O senador Marcos do Val (Podemos-ES) admitiu a apoiadores, nesta quinta-feira (30/3), que usou reuniões com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes para blindar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A declaração foi flagrada pela coluna de Igor Gadelha, do Metrópoles. Na última quarta-feira, Marcos do Val já falava sobre o assunto, e admitiu à reportagem que tudo não passou de um plano para “pegar” Moraes.
No início de fevereiro, Marcos do Val ganhou os noticiários depois de afirmar que Bolsonaro o coagiu a participar de um golpe de Estado e que tudo foi relatado a Moraes. Agora, admite que o objetivo de falar publicamente sobre as reuniões com Bolsonaro e com Moraes era incluir o ministro no inquérito dos atos antidemocráticos, impedindo-o, então, de ser o relator.
“Eu falei [ao Bolsonaro] que eu precisava disso para pegar o Alexandre. E o Alexandre sumiu. Alexandre de Moraes sumiu”, afirmou. E completou: “Eu incluí ele dentro do processo. Então, ele não pode mais ser relator”, disse.
Do Val afirmou que o que motivou o seu plano foi ver os invasores do Congresso, do STF e do Palácio do Planalto presos em um galpão após os atos golpistas. “Aí eu falei: ‘Poxa, não tem como. Esse cara [Moraes] tem que ser freado’”. Além de frear Moraes, ele ressaltou que um outro objetivo era dar fôlego à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos golpistas.
Na época, que contou a história da reunião com Bolsonaro, o senador mudava de versão a todo tempo. Agora, ele diz que tudo foi parte do plano. “Durante o dia eu passava as informações meio desencontradas mesmo”, disse.
Assim como na ocasião, as versões do senador continuam desencontradas. No início da conversa com a reportagem, ele disse que comentou sobre o plano de complicar Moraes a Bolsonaro. No decorrer da entrevista, no entanto, do Val afirmou que não disse nada sobre Moraes a Bolsonaro ou a ninguém, e que apenas comunicou o ex-presidente que precisava citar a reunião golpista para uma ação relacionada aos atos antidemocráticos.
O senador disse que chegou a se reunir com representantes da PGR (Procuradoria-Geral da União) para saber o limite da legalidade das informações que ele levaria a público. Ele disse ter questionado, por exemplo, se a reunião com Bolsonaro para discutir um golpe configuraria um crime. Perguntado pela reportagem, não quis dizer os nomes dos referidos representantes da procuradoria.
“Você lembra que eu falei que o Bolsonaro me coagiu? Que eu iria entregar meu cargo? Mentira.”
Confira alguns trechos da entrevista:
O Bolsonaro não ficou chateado com a história da reunião golpista?
Não. Eu falei que eu precisava disso para pegar o Alexandre. E o Alexandre sumiu. Alexandre de Moraes sumiu.
O senhor falou que precisava para frear o Moraes?
Porque estava todo mundo naquele galpão preso e eu fiquei… Eu falei: ‘poxa, não tem como. Esse cara tem que ser freado’
E o presidente falou o que na época?
Só disse: ‘Tem certeza?’. E eu falei: ‘Deixa comigo. Só estou te comunicando, não estou nem te pedindo’.
Então, não ficou nenhuma rusga com o Bolsonaro.
Não. Pode ver que ninguém da família me atacou. O povo falava: ‘Você traiu o Bolsonaro’. E eu falava assim: ‘Você viu a família acionando o gabinete do ódio?’.
O senhor pensou neste plano sozinho?
Sim. Eu trabalho com inteligência tem 30 anos.
Teve resultado que queria?
Mais do que eu imaginava.
Por que?
Cadê o Alexandre de Moraes? Está mergulhado. Ele recuou. A PGR começou a ser demandada por ele. Até então, não era.
E eu precisava tornar a CPMI [Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos atos golpistas] um desejo de todo mundo novamente, porque estava todo mundo deixando para lá. E eu comecei a soltar nas entrevistas os envolvimentos com ministros, do Lula. Aí eu joguei gasolina no fogo.
Quando o senhor falou em abdicar o cargo, foi encenação?
Foi mentira, encenação. Não podia abdicar, porque eu precisava… Eu ia ter confronto com o ministro. Não poderia ter esse confronto sem ser senador.