InícioNotíciasPolíticaO Superior Tribunal do Mercado impediu Mantega de presidir a Vale

O Superior Tribunal do Mercado impediu Mantega de presidir a Vale

A notícia é exemplar, no sentido de ilustrativa. Lula desistiu de presentear Guido Mantega com a presidência da Vale. Ou melhor, de retribuir o ex-ministro da Fazenda com um salário de 60 milhões de reais por ano pela lealdade demonstrada durante a Lava Jato.

É que Lula descobriu que a Vale não é mais do governo e que não poderia, assim, “reparar uma injustiça” com dinheiro alheio. Quer dizer, ele sabe disso, mas não se conforma que a empresa tenha outros donos. É difícil mesmo convencer político patrimonialista, com o perdão da redundância, de que nem tudo no Brasil lhe pertence. Ainda mais político patrimonialista de esquerda, daqueles que acordam e vão dormir pensando em salvar a humanidade dela própria. O governo detém apenas 8% do capital da mineradora, ainda assim de forma indireta, por meio da Previ.

Os acionistas da Vale tiveram de pagar caro pelo capricho frustrado de Lula. Foi o jornalista Lauro Jardim noticiar que o ministro de Minas e Energia havia ligado para investidores graúdos da Vale para dizer que o inquilino do Planalto queria que Guido Mantega presidisse a empresa, já que dotado de toda aquela radiosa incompetência que lhe é peculiar, e as ações da Vale despencaram. O valor de mercado da mineradora encolheu 39 bilhões de reais.

No curto espaço de tempo em que o sonho de Lula e de Guido Mantega durou, jornalistas noticiaram despudoradamente que o governo tinha uma carta na manga para dobrar os acionistas da Vale: as licenças ambientais de que a mineradora precisa para funcionar. 

É isto aí, malandragem: para colocar o amigo lá, Lula recorreria à chantagem, caso fosse preciso. Mas o STM, o Superior Tribunal do Mercado, a única instituição do país que ainda funciona, evitou que a vigarice fosse adiante. Eu disse que esses jornalistas noticiaram despudoradamente a chantagem, mas o advérbio correto é “candidamente”.

Eles não sabem o que dizem, coitados. Bom era o tempo em que a maioria dos jornalistas tinha viés político forjado na militância, companheiros. O sujeito, aliás, orgulhava-se de dizer que “militava no jornalismo”. Hoje, a maior parte é só mesmo ignorante, de uma ignorância da moralidade que a torna imoral, para não falar do mau português igualmente escandaloso. Ainda bem que não é o caso das moças já não tão moças que leem mensagens de autoridades amigas na TV com a certeza de que estão dando notícia em primeira mão.

Jornalista que militava no jornalismo, sem tentativa de parecer imparcial, pelo menos não muita, era uma beleza. A Vale, ela própria, ensejou uma das melhores histórias de que fui testemunha ocular e auricular. A coisa ocorreu no século cada vez mais passado, quando eu era um simples editor da Veja.

A equipe do então diretor-adjunto da revista fez uma reportagem enorme sobre os benefícios da privatização da Vale, antes de ele entrar em férias bem tiradas como a deste colunista. Só que o redator-chefe na época, petista mais intransponível do que as águas do São Francisco, não se resignou. 

No comando de um escrete de bravos rapazes, o redator-chefe aproveitou a ausência do diretor-adjunto e publicou  na semana seguinte — literalmente, apenas sete dias depois — uma reportagem do mesmo tamanho da primeira sobre o insucesso da privatização da Vale. Os leitores da Veja não entenderam nada desse exato contrário, mas jornalista que milita não tem preocupação com esse detalhe, os leitores.

Você há de perguntar: e o diretor de redação da revista, onde estava? Estava lá na sala dele. A reportagem positiva sobre a privatização da Vale — a correta — era homenagem ao patrão; a reportagem negativa sobre a privatização da Vale — a errada — era satisfação à redação povoada de petistas, entre os quais o diretor figurava como impávido colosso.

Sem Guido Mantega na presidência da Vale, Lula e os seus sequazes voltaram a falar de Brumadinho, como se a tragédia fosse necessariamente decorrência da privatização da empresa. Entende-se: é que o Estado brasileiro cuida tão bem dos cidadãos, que é culpa do “racismo ambiental” tantos pobres morrerem soterrados em seus casebres a cada tempestade de verão em janeiro.

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