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Imaginem se o novo chefe da CIA ou de qualquer outro serviço de inteligência importante tomasse posse e dissesse mais ou menos assim publicamente:
“Estou assumindo uma posição de beque central. Precisamos antecipar as jogadas, precisamos evitar as jogadas adversárias e jogar a bola nos pés do capitão do time para fazer o gol. Temos muito tempo e muito jogo pela frente, mas temos a certeza que vamos ganhar de goleada e no final a torcida extasiada com a atuação do time vai gritar: é campeão, é campeão. E não será surpresa para mim se no final do jogo a torcida pedir bis”.
Jamais li confissão tão descarada e explícita de se pôr um serviço de inteligência a serviço da manutenção do poder por parte de um grupo político. A confissão foi feita esta manhã pelo novo presidente da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), delegado Mauro Marcelo de Lima e Silva. E na presença do presidente da República.
A ABIN é o antigo Serviço Nacional de Informações (SNI) que serviu com eficiência à ditadura. Ela faz parte da estrutura do Estado. E assessora o presidente, seja ele qual for. É, ou deveria ser, um órgão neutro, impessoal, assim como o Itamaraty.
Seu novo presidente caiu nas graças de Lula porque resolveu o sequestro do parente de um amigo dele. E foi empregado de Lula porque trabalhou na campanha presidencial do PT em 2002.
O que ele quis dizer quando afirmou: “e no final a torcida extasiada com a atuação do time vai gritar é campeão, é campeão. E não será surpresa para mim se no final do jogo a torcida pedir bis”?
Quis dizer que “como beque central”, preocupado em “evitar as jogadas adversárias” e empenhado em “jogar a bola nos pés do capitão do time”, o presidente da ABIN não se surpreenderá se “a torcida extasiada” (o povo brasileiro) conceder um novo mandato a Lula? É com esse espírito que ele assume uma função tão estratégica?
Lula tem todo o direito de aspirar a um novo mandato. O povo tem todo o direito de concedê-lo. Mas o presidente da ABIN não tem o direito de torcer por isso e muito menos de ajudar a obter isso.
Dizem desse delegado que é um técnico competente. E que é admirador incondicional de John Edgar Hoover, que mandou no FBI por mais de 30 anos. Hoover ficou famoso porque espionou presidentes, políticos em geral, sindicalistas e estrelas do cinema.
O novo presidente da ABIN tem um retrato de Hoover no seu cartão de apresentação. E sempre que visita os Estados Unidos, reza ao pé do túmulo de Hoover.
Pelo visto ou dito, deve, de fato, ser um homem talhado para a função que começou a exercer hoje.