro, que comanda a Neojiba, fez uma publicação no Instagram rotulando a iniciativa como “um círculo do inferno nunca Dantes visto neste país” – fazendo um trocadilho com o escritor Dante Alighieri. Ele escreveu: “Quando uma orquestra sinfônica estadual, depois de conquistar milhões inéditos para seu orçamento, escolhe esse título para promover um concerto que poderia ser tocado melhor por Lairton e seus teclados, estamos certamente entrando em um círculo do inferno”.
Dias depois, mesmo sem citar o colega, o maestro Carlos Prazeres, regente titular e diretor artístico da Osba, mandou um recado: “Não temos preconceito elitista. Pegar uma ‘elite’ que detém o poder do conhecimento e da cultura faz ela ficar para sempre como elite e, o pobre, sempre pobre. A elite precisa se abaixar um pouco para conversar com os outros”, disse.
Cantores Ana Barroso e João Cavalcanti interpretarão as músicas (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) |
Ainda sem citar nomes, ele reforçou nessa sexta o seu posicionamento: “Este concerto tem um caráter simbólico, pois ele é mais do que um concerto, ele é uma resposta ao preconceito, ao elitismo. E vou deixar uma coisa bem clara: nem a música clássica, nem a orquestra são elitistas. Isso parte sempre de entes individuais”, enfatizou o maestro.
Na plateia, uma presença ilustre pegou de surpresa os músicos da orquestra e os cantores Ana Barroso e João Cavalcanti, que se apresentarão com a Osba neste sábado. Caetano Veloso saiu do evento de posse do secretário de Cultura do Estado da Bahia, realizado ontem, no Teatro Castro Alves (TCA), direto para o último ensaio da Osbrega.
Música “Sonhos”, interpretada por Caetano, integra repertório do Osbrega (Foto: Emilly Oliveira/ CORREIO) |
Na ocasião, os músicos cantaram “Sonhos” no ritmo brega, uma canção do compositor Peninha, já interpretada por Caetano. “Muito bonito, porque a música inspira em todos os ritmos, e o que eles estão fazendo aqui é incrível”, aprovou Caetano.
Os ingressos para o concerto estão à venda na bilheteria do Teatro Castro Alves e na plataforma on-line Sympla, pelos valores de R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). A apresentação também será transmitida no Youtube, pelo canal da Osba.
*Com orientação da subditora Fernanda Varela