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Fui comemorar o aniversário de meu marido e estouraram o vidro de nosso carro, diz vítima da ‘gangue do celular

A região central de São Paulo tem tomado conta das manchetes dos jornais constantemente. Um local com uma história rica e diversos pontos turísticos, mas que ao mesmo tempo se tornou um local perigoso. O celular acaba sendo o alvo predileto dos criminosos. Em qualquer lugar da cidade, é comum observar pessoas paradas, usando o aparelho, muitas completamente desligadas do que ocorre ao redor. Nem mesmo quem evita usar o aparelho ao caminhar pela capital paulista está livre. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o número de roubos de furtos de celulares saltou de 852.991, em 2021, para 999.223, em 2022, no Brasil, um aumento de 16,6%. Os dados de São Paulo chamam a atenção. O número saltou de 289.461 para 346.518, de 2021 para 2022, o que indica uma elevação de 19,7% , acima da média nacional. Mais do que isso, as estatísticas indicam que os registros no Estado representam 34,7% do total do país. A reportagem da Jovem Pan conversou com vítimas de roubos e furtos de aparelhos na capital paulista e reproduz os relatos abaixo.

O representante comercial Tandary Freitas, conhecido como Tandy, de 33 anos, foi uma das vítimas. Ele celebrava a ida para um intercâmbio quando, de maneira inusitada, quase perdeu seu celular. “Eu ia fazer uma intercâmbio e tive a ideia de comemorar no Centro”, inicia, em conversa com o site da Jovem Pan. Ele conta que estava acompanhado de outras 15 pessoas, quando foi abordado por uma travesti na Rua Augusta, que o chamou para um programa. “Tomei um susto e acabei me distraindo”, conta. Nesse pequeno tempo de distração, ele percebeu que ficou sem o celular. A travesti caminhava em direção a um carro que estava estacionado no outro lado da via. O furto, porém, não foi concretizado. “Fui atrás e consegui recuperar meu celular”. Em outro episódio, ele conta que foi cercado, junto com sua mãe, por um grupo de mulheres. O alvo das criminosas era bolsa de sua mãe. Os dois se afugentaram dentro de uma loja, na Rua 25 de Março. Elas aguardavam a saída de ambos e só foram embora com passagem de um carro da polícia na região. O episódio derradeiro ocorreu quando caminhava pela Avenida 9 de Julho e viu diversos garotos roubando quem aparecesse pela frente. “Estava com meu celular e tive que me esconder”, relata. “Dificilmente passo pelo Centro. Hoje trabalho no Morumbi, que também é uma região perigosa. Frequentava muito o Centro de São Paulo, mas toda vez que vou é uma história triste para contar. Virou terra de ninguém”, lamenta.

Os crimes não têm hora para acontecer. Nem mesmo bairros fora do Centro estão livre das ações dos criminosos. A influenciadora digital Luiza Nunes teve o celular roubado na Avenida Pacaembu, por volta das 10h30 da manhã de um sábado. Ela suspeita que o rapaz conseguiu quebrar o vidro com o cotovelo. “Estava indo ver meu namorado jogar bola. Não lembro se estava parada com o carro, mas quando olhei para o lado, um homem quebrou o vidro do meu carro e pegou meu celular”, relata. O problema não parou por aí. No momento do crime, seu celular estava desbloqueado. Ela conta que o homem zerou todas as suas contas e fez diversos empréstimos, além de aumentar o limite do cartão de crédito. O problema foi solucionado, mas o prejuízo foi enorme. “Tive que comprar outro celular e arrumar o vidro do carro”, disse. Depois disso, ela investiu em uma película para deixar o vidro resistente, mas o susto ainda está bem vivo em sua mente. “Qualquer moto que passa do lado já fico assustada. Sempre deixo o carro engatado para quando precisar acelerar”. Em suas redes sociais, Luiza conta que passa diversas dicas do Centro de São Paulo para os seus seguidores e ainda pela região a pé, tomando bastante cuidado. “Amo o centro. Adoro ir aos bares do Centro. Ando a pé por lá, sempre tomando muito cuidado. Sempre posto muitas dicas do Centro. Está melhorando, mas ainda é perigoso”, afirma.

Quem também vive uma situação semelhante foi a executiva de pós-vendas Isabelle Cristiny Sampaio da Silva. No dia 11 de março, ela saiu para comemorar o aniversário do marido. A noite, que tinha tudo para ser divertida, acabou se tornando um pesadelo. “Fui comemorar o aniversário do meu marido em um bar, no Centro Histórico de São Paulo, próximo da região da República. Saímos do local e fomos em direção a Mooca. Passamos pela 25 de março e paramos em um farol, foi quando um homem estourou o vidro do carro e levou um celular”, conta Isabelle. “Achei que tinha batido o carro, só fui entender que se tratava de um roubo quando ele pegou meu celular. Não conseguimos ter reação. Meu marido tentou correr atrás dele, mas não conseguiu”, complementa.

Não bastasse o susto, ela ainda teve que lidar com outro problema. “Em menos de 30 minutos, fizeram sete transferências de mais de dois mil reais. Tive dor de cabeça para resolver isso. Eles tiveram acesso a tudo. No final nem saímos mais. Meu marido se machucou e tem a cicatriz no braço até hoje. Era para comemorar o aniversário e no fim passamos a noite entrando em contato com banco e fazendo boletim de ocorrência”, relembra. Apesar do prejuízo, ela conta que conseguiu resolver a situação e teve os valores roubados devolvidos. Mas as lembranças daquela noite ainda permanecem. “Quando entro no carro, fico olhando para os lados a todo o momento”. Ela evita passar de carro na região. Quando precisou retornar ao local, optou por utilizar o Metrô. Um dia, porém, passou pelo local ao acionar um motorista de aplicativo. “Escondi meu celular”, disse. “Você se sente invadida. É uma pessoa tendo acesso à minha vida, minhas fotos. Tudo. Além do pânico que fica”, finalizou.

Já o designer industrial Guilherme Lopes teve o celular furtado em uma agência bancária localizada na Avenida Paulista. Ele e uma colega andavam pela região por volta das 23h quando pararam no banco para utilizar o caixa eletrônico. Ao entrar na agência, uma casal que estava atrás da dupla também entrou no local. “Com certeza, eles já estavam atentos ao movimento. Eram dois assaltantes mas eu não sabia até então. Depois que usamos o caixa, no exato momento que fomos sair, eles também saíram logo atrás de nós. Minha colega saiu primeiro e eu em seguida. O casal passou depois bem colado a mim. Eu não percebi, mas roubaram meu celular. Logo depois, percebi que estava sem ele. Foi uma coisa muito rápida”, relata. O site da Jovem Pan procurou o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

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