Passivo vermelho I
Para além dos números de guerra mostrados no levantamento do Monitor da Violência sobre a liderança da Bahia no ranking de mortes violentas nos últimos quatro anos, o Estado carrega um passivo assustador que foi criando corpo desde a gestão do ex-governador Jaques Wagner. De 2007 a 2014 a Bahia registrou cerca de 43 mil mortes violentas – número perto da realidade de Rio de Janeiro e São Paulo, que estavam na casa de 47 mil ocorrências – ambos são mais populosos. Na era Rui Costa, a violência disparou e os casos computados entre 2015 e 2022 chegaram a 47 mil, enquanto Rio e São Paulo baixaram seus índices para 32 mil e 38 mil, respectivamente, no mesmo período. No geral da série histórica (2007-2022) 90 mil baianos entraram para as estatísticas como vítimas de mortes violentas. São Paulo ficou com 79 mil e o Rio com 86 mil.
Passivo vermelho II
Os números da violência na Bahia chegam a superar os registros de países com maiores índices de homicídios do mundo. A Jamaica, por exemplo, foi considerada pelo portal Insight Crime o país mais violento do mundo, chegando a registrar quatro homicídios diários. Na Bahia, conforme dados do Monitor da Violência, esse número de assassinatos diários chega a 14. No total, em 2022, foram 5.124 mortes violentas, o que coloca o estado como o mais violento do país, com quase 50% mais homicídios do que o segundo colocado, Pernambuco. Os dados do estado superam ainda os índices de Honduras, Guatemala e El Salvador, que estão entre os países mais violentos das Américas, conforme dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).
Empurroterapia
Enquanto isso, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) adota a mesma estratégia de transferir responsabilidade utilizada por seus antecessores, que culpavam questões nacionais e medidas do governo federal passado para justificar os elevados índices de violência da Bahia. Jerônimo, por sua vez, passou a culpar a cobertura da mídia sobre a insegurança no estado. E nesse jogo de “empurra empurra” quem paga o pato são os baianos, seja nas grandes médias ou pequenas cidades, que seguem vivendo em meio à escala da violência.
Acusou o golpe
Líder do governo na Assembleia, o deputado Rosemberg Pinto (PT) admitiu que o governador Jerônimo Rodrigues dormiu no ponto ao extinguir a Bahiatursa na reforma administrativa e ter deixado um vácuo na estrutura da Secretaria de Turismo, o que impossibilitou a celebração de contratos para festas e eventos. O ajuste só foi feito na última terça (28 de fevereiro) quando a Assembleia Legislativa aprovou a criação da Superintendência de Fomento ao Turismo (Sufotur), nova unidade gestora que abrigará atribuições da extinta Bahiatursa. Mas só para não perder o costume da ilegalidade, Jerônimo estampou a Sufotur na publicidade do Carnaval, antes mesmo dela ser oficialmente criada.
Fascista do bem
Por falar em Rosemberg Pinto, ele ganhou o noticiário nacional por atacar o jornalista da Folha de São Paulo, João Pedro Pitombo. Até pouco tempo quem praticava episódios dessa natureza era chamado sonoramente pela esquerda de “fascista”. Ao que parece, o critério foi revisto, sobretudo na Bahia, onde petistas e demais canhotos assentiram silenciosamente para as agressões do líder de governo de Jerônimo Rodrigues. Seria uma versão de “fascista do bem”?
Estopim
Fato é que a agressão de Rosemberg expôs o clima de instabilidade na base governista com relação à indicação da esposa do ex-governador Rui Costa, Aline Peixoto, para o posto de conselheira do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). Na última semana, uma apuração feita por João Pedro Pitombo mostrou que Aline Peixoto omitiu do currículo enviado à Assembleia Legislativa da Bahia seu vínculo com a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) desde 2008. Sem contar que a liderança de Rosemberg ficou ainda mais questionada e, segundo integrantes do grupo, já há na base uma discussão para tirar o deputado do posto.
Pressão
Embora haja pressão sobre Rui para desistir da empreitada de indicar a esposa ao TCM, aliados do ministro da Casa Civil dizem que o cacique petista segue irredutível. Eles argumentam que uma eventual desistência, nesta altura do campeonato, seria encarada como uma derrota pessoal de Rui, fracasso que o ex-governador não pretende carregar. Dizem, ainda, que seria também uma vitória para o senador Jaques Wagner (PT), que expôs publicamente sua posição contrária à indicação de Aline Peixoto. Como pano de fundo do imbróglio, continuam os governistas, há uma queda de braço entre Rui e Wagner pelo comando do PT no estado.
Sem surpresa
Surpreendeu um total de zero pessoas a informação divulgada nesta semana de que o PL na Bahia iria liberar seus deputados para, caso queiram, votar com o governo de Jerônimo na Assembleia Legislativa (ALBA). Nos bastidores da política baiana, já são claros os indícios de aproximação do ex-ministro João Roma, presidente do partido no estado, com o grupo petista. Até mesmo o deputado Vitor Azevedo, ex-chefe de gabinete de Roma, é considerado “independente” no Legislativo, mas mantém diálogo com o governo. E o parlamentar Raimundinho da JR é vice-líder de Jerônimo na Casa. Ambos, pasmem, integrantes do partido de Jair Bolsonaro.
Clube dos insatisfeitos
Quem não esconde a indignação com a situação é a médica Raissa Soares, que disputou o Senado em 2022 quase sem apoio do partido na Bahia e, ainda assim, obteve mais votos do que João Roma para o governo – ela superou a casa dos 1 milhão de votos, enquanto o ex-ministro chegou a 738 mil. Vice-presidente do partido no estado, Raissa condenou a aproximação do PL com o PT e, pelo que se comenta, vai pedir providências nacionais. O vereador de Salvador Alexandre Aleluia também criticou duramente os rumos do partido. Assim como eles, o restante da ala bolsonarista não anda nada satisfeita com a condução do partido.
Lá e Lô
Além dos deputados, quem também anda conversando com o governo é o prefeito de Porto Seguro, Jânio Natal (PL), um dos principais apoiadores de Jair Bolsonaro na Bahia. Nesta semana, Jânio se reuniu com o líder do governo, deputado Rosemberg Pinto (PT), em encontro articulado pelo parlamentar Raimundinho da JR, que contou com o apoio do prefeito de Porto Seguro em 2022.
2024 é logo ali
A questão agora é saber como ficará o cenário em Porto Seguro em caso de acordo de Jânio com o PT, já que o prefeito é rival mortal do grupo da ex-prefeita Claudia Oliveira (PSD), apoiadora de Jerônimo e eleita deputada estadual. Claudia já vem avisando a seus correligionários na cidade que não vai abrir mão de uma candidatura na cidade em 2024 – dela ou de algum aliado.
Braços cruzados
Na Assembleia Legislativa (ALBA), integrantes da base governista não andam muito satisfeitos com a articulação política de Jerônimo, embora muitos deles digam que o novo governador é muito mais afável com os parlamentares do que Rui Costa. Em conversas reservadas, dois deles andam se queixando que ainda não foram procurados para discutir espaços no governo e reclamam que até mesmo deputados do PP, que nas eleições não apoiaram Jerônimo, já ganharam cargos na gestão estadual. Já avisaram a quem é de direito que vão cruzar os braços.