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Nunes e Boulos trocam ataques em debate e resgatam suspeitas e insinuações contra adversários

FERNANDA BRIGATTI, JOELMIR TAVARES E JÚLIA BARBON
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) trocaram ataques e resgataram suspeitas de seus respectivos passados durante debate em pool da TV Record e do jornal O Estado de S. Paulo, na noite deste sábado (19).

 

O emedebista tentou pintar o rival como radical e extremista e buscou atacá-lo citando mudanças de posicionamento em temas como polícia, drogas e aborto, além da acusação de rachadinha contra o deputado federal André Janones (Avante-MG). Já o psolista resgatou suspeitas de corrupção na prefeitura.

Nunes citou reportagem da Folha que mostrou que Boulos foi processado, ficou seis anos sem ser encontrado pela Justiça e teve processo prescrito por envolvimento no episódio conhecido como a desocupação do Pinheirinho, em 2012, quando foi preso em flagrante e solto sob fiança de R$ 700.

O agora candidato, que na ocasião se apresentou como professor universitário da Faculdade de Mauá, foi processado por suspeita de ter atirado pedra contra uma viatura da Guarda Municipal de São José dos Campos (SP) e incitado famílias desalojadas a danificarem o ginásio de esportes da cidade.

Ele negou ter danificado ou provocado alguém para destruir patrimônio público e disse ter sido agredido por guardas.

Já Boulos resgatou caso em que Nunes foi denunciado, aos 28 anos, por porte ilegal de arma após um disparo de pistola em Embu das Artes, na Grande São Paulo. O episódio aconteceu em uma madrugada de 1996 em uma casa de shows chamada Caipirão, no centro de Embu.

A acusação foi baseada no relato de um policial civil que trabalhava como segurança no salão, segundo documentos obtidos pela Folha de S. Paulo. Ele disse que estava em seu carro, ouviu um disparo de arma de fogo e quando saiu do veículo e viu Nunes dar um tiro com uma pistola Imbel calibre 380.

O prefeito afirma que o episódio se tratou de disparo acidental sem consequência, efetuado com arma de terceiro que saiu do local. “Tem nada que eu dei tiro, isso é uma conversa. Eu fui separar uma briga. Eu não podia ver aquela situação e deixar alguma coisa acontecer”, disse o prefeito sobre o caso.

O prefeito lembrou que a situação foi há mais de 20 anos e reclamou quando Boulos afirmou que ele foi preso na ocasião. Segundo os relatos oficiais, Nunes foi conduzido à delegacia.

No debate, os dois candidatos também repetiram o jogo de empurra sobre as responsabilidades do apagão da última semana em São Paulo, com um acusando o outro de mentir.

Boulos recorreu novamente ao discurso de que há um aditivo no contrato com a Enel que prevê que a responsabilidade por poda e remoção de árvores é da prefeitura, o que já tinha apresentado na sabatina Folha/UOL/RedeTV!, na quinta-feira (17), insistindo na ideia de que “a mãe” do problema é a Enel, e o “pai” é Nunes.

“Um líder precisa assumir responsabilidade, reconhecer erro. É uma coisa básica. Você não consegue reconhecer erro. Fica na arrogância. A culpa nunca é sua”, provocou, reagindo a Nunes por culpar o governo Lula pela falta de providências que poderiam levar ao rompimento do contrato com a empresa, já que a concessão é federal.

Nunes disse que há uma cláusula contratual que prevê que intervenção só pode ser feita pelo presidente da República. “Aqui a gente não quer jogar a culpa para ninguém, quer ver as pessoas com seus problemas resolvidos. Eles [Boulos e Lula] ficam defendendo a Enel, não tem condições. Você, como deputado federal, não fez nada”, afirmou.

Após ser indagado por Nunes sobre questões ideológicas e de comportamento, com pergunta sobre as opiniões e recuos do rival em temas como drogas e aborto, Boulos se posicionou e usou o tempo de resposta para insistir na pressão para que o prefeito abra seu sigilo bancário. O deputado vem dizendo que pode colocar suas contas para escrutínio.

Nunes retrucou afirmando que quem deveria abrir o sigilo é o MTST, movimento de moradia que Boulos liderou por mais de 20 anos, e lembrou a atuação do deputado no caso de suspeita de rachadinha no gabinete do deputado federal André Janones (Avante-MG). Como relator, Boulos recomendou o arquivamento do caso.

“Você, como deputado, passou pano para institucionalizar a rachadinha, livrou o Janones”, disse. “Que moral que você tem para fazer pedido de abertura de conta? Você não tem tamanho para isso”, completou o prefeito, que voltou a falar que o parlamentar não trabalha, ao que ele respondeu com a afirmação de que foi professor e hoje é deputado.

“Você falou que eu não trabalho. Eu disse que eu abria meu sigilo bancário. Você abre o seu sigilo, para você mostrar que você é honesto? Se você é íntegro e correto, abre o sigilo, Ricardo. Por que você não abre?”, disse Boulos.
Ele afirmou que Nunes não abre o sigilo porque “tem o que esconder” e insinuou haver “esquemas” na prefeitura em que ele estaria envolvido. “Eu digo abertamente que no seu governo tem escândalos, esquemas. A cidade de São Paulo infelizmente está nas mãos de esquemas, desde máfia das creches até crime organizado”, disse.

“Minha mãe me ensinou desde cedo que quem não deve não teme. Minha vida é um livro aberto, por que você esconde a sua? Quem não deve não teme. Quem deve teme. Por isso que você não abre o sigilo”, completou Boulos.

Num dos momentos de maior tensão, após Nunes insistir em associar Boulos a conivência com o crime, o deputado reagiu: “Concordo com o Ricardo que bandido tem que estar preso, não em debate”. Ele citou o caso da máfia das creches, cuja investigação pela Polícia Federal tem o prefeito entre os alvos. O prefeito pediu direito de resposta, que foi concedido.

A Folha de S. Paulo revelou em 2021 que ele e uma empresa de sua família, a Nikkey Serviços S/S Ltda, receberam, em 2018, valores de uma firma chamada Francisca Jacqueline Oliveira Braz, tida pela polícia como suspeita de ser uma fornecedora de notas no esquema de corrupção.

Antes, o emedebista tinha falado que “bandido tem que ficar preso, para dar sossego para o trabalhador” e dito que Boulos é “contra a polícia, a favor da bandidagem, e todas as ações e discursos [dele] sempre foram nesse sentido”.
“Por que ele sempre foi contra a Polícia Militar, por que sempre falou em desarmamento?”, questionou, após perguntar a Boulos sobre saidinha temporária de presos.

Este foi o quarto debate organizado no segundo turno. Nunes não compareceu a dois deles, o do Grupo Globo (O Globo, Valor e CBN) e do pool Folha/UOL/RedeTV!. O prefeito foi também ao da Band. O próximo será na sexta-feira (25), na TV Globo.

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