Rumo a junho, eis que quase viramos abril sem tocar em maio. As festas de inverno já pipocam nos outdoors da vida em anúncios que vendem forró e pacotes de turismo. As crianças contam nos dedos os dias que faltam no calendário para o recesso junino e até os mais ansiosos desaceleram diante da profusão quase sucessiva de feriados.
É, o ano parece deslizar bem lento até agora. Feito um carro alegórico que resfolega sob o peso de corpos e acessórios. Os que não o empurram com a barriga, para não perder pontos, acabam-se aos gritos nas arquibancadas. É preciso ser feliz, aplaudir a passagem dos passistas. Gratiluz, amigos, “na velô da dicção choo choo de Carmen Miranda”.
O cotidiano segue o ritmo duma batucada. Unidos da Resistência: nota dez. Na ala das baianas equilibristas, já carrego o meu balaio. Vai na cabeça, Iemanjá, rosas brancas de promessa. Fevereiro tem a desenvoltura duma porta-bandeiras, observo. Faz volteios de piseiro só para nos deixar de cara com o Destino. Vem dançar, é quase maio.
Nem o clichê poético de Eliot fez estragos até agora. Abril foi passando por nós, como um desses motoristas silenciosos que, nos terminais rodoviários, atravessam a madrugada encaminhando destinos. Passageiros imaginários, só pedimos que nos deixe em casa em segurança. Encosto o rosto no vidro do ônibus, é o ponto. Ô, glória!
Logo será noite de São João outra vez, e lembraremos que alguns dos nossos estão dormindo profundamente como no poema. Um Natal novinho em folha, um Carnaval latente e eis que, entre os meses, bate aquela tristeza kitsch, que se apaga e que se acende em piscas de luzes vermelhas e verdes. E em tapa-ouvidos para os fogos.
Maio se apresentará aos seus superiores em forma de raio. A página do relâmpago elétrico, minha irmã. Mês das noivas e das mães. Passo os dias bem devagar até agora, como se folheasse um livro raro. É o que me distrai das urgências e dos desencantos. Reviver uma orquídea. Fazer com que uma planta que se deu por vencida reaja