A pergunta que nenhuma autoridade policial do Brasil consegue responder parecia na ponta da língua: “Eu sei dessa história da Marielle toda irmão, sei quem mandou”.
Blefe ou não, a frase foi interceptada pela Polícia Federal dentro da investigação sobre a fraude em certificados de vacinação e, agora, as autoridades querem saber se o autor, o militar reformado Ailton Barros, sabe mesmo apontar o mandante do homicídio mais enigmático – e politicamente explorado – da história recente do país.
Com palavrão e tudo, Barros continuou: “Sei a p. toda. Entendeu?”.
O interlocutor era ninguém menos que Mauro Cid, ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Barros é do PL, partido de Bolsonaro e candidato a deputado estadual no Rio de Janeiro, em 2022.
Na conversa, às 15h24 de 30 de novembro de 2021, Barros conversa com Cid para, segundo a PF, organizar uma forma de fraudar, em solo fluminense, o sistema de vacinação do Ministério da Saúde.
O tema Marielle Franco entrou no debate porque o político que seria chamado para ajudar na empreitada, o vereador Marcelo Siciliano, já havia sido investigado por uma suposta participação no assassinato da colega de Câmara Municipal do Rio.
Como a linha de investigação contra Siciliano nunca foi adiante, ele se via, segundo os diálogos, com o nome sujo para conseguir um desejado visto para os Estados Unidos.
Os investigadores dizem que, “em contrapartida pelo êxito na inserção dos dados falsos”, Barros queria que Mauro Cid usasse seu poder junto ao então presidente Jair Bolsonaro para intermediar um encontro de Siciliano com o cônsul norte-americano.
Barros explica: “Quem resolveu? Este último amigo que eu te fiz o pedido dele aí para a embaixada, ele resolveu”.