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O escritor e ativista indígena Daniel Munduruku 12 de janeiro de 2024 | 19:48
O Ministério dos Povos Indígenas até agora se preocupou muito mais com “festas” e viagens internacionais do que com a atuação concreta em favor dos povos originários, afirma o escritor e ativista indígena Daniel Munduruku.
Na manhã desta sexta (12), em uma rede social, ele escreveu que “os dados sobre a saúde dos yanomami não deixam dúvidas: criar um ministério cirandeiro apenas para apagar incêndio é replicar a velha política do pão e circo”.
À reportagem, ele diz que a persistente crise que atinge os yanomamis dá a impressão de que “realmente o ministério se preocupou muito mais com a festa, com isso que eu chamei de cirandeiro, e menos com uma atuação prática”.
“A gente viu muito mais a ministra [Sonia Guajajara], sobretudo, andando por vários cantos do mundo e menos ela, de fato, atuando dentro do Brasil, dentro das áreas indígenas”, diz.
“Numa comparação boba, é como se eu me dedicasse mais a vender meus livros para que um público externo visse a beleza do que eu escrevo do que querer que meus livros tenham algum tipo de impacto dentro da sociedade brasileira”.
Ele reconhece que o ministério foi criado com pouco espaço orçamentário e elogia a atuação conjunta de algumas pastas, como a da Saúde. No entanto, diz que isso “não foi suficiente para criar aquilo que o presidente [Lula] havia dito que ia fazer, que era realmente um atendimento muito especial para a população yanomami”.
“Meu povo munduruku está ali, passando pela mesma situação dos yanomami. Eles estão vivendo o mesmo drama, que é a invasão garimpeira”, continua.
“Em todos os lugares do Brasil têm esses problemas acontecendo. E a gente não vê, de fato, uma mobilização para conter esse tipo de… continua sendo, né, um etnocídio. Agora dessa vez vindo de onde a gente menos espera, ou pelo menos sendo aceita de onde a gente menos espera”.
Na avaliação dele, o ministério deveria chamar as lideranças mais velhas para conversar e dar um protagonismo aos indígenas.
“Eu diria até que talvez uma das urgências seria reformular, refazer, recriar o conselho dos povos indígenas, e que pudesse ser um conselho deliberativo também, ouvir e se esforçar para cumprir aquilo que essa população tem e que é preciso para manter minimamente a sua cultura”.
“E veja que a questão aqui não é só demarcação de terra, aliás nós não tivemos quase demarcação de terra este ano, que era uma das promessas de campanha também. Então alguma coisa está fora da ordem”.
Mais cedo, o Ministério dos Povos Indígenas publicou em uma rede social um fio com as ações realizadas para enfrentar a crise dos yanomami e sobre a atuação da pasta.
Danielle Brant/Folhapress
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