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Ciro carrega peso político duplo, e disputa com Cid emperra articulação para 2024

Foto: Divulgação

Ciro Gomes carrega peso político duplo 13 de novembro de 2023 | 12:09

Para o PDT, Ciro Gomes tem dois pesos.

Pedetistas ouvidos pela Folha afirmam ainda sentir as consequências da campanha eleitoral mal sucedida do ex-ministro. A briga dele com o irmão, o senador Cid Gomes (PDT-CE), também atravanca as movimentações para o pleito de 2024. Por outro lado, a base fiel de ciristas o coloca como um caminho para reerguer o partido.

A avaliação de correligionários do ex-ministro é a de que ele fez uma campanha com o fígado, tecendo duras críticas a Lula e se afastando dos aliados dentro da sigla.

Porém os mesmos avaliam que, se o PDT não tivesse um candidato próprio à Presidência, o partido poderia ter seguido os mesmos passos das legendas que desapareceram à sombra do líder petista —seja por terem formado federação com o PT, como é caso de PC do B e PV, seja por terem, assim como o PSB, diminuído sua presença no Congresso.

Ciro Gomes é um homem branco, calvo e veste um terno sem gravata. Na foto, ele está sentado numa mesa, segurando um microfone e gesticulando

Há hoje uma ala na executiva nacional do PDT que vê Ciro como um ativo político. Mesmo o partido sendo parte da base governista, eles defendem que são uma sigla independente e com história própria. Nesse sentido, ter uma liderança com uma base sua de eleitores —como é o caso do ex-ministro— é visto como um diferencial.

“Nós estamos no governo Lula para superar essa fase difícil que foi o governo Bolsonaro. Mas temos nossas propostas, somos um partido diferente”, afirma o secretário nacional do PDT, o ex-ministro Manoel Dias. “Estamos momentaneamente reunidos para impedir que a direita volte ao poder”, completa.

Apesar de a eleição federal de 2026 ainda estar longe, já há um caminho sendo pensado para Ciro dentro do partido. Desta vez, fora da disputa presidencial. Ele concorreria, pelo plano de alguns pedetistas, a deputado federal.

A ideia seria repetir o mesmo desempenho que teve quando disputou a vaga para a Câmara em 2006. Naquele ano, foi eleito como a maior votação proporcional do país para deputado federal, o que fez o PSB, no qual era filiado, a garantir várias cadeiras.

Se conseguir repetir o mesmo feito, Ciro ajudaria a repor as vagas que o PDT vai perder por conta do racha com o irmão no Ceará.

“Ciro é um nome importante, seria interessantíssimo [ele disputar uma vaga na Câmara]. É um quadro que traria com ele alguns deputados. Recuperaríamos o espaço que porventura venhamos a perder agora. Mas isso é uma decisão que cabe a ele”, diz Manoel Dias.

Ciro, por sua vez, tem falado que não pretende mais disputar nenhuma eleição. “Eu espero não precisar mais submeter minhas opiniões ao crivo eleitoral de ninguém”, disse em uma transmissão ao vivo em seu canal no YouTube.

A própria live, porém, já é um indicativo de que pode não querer cumprir o que está falando.

Depois de ficar meses recluso após a eleição presidencial, Ciro voltou à cena política.

Ele lançou uma newsletter semanal em que conversa diretamente com sua base fiel de eleitores e retomou as lives que fazia durante a campanha presidencial —que, na época, eram comandadas pelo marqueteiro João Santana.

Agora, Santana não está mais trabalhando oficialmente para Ciro —até porque quem pagava os serviços do marqueteiro era o partido, que parou de fazê-lo com o final do pleito. No entanto pedetistas próximos afirmam que os dois criaram uma amizade durante a campanha, e Santana dá alguns conselhos de comunicação para Ciro.

Nas lives e na newsletter, Ciro comenta temas do cotidiano, desde as medidas econômicas do governo federal à crise de segurança do Rio, e continua as críticas a Lula. Mas o tom é mais ameno, fazendo inclusive elogios pontuais ao presidente.

Além disso, Ciro também se encontrou com nomes ligados ao petista. Em setembro, ele esteve com o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, coordenador do programa de governo de Lula na eleição presidencial, e elogiou a gestão atual do banco.

A ala do PDT mais próxima de Ciro diz que ele tem capacidade de recuperar o capital político que tinha antes da eleição de 2022.

Antes do pleito, o ex-ministro era um dos principais nomes da terceira via, tendo terminado em terceiro lugar na disputa presidencial de 2018 com 12% dos votos. No ano passado, contudo, amargou o quarto lugar, com apenas 3% —o pior resultado de todas as vezes que concorreu ao Planalto.

A avaliação desses pedetistas é a de que há margem para Ciro se reerguer, mas ele precisa saber de que forma fará isso. A única certeza que dão agora é de que não pode ser com o fígado.

CONSEQUÊNCIAS DA ELEIÇÃO

Enquanto uma ala ainda vê Ciro como um ativo político, outra vê a derrota da eleição passada como uma pá de cal para o ex-ministro.

Os ataques durante a campanha contra Lula e o PT fizeram com que colegas do partido o abandonassem, temendo que as ofensivas pudessem minar alianças regionais e uma eventual participação no governo petista.

Na avaliação desses pedetistas, o tom belicoso de Ciro foi um dos principais fatores que fez o partido não eleger tantos deputados e diminuir seu espaço no Congresso. Em 2018, o PDT conquistou 19 cadeiras na Câmara; no ano passado, 17.

Os correligionários de Ciro também afirmam que a conduta dele e o resultado da disputa à Presidência diminuíram a margem de negociação do partido na divisão de ministérios do governo Lula.

Enquanto Simone Tebet (MDB), que saiu da posição de candidata azarão para um terceiro lugar, foi indicada para a pasta de Planejamento, Carlos Lupi, presidente do PDT, recebeu a Previdência.

A pasta é vista como uma bomba e um presente de grego para o PDT, já que depende de outros ministérios, como Fazenda, Planejamento e Gestão para realizar projetos. Apesar de ter a maior parcela do orçamento, a maior parte de seus gastos são obrigatórios com previdência e pessoal.

Outro fator que pesa contra Ciro no PDT hoje é o racha entre ele e o irmão Cid Gomes.

Os dois brigam por qual deve ser o posicionamento do partido no Ceará, berço eleitoral da família Ferreira Gomes. Disputa fez com que a executiva nacional interviesse no diretório cearense para tirar o senador do comando da sigla —que depois conseguiu reverter a decisão na Justiça.

Em meio à briga, um grupo de 5 deputados federais, 15 estaduais e 2 vereadores quer deixar o PDT. Eles estão ao lado de Cid, que também está em vias de trocar de legenda. Por ser senador, sua saída não incorre em infidelidade partidária —isto é, o partido não pode pedir seu mandado de volta, como no caso de deputado.

Diante dos frequentes embates judiciais entre Cid e o PDT nacional, a cúpula do partido já estuda a expulsão do senador da sigla.

A revolta de membros da executiva nacional do PDT é de que, num momento em que deveriam estar discutindo as estratégias para as eleições de 2024 do ano que vem, o partido está mais ocupado com a briga entre Ciro e Cid.

A pouco menos de um ano do pleito municipal, a sigla ainda não definiu quais serão seus principais quadros e alianças.

Camila Zarur/Folhapress

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